Crónicas

COMO VEJO O FUTURO …

Cápsula Temporal
Texto para Blog ADENE – Agência para EnergiaComo vejo o futuro da energia?

A relação que tenho com a energia vem de longe.
Seria quase obvio relacioná-la com a vida nas corridas, mas não!
A minha primeira memória acaba por ser um momento que guardo bem nas mais longínquas recordações e que muito me tem ajudado a relativizar toda esta problemática actual em torno do futuro das energias…
Tinha talvez os meus 7 ou 8 anos e ouvia muito o meu Pai, engenheiro de profissão, conversar com os seus amigos. Numa dessas conversas, recordo-me, relatou as efusivas declarações que ouvira de peritos internacionais e onde estes lhe tinham afirmado serem as reservas de petróleo mundiais já escassas e que, porventura, dariam para somente mais 30 ou 40 anos!
Apesar da minha tenra idade, aqueles valores nunca me saíram da cabeça.
O que seria de nós daí a 40 anos?
Como ia o mundo viver sem gasolina!?
Como iria eu ser Piloto!?

40 anos passaram.
E…. Afinal o presente daquele futuro ditado nos anos 70 mais não estava do que verdadeiramente “Errado”.
Pelos vistos, hoje, fala-se em mais 40 anos… pelo menos!
Serve esta pequena história para mostrar um pouco como lido com a situação, quando me falam em “Futuro”.
Assusta-me ver muitos dos mais altos responsáveis da nossa sociedade dizer o que vai ser o “Nosso Tempo lá mais para a frente!”.
No passado, muitas dessas previsões acabaram por sair erradas.
Acho que devíamos, sinceramente, aprender com a história.

A mobilidade tem-se adaptado de uma forma gradual, neste último século, à nossa evolução e suas inerentes necessidades. Temos sempre encontrado formas, energéticas, de acompanhar esse desenvolvimento.
Fizemo-lo, por vezes mais criativos, por outras menos conscientes do impacto “pegada” futura.
Mas esse desenvolvimento acabou por ser sempre gradual e, como que peças de um puzzle, tudo sempre se foi encaixando melhor ou menos “melhor”, mas encaixando!

Vejamos o exemplo da motorização “Diesel”.
Apesar de ter sido idealizado há mais de um século, foi nos últimos cerca de 60 anos que este conceito começou a sua verdadeira grande “viagem” na integração de veículos comerciais.
Criticado por muitos, houve mesmo tentativa de alguns em classifica-lo como ….
Poluente e não eficaz energética ou potencialmente.

A história veio precisamente mostrar o contrario.
Porventura será, aos dias de hoje, a motorização mais estudada e desenvolvida que os nossos comuns “carros” do dia a dia alguma vez albergaram.
Potência versus gasto energético muito acima dos mais directos concorrentes (leia-se gasolina, gás, álcool ou eletricidade) e… para surpresa de muitos… com uma taxa poluente tão reduzida que os mais efusivos críticos terão dificuldade, honesta, em atacar.
Então, pergunto-me…
Porque será que quando estamos num patamar evolutivo tão evidente, aparece de forma abrupta uma radicalização e incriminação de tais fontes de mobilidade?

Acho que nenhum de nós colocará em questão que não iremos, nem poderemos, depender dos combustíveis fósseis eternamente.
Não só pela sua existência “finita”… julga-se!…. mas também porque a evolução e nossa presença terrena exigirá uma melhoria, ecologicamente falando, na forma como nos deslocamos.
Mas, quanto a mim, o problema está em nos quererem impor que essa evolução seja feita em tão curto espaço de tempo…
Abolir em tão poucos anos, como alguns pretendem, uma forma de mobilidade que tem vindo a ser desenvolvida há décadas, poderá trazer-nos custos bem maiores do que pensamos.
Porque não se trata somente de vermos a mobilidade versus poluição directa.
Trata-se também de contabilizar a mobilidade versus poluição indirecta versus custos efectivos versus abolição de futuros postos de trabalho versus efeitos sociais de uma tão abrupta e radical mudança de hábitos versus capacidade de resposta dos fornecedores de novos conceitos de mobilidade em colocar à disposição os seus serviços sem quebras do sistema versus… versus… versus…..!!!
Ou seja, não me parece tão linear assim que uma repentina mudança nos paradigmas quanto ao uso energético para a nossa mobilidade possam vir a ser tão efusivamente positivos como querem alguns “opinadores” e governantes fazer querer.
Julgo que devemos ser ambiciosos, mas devemos também saber ser prudentes quanto a algumas das decisões de política energética mundial.

Sempre que me deparo com um problema, gosto de “fechar os olhos” e tentar observar esse mesmo problema por diversos prismas. De certa forma criar opinião e contra-opinião sobre uma mesma ideia que possa ir desenvolvendo.

No caso específico das energias e sua utilização na futura mobilidade, gosto de sonhar… ver como nos iremos transportar daqui a 5,10,20 ou mesmo 100 anos.

E… surpreendo-me com esses sonhos!
Surpreendo-me porque não acho que a mudança seja aquela que tantas vezes penso e ouço falar enquanto acordado!

Desafiam-me a estar em 2040.
Vejo as motorizações de combustão interna continuarem a ter um papel preponderante na mobilidade… Sim… combustão interna!
Vejo essas mesmas motorizações optimizadas por novas formas de combustível, menos poluentes, quem sabe mesmo com emissões zero e acopladas por massivos e muito eficazes regeneradores das energias cinéticas resultantes da mobilidade dos veículos.
Continuo a ver potência…. Mas uma potencia alicerçada num desenvolvimento enorme das eficácias energéticas então existentes.
A par disso, vejo uma cada vez maior automatização da mobilidade, automatização essa que levará a um melhor e menor gasto da energia.
Vejo muito o Híbrido a evoluir… Gasolina & Eléctrico, Diesel & Hidrogénio, Bio.Fuel & Solar…. ou uma qualquer “Criptonite” que, entretanto, venhamos a descobrir!… Inventemos!
Vejo postos de abastecimento com Baterias portáteis…

“Por favor, dê-me uma bateria de 100Kw/h”!!!!

Enfim….

Acho que podemos e devemos sonhar.
Foi esse sonho que nos fez criar máquinas perfeitamente maravilhosas nestes pouco mais de 100 anos de evolução.
E… se 100 anos foi… na passada semana…
2040 será já amanhã!

Novembro 2021

GRANDE ORDEM … AO MÉRITO!

Nunca o Desporto Automóvel esteve tão em alta no que respeita à participação e promoção da Lusitânia no panorama internacional.
Somos Campeões do GT Open, Campeões Mundiais da Fórmula E, Campeões Mundiais e Europeus de Resistência LMP2, Vencedores LMP2 das 24H Le Mans e, mesmo “fresquinho”, Vencedores das 24H Daytona!
Tanto e tão destacado “levar” da Bandeira de Portugal pelos diversos “Palcos” mundiais fez com que mesmo as atenções dos mais distraídos se virassem para estes nossos “Heróis”.
António Félix da Costa e Filipe Albuquerque…. Os nossos compatriotas do momento.
A eles, que eram já verdadeiros “Conquistadores” dos “Asfaltos Internacionais”, que levaram o seu nome e o de Portugal a patamares verdadeiramente estratosféricos, só lhes faltava no seu recheado C.V. um título.
Porventura o menos sonhado por qualquer um deles, mas com toda a certeza o maior e mais distinto de todos.
O verdadeiro e alto reconhecimento da Nação. De todos nós Portugueses.
O Título de “Comendador”! Grande Ordem do Mérito!
E agora?
Que mais podem estes dois pilotos almejar para as suas carreiras?
Que título mais poderá superar este tão distinto reconhecer do seu Mérito!?

Sempre achei que uma carreira só é verdadeiramente bem-sucedida se essa ela própria for produtora de uma continuidade de sucesso… no tempo… através das gerações.
É isso que espero que o António e o Filipe possam fazer.
Passar os seus conhecimentos às novas gerações… criando novos e melhores campeões.
Há uns anos, muitos mesmo, li uma expressão de Leonardo DaVinci que não mais esqueci…
Aliás… tão forte que a transformei no meu “Modus Operandi” de vida!

“Fraco o Discípulo que não supera o seu Mestre!”

É por isso que me dá uma especial alegria ver estes dois “Talentos”, que a “CJT-Couceiro Junior Team” viu nascer, estarem no “Topo do Mundo” e terem usado e mesmo superado tudo o que a estrutura que em 1997 lancei com o meu irmão Nuno lhes colocou ao dispor.

Custa-me muito ver o “fosso” que já está criado para o futuro.
Depois do Álvaro Parente, Filipe ou António há um quase vazio de continuidade estruturada.
Serão, pelo menos, 10 anos que teremos de “Vazio” quando terminarem as suas carreiras.
Isto, se não aparecer um Dom Sebastião que nos faça acreditar no “impossível”!

Mas… como estamos em maré alta, vamos disfrutar deste momento e sonhar com o “Retorno” à normalidade.

Mérito em Portugal… esse existe muito.
Um abraço e até breve.
Pedro

WebSite quintaafundo.com 18 de Fevereiro de 2021

ORGULHO NACIONAL

Este ano de 2020, que tanto tudo viu “baralhar-se” logo desde Março, vai terminar com algo que me deixa profundamente feliz e com grande optimismo relativamente ao que podemos esperar de 2021.

A família nacional dos “Desportos Motorizados” não poderia ter pedido uma temporada com maior e melhor exposição do que aquela que agora vemos terminar.
Para mim foi o confirmar de algo que venho a afirmar há muitos anos e que, com orgulho, digo cada vez mais a “Alto e Bom Som”.
Não contabilizemos o Futebol…
Ponhamos por instantes essa paixão quase unanimemente abraçada por todos nós e… podemos dizer sem hesitação:
Os Desportos Motorizados são o maior embaixador desportivo além-fronteiras do nosso Portugal!!!
E se, ao primeiro instante, alguns poderão ver como exagerado ou mesmo descabido tamanho comentário, julgo que facilmente virão a concordar comigo quando começamos a “tirar” todo o “sumo” que há por “espremer”.

Vejamos, sei que falo em causa própria. Bem sei também que pode ser visto como “vaidade” afirmar que faço parte de uma geração que nos últimos 30/35 anos fez trazer este “Barco” até aqui… Mas…. Das muitas coisas que a vida me foi ensinado é que mais vale ser…
“ Vaidoso que falso modesto”!
Chegamos à verdadeira realidade…. Corre ainda o ano de 2020…. E pergunto a todos nós?
Que modalidade desportiva tem trazido para o nosso país tantos resultados de relevo?
Não falo, assinalo, nem nunca abordarei o caso a título individual.
Temos, felizmente, muitos e excelentes atletas em áreas tão diversas que vão desde o Ténis ao Judo, da Vela ao Remo, do Ciclismo ao Atletismo….
Temos… e acho que vamos continuar a ter.
Sei do que falo, porquanto estou envolvido numa associação de apoio a jovens de mérito, Meritis, e onde constato ciclicamente o evoluir de grandes talentos nas mais diversas áreas.

Mas, foquemos atenções! Modalidade no seu todo… Modalidade Embaixadora!

Temos no topo os Desportos Motorizados…. Ponto Final!
O António, o Filipe e o Miguel foram as grandes estrelas desta temporada.
Com eles, trouxemos para o nosso país o Mundial de Formula E, a vitória nas 24h de LeMans, o Mundial e Europeu Endurance LMP2 ou as históricas vitórias no MotoGP.
Mas tivemos mais… A dupla Miguel Ramos/Henrique Chaves conquistou o tão competitivo e reconhecido Open Europeu GT…. e… muitos outros Portugueses continuam a alcançar resultados de relevo internacionalmente…Enfim…

A geração que começou com Pedro Matos Chaves, Pedro Lamy ou Tiago Monteiro fez este trabalho notável….
Levar um país que sem “nome” no desporto motorizado internacional, seja aos dias de hoje um dos “grandes” e mais reconhecido pelas suas capacidades.

E é por estas razões que julgo devermos estar, como nunca, mais unidos e a uma só voz mostrar a todos quantos possam andar “distraídos!” a importância que o “nosso” desporto e seus representantes têm actualmente no panorama promocional além-fronteiras do nosso País.
Penso que estamos na altura certa para mostrar à comunidade em geral que o Desporto Motorizado é um dos grandes Embaixadores do nosso País por esse mundo fora. Isso poderá trazer-nos um “abrir de portas” inquestionável, mas também nos fará ter de assumir responsabilidades que porventura podemos não as ter tido até agora.
Falo essencialmente em “Profissionalismo” …. Mas sobre este ponto gostaria de um dia vir até vós para o debater especificamente!
Temos um ponto que me deixa muito preocupado, no entanto.
Não para amanhã, para a semana, ou mesmo para os próximos poucos anos.
Futuro “à la Long”!!!!

Após o Filipe ou o António, e outros da sua geração que entretanto não tiveram as “estrelinhas” alinhadas na altura certa, abre-se um vazio.
Portugal deixou de “produzir” jovens campeões para emigrar.
Porquê?… Serão muitas e diversas as opiniões e as constatações, mas a realidade é que dificilmente poderemos vislumbrar ter nos próximos 5 a 10 anos pilotos a seguir os passos que anteriormente foram dados…. E já lá vai mais de uma década desde que esse “filão” deixou de fluir com normalidade.
Mesmo que o “rio” volte a correr… e vai com certeza…estamos com um “fosso” de uma década.
Temos de agir… repensar… e actuar… sob pena de voltarmos a ser um parente pobre do desporto nacional, como o fomos durante tantos anos.
Mas sou optimista… e por isso acredito que esta “lufada de ar” deste ano, conjuntamente com a “nossa voz” poderá mudar o caminho.
Veremos.
Eu cá estarei para “puxar” pelo que julgo ser o melhor para nós.

Um abraço, Boas Festas e até 2021.

Pedro

WebSite quintaafundo.com 28 de Dezembro de 2020

O NOSSO ADN

Conheço o Nuno Costa desde que me lembro de “correr” de automóveis.
Talvez por isso tenha sido fácil aceitar o seu desafio/convite para deixar aqui, e de vez em quando, umas linhas “opinativas”.
Aqui estou e estarei com muito gosto.

Ao longo dos últimos 30 anos, sensivelmente desde o inicio da minha aventura a nível internacional, tenho sido abordado para dar a minha opinião sobre as mais variadas matérias.
E se no principio me abordavam ou entrevistavam para falar sobre as minhas corridas… rapidamente passei a ser questionado sobre outras corridas… outros campeonatos… outros pilotos.
O mediatismo que entretanto a minha carreira alcançou acabou por fazer com que a abordagem tenha começado para falar também de outros temas… os quais fui, quase sempre, rejeitando.
É que se, em alguns, poderia estar mais ou menos por dentro da matéria, outros houve que tudo me “passava” literalmente ao lado.
Tentei perceber, no entanto, porque era eu confrontado com temas tão dispares como, a “Escolha da equipa do Selecionador Nacional de Futebol”, ou a “Estratégia politica do ensino em Portugal”.
E… sinceramente… ainda hoje continuo a pensar que é um problema de ADN!
Nós, em Portugal, gostamos de falar sobre tudo, com acentuado tom critico e, sobretudo, com o tom coloquial da sabedoria “impar” sobre as questões.

Gostava de vos deixar uma curta passagem de um texto que escrevi há já uns anos …. Ironicamente era já este tema.

“…
Depois, ao invés de fazermos essa tal auto-análise, deliciamos-nos a analisar os outros… a opinar sobre os outros… a criticar os outros.
Existe um “veiculo” que, aos dias de hoje, demonstra exemplarmente esta nossa cultura quase ‘milenar’!…
Os “Media”…
Muitos OCS (Órgãos de Comunicação Social) são na actualidade autênticos propagadores desta nossa forma de estar, potenciando-a até à exaustão e levando a que a nossa sociedade, na minha opinião!!!, se degrade cada vez mais.
Fico perplexo quando vejo estes mesmos OCS promoverem a continuidade deste nosso “ADN”, sem bases e muitas vezes até sem um mínimo de ética, dando ‘voz’ a quem nada deveria ter para dizer!
Chegámos ao ridículo ponto de ter ‘opinadores’ sobre tudo… mas quase não termos ‘fazedores’ de coisa alguma.
São ‘Advogados’ a falar sobre inflação e economia
‘Economistas’ a falar de saúde pública.
São ‘Médicos’ a opinar sobre a privatização da TAP
e ‘Engenheiros’ a explicar qual a melhor contratação desportiva….
Enfim…
Paro… tento contrariar esta linha “des-evolutiva”!

…“

Serve tudo isto para vos deixar aqui o meu sincero manifesto de felicidade em poder “vir” com as minhas palavras e opiniões até vós….
Gostaria de poder ciclicamente interagir com todos… e também com todos poder trocar ideias sobre o desporto que nos une.
E gostaria também que fossem todos vocês os primeiros a criticar-me quando, porventura, possam achar que estou a entrar em “terrenos” desconhecidos.

Sempre gostei do confronto… seja ele em pista ou nas palavras.
Deixo-vos um abraço sincero.
Até breve.
Pedro

WebSite quintaafundo.com 9 de Setembro de 2020

O LEGADO DE DOM AFONSO!

Uma das coisas que tento fazer nos últimos anos, quase como que exercício didático-mental!… é o de analisar todo e qualquer assunto de um ponto exterior ao meu “prisma” inicial.

Tentar eu próprio criar não o meu, mas alguns “meus” pontos de vista sobre determinado assunto tem feito com que a minha percepção das coisas seja, no final, claramente diferente do que inicialmente imaginava ou para mim seria óbvio.
Ao longo destes anos, esta maior atenção sobre ‘as coisas’ fez-me reparar o quão pouco auto-críticos somos sobre quase todas as nossas acções de vivência na comunidade.
Sublinho este ‘Somos’ porque pretendo, também aqui, fazer o esforço… o tal exercício didático-mental!

Esta falta de auto-crítica tem-nos levado para um caminho estranho, que é o da não percepção do erro em tempo certo ou mesmo em tempo algum!
Bem poderíamos dizer que o ‘erro’ faz parte da aprendizagem… o que não deixa de ser uma eterna verdade, no entanto é necessário assumi-lo, o que não é fácil com este nosso sangue ‘latino’.

Depois, ao invés de fazermos essa tal auto-análise, deliciamo-nos a analisar os outros… a opinar sobre os outros… a criticar os outros.
Existe um “veiculo” que, aos dias de hoje, demonstra exemplarmente esta nossa cultura quase ‘milenar’!…
Os “Media”…
Muitos OCS (Órgãos de Comunicação Social) são na actualidade autênticos propagadores desta nossa forma de estar, potenciando-a até à exaustão e levando a que a nossa sociedade, na minha opinião!!!, se degrade cada vez mais.
Fico perplexo quando vejo estes mesmos OCS promoverem a continuidade deste nosso “ADN”, sem bases e muitas vezes até sem um mínimo de ética, dando ‘voz’ a quem nada deveria ter para dizer!

Chegámos ao ridículo ponto de ter ‘opinadores’ sobre tudo… mas quase não termos ‘fazedores’ de coisa alguma.
São ‘Advogados’ a falar sobre inflação e economia
‘Economistas’ a falar de saúde pública.
São ‘Médicos’ a opinar sobre a privatização da TAP
e ‘Engenheiros’ a explicar qual a melhor contratação desportiva….

Enfim…

Paro… tento contrariar esta linha “des-evolutiva”!
Lembro-me do dia em que o meu Pai me disse:

“Ninguém melhor que Camões explicou os feitos e bravuras dos Portugueses, e também como ninguém a nossa cultura….”

Nunca li “Os Lusíadas”…. À excepção de pequenos trechos!….
Mas, literalmente, a “última palavra” usada naquela que se diz ser a nossa maior referencia cultural deveria fazer-nos, no mínimo, pensar um pouco!

Terá sido esse um dos legados de Dom Afonso Henriques?….
Estamos sempre a tempo de a combater!
Um abraço.
Pedro

P.S. – que me desculpem os mais rigorosos, mas há palavras que continuo a escrever como aprendi!


Blog NCultura – 07 de Março de 2016

ESTÁ A CULTURA NAS MÃOS ERRADAS?

Quando fui abordado pelo NCultura questionando o meu interesse e disponibilidade para estar aqui, como agora estou, fiquei dividido se deveria avançar e entrar nesse “Mundo” tão abstrato.
O termo “Cultura” sempre me deixou relativamente intrigado.
Aliás, não só “Cultura”… essencialmente o termo “Arte”!
Se quisermos fazer uma pequena análise do comportamento social-nacional aos dias de hoje, rapidamente chegamos à conclusão que se instaurou uma vaga, pseudo-elitista, que elege somente alguns a “Seres da Cultura”… muitas vezes sem olhar às qualidades profissionais ou intelectuais… mas tão somente porque sim!
Quando estamos cada vez mais a caminho de uma “Cultura Google”… fui procurar o que entende precisamente o “Google” sobre CULTURA. Fiquei surpreso ao ver que é precisamente aquilo que sempre achei que era e que.
…“todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”…
Ou seja… todos nós, os tais membros da sociedade, somos portadores de uma “Cultura”!

E foi por isso mesmo que aceitei… pois acredito que cada um de nós tem sempre algo especial para contar, histórias ou estórias que poderão interessar a muitos ou somente a “um”…. Mas que ao passarem de “mão em mão” perpetuarão feitos ou simples visões de alguém!
Há uns anos tive uma discussão (leia-se conversa animada) com um amigo que me fez ver algumas coisas de forma muito diferente…
Uma em especial… A Arte! Desde esse dia… este termo completamente se desmistificou para mim.

Muitas vezes somos levados a pensar que alguém que esteja ligado ao mundo das artes, automaticamente entra para o restrito mundo dos “Homens da Cultura”.
Para mim não…. Arte é essencialmente fazer Bem Feito!

E é por isso que muitas vezes digo:
“Arte…. Arte não é só pegar num pincel ou tocar uns acordes ao piano… Arte é também uma volta de qualificação do Ayrton Senna no circuito do Mónaco ou um daqueles passes mágicos do Maradona”!
Por tudo isto, e mais algumas coisas!, vou estar aqui!
Tentarei estar convosco mensalmente para deixar umas “Linhas” e, principalmente, contribuir para a divulgação de histórias…ou de opiniões.

Acredito que, isso sim, deverá ser a nossa Cultura…
Passarmos “em frente” o que nos vai na alma, sempre com respeito por quem está ao nosso lado mas essencialmente sem medo de confrontar a mudança.
Um abraço.


Blog NCultura – 28 de Janeiro de 2016

RING RING DO TELEFONE

Afinal o que é um dia?… Nada!

O ano passado já lá vai, mas ainda continuo a relembrar e a guardar na memória alguns dos meus melhores momentos de 2014.

De facto, a velha máxima, “Ano novo Vida nova” sempre causou em mim um efeito como que o de uma “Varinha Mágica”, não para tudo reduzir a um “Fino Puré”, mas mais para me fazer acreditar que: “O que vem para a frente será sempre melhor”.

Dos inúmeros momentos vividos, experiências passadas e objectivos conseguidos, um houve que deixou, deixará, para sempre a sua marca.

A velha máxima de que… Burro velho não aprende línguas… Caiu para mim por terra quando fui completamente enganado pelo meu total excesso de confiança!
Bem sei que o coração nos trai muitas vezes…. Quase sempre…. OK… Sempre!… Mas daí ao ponto de derrotar o meu “Mau Feitio” pensei ir ainda um grande passo, algo que me provei estar completamente enganado.

Explico: sempre fui, e ainda sou, um grande “confuso” com aquelas pessoas que nunca atendem os telefones. Fico literalmente “louco” com a quantidade de gente que não os atende por “nada” deste mundo.

Uma vez… é normal….
Duas… Três… Dá-se o benefício da dúvida.
Mas depois há aquelas pessoas em que o atender a nossa chamada é como que um “Eclipse Lunar” em noite de verão! Ora aqui é que a minha “loucura” ficou confusa, ou melhor, a minha “confusão” ficou louca.

Quanto mais convencido vou ficando sobre o meu conhecimento da vida, mais vou notando o quanto “Ela” me surpreende e que sempre algo especial e inesperado tem para nos presentear, presente que nos faz fazer mudar de atitude e mesmo rir das ironias do nosso destino. No início de 2014 apaixonei-me…

Em pouco tempo percebi que tinha há minha frente “Aquela” que sempre tinha querido encontrar…

Mas… que tem a haver esta minha conversa dos telefonemas e das paixões?

Para mim muito…. Talvez uma das grandes lições dos meus últimos anos!

A minha “Apaixonada” é uma forte não atendedora de telefones… Um “Ring-Ring” quase infinito que era capaz de deixar o mais paciente dos pacientes… completamente fora de si! Foi, assim, em jeito de balanço parti para uma exaustiva “Análise Matemática e Factual” da nossa relação “telefoniana”, chegando a uma conclusão verdadeiramente surpreendente!

Durante o passado ano estive um dia inteiro, leia-se vinte e quatro horas, 1440 minutos ou antes 86 mil e quatrocentos segundos a ouvir o tal ” Ring-Ring”… Numa total e devastadora solidão!…

Dedução fácil quando quatro em cada cinco das minhas “Incursões Telefónicas Diárias” não são bem-sucedidas!
Um dia a ouvir o telefone tocar….!!! Um dia!!!!…

Mas… Afinal o que significa um dia quando do outro lado sempre sabemos que nos irá responder a nossa “SuperWoman”?…. Nada!


Blog SupaWoman – 27 de Janeiro de 2015

BOAVISTA

Realiza-se nos próximos dias aquele que é, porventura, o mais importante evento de competição automóvel disputado no nosso País. De facto, não são todos os dias que temos a possibilidade de ter entre nós uma prova de cariz mundial como é o WTCC, com todos os atributos inerentes à “caravana” que o acompanha:
Pilotos, Equipas, Meios Técnicos e… essencialmente… uma visibilidade impar em termos internacionais.
Depois do trabalho extraordinário, que gostaria de realçar, efectuado pelo actual Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Rio, julgo que deveria tratar-se com “Pezinhos de Lã” o legado que agora deixa à cidade, com a inscrição regular nos calendários internacionais de um acontecimento desta “categoria”. Sinceramente, assusta-me a forma “inovadora” e o rumo que começa a querer dar-se a este evento (e que pode mesmo chegar ao ponto da sua não realização no futuro). Passo a explicar-me:
Como recordo, desde os já “longínquos” G.P. de Fórmula 1 em meados dos anos 80, todas as grandes provas têm a acompanhá-las as chamadas “Corrida Suporte” que, várias vezes, são tão ou mais disputadas que as do evento principal e, servem também, como que para “Aquecer” o público para o “Grande” e “Esperado” momento do dia.
Sempre foi assim, é e… salvo alguma mudança “criativa abismal” … vai continuar a ser.
Mas, como em quase tudo, já quase tudo foi inventado, melhorado e, caso não queiramos falhar, somente deveremos copiar e, no limite, tentar melhorar… singelamente!
Não me parece ser o caso específico com o que se está a passar na construção do evento dos próximos dias 28,29 e 30 de Junho.
Refiro-me essencialmente ao número de corridas de apoio que estão agendadas e, consequente, à construção de complicadíssimos horários que a elevada quantidade de provas nestes dias irá obrigar.
Infelizmente, e apesar do árduo trabalho levado a cabo pela FPAK, pela PortoLazer e pelos Promotores, estou em crer que, o MCE terá nas mãos uma “batata” muito quente e que nem mesmo depois de um excelente trabalho, que sempre se pautou por realizar, conseguirá resolver os inúmeros problemas com que todos nos iremos deparar.
Bem sei que este é o fim-de-semana mais esperado por equipas e pilotos ao longo de todo o ano mas, tenhamos um pouco de “profissionalismo” e analisemos, de novo, o que acontece nos grandes eventos. Em qualquer uma dessas grandes manifestações desportivas veremos que temos entre três a quatro “Provas” de “Aquecimento”.
Vejamos:
F1 – tem a GP2, GP3, Porsche Supercup e mais uma ou duas que poderão ser de campeonatos locais;
DTM – tem a F3 Europeia, o Troféu VW Sciroco e, de novo, mais uma ou duas que poderão ser de campeonatos locais;
Mas, avancemos para outros campeonatos.
Os Campeonatos Internacionais GT, ou, quanto a mim, uma das mais profissionais manifestações desportivas do momento: Os eventos WorldSeries levados a cabo pela Renault. Em todos eles analisemos quantas provas de “suporte” concorrem nos mesmos horários.
E… já agora vejamos como contraste o que se vai passar na Boavista.
9… Sim… 9 corridas suporte…
Tudo isto leva a horários que, veremos, serão praticamente inviáveis… mais ainda quando estamos a falar de um circuito citadino, com tempos entre corridas de… 10 minutos! E… com categorias onde, muitos dos intervenientes tiram os seus carros das garagens simplesmente para correr nestas datas (com as consequências desportivas evidentes)…
Uma verdadeira “Bomba” que, repito, nem com a maior das boas vontades de todos os intervenientes se deverá vir a evitar.
Acreditem…Espero estar errado!…

Um abraço,
Nuno Couceiro

Nuno Couceiro – Crónica Autosport de 26 Junho 2013

PELOUROS

A ideia para o texto que hoje aqui vos deixo surgiu-me há poucos dias quando vi na televisão a entrevista/comentário de mais um “opinador” público português.
De facto, nos últimos anos, criou-se a moda de, por alguém ter notoriedade e se ter salientado numa área específica, passar a ser um “opinion leader” e… posteriormente falar sobre tudo e mais alguma coisa como se de um “expert” se tratasse.
Chegámos ao ridículo de ter cineastas, médicos, advogados ou políticos a falar sobre futebol, como se durante toda a sua vida tivessem estado dentro das “quatro linhas”.
Caímos no absurdo de ver alguns desses “opinadores” falar sobre áreas que até há poucos meses desconheciam a sua existência.
Não é de admirar, pois, que este mal se tenha generalizado pelo povo em geral e hoje tenhamos uma grande e importante parte da população a falar sobre o PIB, inflação ou taxas de juro com um aparente conhecimento económico ao nível dos mais conceituados professores de Harvard.
Pois bem… infelizmente este mal enraizou-se também na nossa forma de actuar e ver o desporto automóvel em Portugal.
De facto, a miscelânea de competências que paira sobre o nosso automobilismo poderá não estar a “matá-lo”, mas está garantidamente a “estrangulá-lo” a um nível que o deixa, muitas vezes, moribundo.
Quanto a mim, os quatro intervenientes chave em todo este processo (federação, clubes organizadores, promotores e praticantes) deverão trabalhar em conjunto e num só sentido, mas sempre com a ideia chave em mente de que:

Federação – Legisla e Supervisiona
Clubes – Organizam
Promotores – Promovem
Praticantes – Guiam!

Temos, então, o começo do grande problema, pois vamos vendo que até aqui são variadíssimos os conflitos de interesse e autoridade que fazem com que os principais prejudicados sejam os que mais deviam ser ajudados em todo este processo: os praticantes.
Bem sei que estes últimos também deverão ser mais participativos em algumas áreas e principalmente em algumas fases decisórias, mas… que culpa têm os pilotos em ver os clubes, os promotores e a federação em constantes guerras e confusões?
Quando no ano 2000 promovi e pertenci à união dos vários promotores das provas de velocidade em Portugal, a BOOST, percebi que não iríamos ter uma tarefa fácil.
Apesar dos bons momentos que os nossos eventos conseguiram, sei também que muito mais poderia ter sido feito… E porque é que não foi feito?…
Sou, por norma, bastante auto-critico e por conseguinte sei que existiriam pontos a melhorar na promoção, leia-se estruturação, dos nossos eventos, mas não serei desonesto ao achar que tivemos, por variadíssimas vezes, problemas de constante intromissão na nossa área… seja na orgânica ou regulamentar dos campeonatos, seja no procedimento organizativo e promocional das provas.
Agora que a nossa Federação irá ter uma nova direcção é tempo de mudar este tipo de política e, de uma vez por todas, deixar cada um trabalhar nos pelouros que realmente percebe.
Tenho a certeza que qualquer um dos intervenientes “a jogo” tem esta visão dos acontecimentos e por isso estou ansioso por ver acontecer um “reset” à “máquina” e tudo a funcionar novamente no bom caminho.

Um abraço,
Nuno Couceiro

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 22 Maio 2013

VELOCIDADE NOS RALIS

Sempre que a jornada do mundial de ralis regressa ao nosso País que me renovo esta questão: “Porque não existe uma ‘Taskforce’ portuguesa nos ralis internacionais com o mesmo nível do da velocidade?”
Desde que a memória me permite, recordo ser esta a grande modalidade nacional do desporto motorizado, muito contribuindo para isso o Rali de Portugal e o Rali da Madeira, verdadeiras referências mundiais da especialidade e que, pela sua enorme projecção nacional e internacional, possibilitaram sempre aos participantes portugueses uma visibilidade impar.
Tais “empurrões”, no entanto, nunca pareceram suficientes para termos um nível competitivo que permitisse aos “nossos” pilotos evoluir de uma forma consistente para uma carreira internacional e, com isso, equipararem-se ao que os colegas da “velocidade” nos têm dado.
Uma “Legião Estrangeira” digna de registo.
E foi depois de fazer uma pequena viagem pelos últimos 10/15 anos da modalidade que acabei por cimentar uma opinião que há muito me vinha fazendo pensar.
Em Portugal os pilotos de Ralis estão voltados para “dentro” e raramente têm grandes objectivos de carreira.
OK… ‘objectivos’ poderá não ser bem o caso… pois isso, quero acreditar, todos os terão. Será, porventura, mais uma questão de estruturação e desenvolvimento de objectivos.
Há dois pontos que me saltam, também, à memória: Regulamentos e Comodismo dos Pilotos.
Regulamentos:
Nunca compreendi como num país com tão poucos recursos nos deixámos permitir, durante tantos anos, ter campeonatos nacionais com o que de melhor havia a nível mundial, WRC’s ou classes de valores tão elevados. Acho que se mataram algumas gerações, semelhantes ao que paralelamente a Fórmula Ford nos deu, por simplesmente se quererem colocar ‘Fórmulas 1’ e ‘Fórmulas 3000’ nos troços nacionais. Foi muito bonito termos visto as “bombas” que tivemos durante anos… mas para quê? Para termos 1, 2 ou 3 carros e depois os outros?…
Não acho que se devam transformar os campeonatos nacionais em troféus de carros de baixa cilindrada ou qualquer coisa do tipo, mas criar um maior nivelamento mesmo se com recurso a uma clara redução de classes.
Comodismo dos Pilotos:
Quase não tenho visto em Portugal pilotos que tenham querido subir pelos diversos degraus do automobilismo (Ralis) internacional. Ir para troféus monomarca noutros países e em função dos resultados tentar a sua sorte no Mundial. Todos sabemos que pilotos como “Loeb” não começaram as suas carreiras internacionais ao volante de WRC! O Pedro Lamy, quando foi campeão nacional de Fórmula Ford em 1989 não quis ir directamente para o Mundial de Fórmula 1 ou para o Campeonato Internacional de F3000!
Durante anos tivemos muitos e bons praticantes cujo grande objectivo não pareceu ser o de construir uma carreira sólida e com futuro. Durante anos tivemos, isso sim, muitos pilotos que quiseram passar do ‘3º ano do Liceu’ directamente para o ‘4º da Faculdade’.
Tantos e tantos somente pareceram ter nas suas mentes o ser, ou vir a ser, nacionalmente oficias de uma Renault, de uma Peugeot ou de uma Mitsubishi, sem terem de se preocupar com patrocinadores e assim terem um futuro garantido a curto ou médio prazo, mas… e depois?
Acho que a estruturação de carreiras dos colegas da ‘Velocidade’, nestes últimos 25 anos, deveria ter sido um bom ‘aconselhamento’ para todos, especialmente nos Ralis.
Não quero que fique a ideia, longe disso mesmo, do meu menosprezo pelos praticantes de Ralis, mas sinceramente gostava de num futuro pouco distante não me ficar somente por ver se o melhor Português ficou em 10º ou 20º no Rali de Portugal, mas sim celebrar as vitórias em provas, como o FIA Academy, ou troféus monomarca por esta Europa fora: Citroen, Peugeot, etc…

Um abraço,
Nuno Couceiro

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 17 de Abril de 2013

CAMARADAGEM

Quando aqui vos deixei “A minha Opinião” de Fevereiro último em que falei do “Nascimento” da então Categoria Primavera no Karting Português, acabei também, por falta de espaço, por não relatar outro dos pontos importantes que quanto a mim apoiou o grande “Boom” do desporto automóvel nacional.
De facto, se o final dos anos 70 e início dos anos 80 ficou marcado por uma abertura geral ao mundo exterior, foi também uma grande entreajuda entre os mais diversos intervenientes à época que possibilitou o abrir de novos horizontes que até então pareciam simplesmente não existir para nós.
A falta de meios técnicos, financeiros e inclusive de conhecimento (convém relembrar que estávamos no pós 25 de Abril, com todas as implicações que tínhamos tido até e depois dessa data), obrigou a que o “Amadorismo” fosse levado à prática de uma forma muito “Profissional” possibilitando o ultrapassar de muitos dos obstáculos com que nos deparávamos!
Havia um verdadeiro “Amor” ao que se fazia… uma verdadeira “Vontade” de evoluir.
Mas houve também a noção que necessitávamos de nos apoiar mutuamente, e esse, quanto a mim, foi o grande “Balão de oxigénio” que tivemos no início dos anos 80.
Foi uma altura em que as rivalidades ficavam somente nas pistas e em que, através de uma relação de confiança e até amizade entre os praticantes, se conseguiram ultrapassar algumas barreiras num espaço de tempo que poderei dizer “Record”.
Pessoalmente criei muitas e boas amizades nestes anos em que comecei a competir e, creio, essa “Camaradagem” que existia na altura possibilitou o empurrar de mais do que uma geração para o estrelato.
Não quero aqui parecer um “Saudosista”, pois sei bem por experiência própria que a alta competição vem, cada vez mais, exigir um distanciamento entre as relações profissionais e pessoais.
Mas estou também em crer que o “Bota-a-Baixo” cada vez mais constante entre nós não nos levará a parte alguma.
Estou convicto que se conseguimos colocar tantos e tão bons pilotos a competir além fronteiras, isso se deveu a bem mais do que ao esforço financeiro nacional (que então pôde existir!).
E é quando vejo os tempos difíceis pelos quais passam actualmente as equipas, os pilotos ou os investidores em geral, que me recordo dos anos que tivemos de trilhar um “Caminho das Pedras” profundamente desconhecido apoiando-nos mutuamente.
Para os futuros… esse “Caminho” já foi em parte trilhado… mas não deixará de ser tão complicado ou mais do que o foi para nós.
Por isso, volto a acreditar que a célebre máxima da “União”… se aplica agora, de novo, na perfeição.
E no final…. Ainda nos restará o consolo de contar com alguns bons amigos com quem daqui a uns anos poderemos “Recordar” boas estórias e mesmo continuar a discutir umas travagens nuns karts de aluguer.
Eu que o diga, pois permaneço a ter os meus amigos de sempre (Pedro Matos Chaves, Paulo Santos, Alexandre Almeida, Paulo Longo, Paulo Moura e tantos outros) a querer discutir a vitória nos encontros dos “Velhos”!
E por falar em “Velhos”… parece que os “Putos” (Gião, o meu irmão Pedro, Tito Bastos, entre outros) se estão a reunir para comemorar os 30 anos da Categoria Primavera.
Nós que os ensinámos a guiar lá estaremos para mais uma vez lhes darmos boas dicas: não mais sobre condução, mas como saber desfrutar de uma boa almoçarada com antigos rivais.

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 27 de Março de 2013

OPINIÃO F1 2013 – AUTOSPORT

Apesar de não ter seguido atentamente a pré-época do mundial de F1, acedi com muito gosto ao convite que o AS me dirigiu para aqui deixar uma curta opinião sobre a temporada que agora tem início.
Todos quantos vão seguindo a classe rainha do desporto motorizado mundial sabem que quem rege os seus destinos tem tentado, nestes últimos anos, uma maior uniformização de andamentos, muito apoiada em ajustamentos regulamentares.
A verdade é que essas constantes alterações têm feito a F1 chegar a um ponto de competitividade que, acho, nunca no passado foi atingido.
Bem sei que para os mais conservadores, nos quais em parte também me insiro, este facto foi alcançado muito à custa de alguma descaracterização da categoria, mas esse facto não tira à prova a competitividade que há muito se pedia.
Vejamos:
Acho que nunca como agora se viram tantos pilotos lutar pela vitória (ou pelos lugares do pódio) ou mesmo tivemos uma incógnita tão grande quanto à composição das grelhas de partida.
Sou eu menos suspeito em dizer isto porque, quanto mim, os anos dourados da F1 continuam a ser um pouco como a Rádio M80! … anos 70, 80 e 90….!
No entanto, convenhamos que se regressarmos a esses anos, facilmente vemos os campeonatos dominados por uma ou duas equipas e os vários lugares na grelha serem separados não por milésimos nem por centésimos, mas ante por décimos ou mesmo segundos.
Ao invés, grande parte da temporada de 2012 tivemos quatro a cinco pilotos a discutir o título de campeão, oito vencedores diferentes e “Top Ten’s” das grelhas de partida definidos por míseras décimas de segundo.
Não creio que esta realidade seja muito alterada agora em 2013, mas se tivesse que apostar em como vai ser o campeonato… simplesmente não o faria.
De facto, apesar das 11 equipas em pista (depois da saída da HRT), julgo que a competição vai ser de novo muito renhida e que as mudanças de pilotos ocorridas irão trazer algumas variáveis bem interessantes a jogo.
Se a RedBull parte como grande favorita, depois de três títulos consecutivos com S.Vettel, não é menos verdade que tanto Alonso e a Ferrari, como a McLaren com Button continuarão a ser os grandes opositores do Team Austríaco. Digo-o porque não vejo, por uma razão ou por outra, nem Massa nem Perez, como possíveis candidatos ao título.
Mas, para mim, o grande motivo de “suspense” poderá ser a Mercedes.
Sou, confesso, um admirador de Hamilton e das suas capacidades, mas sei que terá um desafio como nunca enfrentou desde o seu ingresso na F1 em 2007, para além do fortíssimo companheiro (Rosberg) que o irá colocar sempre sobre pressão. Acredito, apesar de tudo, que poderá vir a ser uma boa surpresa esta mudança de “ares” do piloto Inglês.
Vai ser muito interessante, também, acompanhar o chamado “meio do pelotão”, cada vez menos “meio” e mais “frente”. A Lotus e a Williams deram um ar da sua graça no ano passado e acredito que possam vir de novo a baralhar algumas contas.

Alguns pontos que vou ter interesse também em acompanhar, serão as novas mexidas nos regulamentos e especialmente as novas restrições no uso de DRS em qualificação bem como regresso de borrachas que em muito poderão fazer recordar os “Pneus de Qualificação” dos anos 80.
E por falar em qualificação, parece que aquele “golpes de teatro” de alguns pilotos ficarem sem gasolina para regressar às “Boxes” têm os dias contados. Se isso vai trazer novidades, não acredito, mas é mais uma variável a complicar o já tão “afiado fio da navalha”.
Assim sendo… só nos resta que os “dados” sejam lançados e…. em final de Novembro cá estarei para vos dar o meu prognóstico para esta época….!!!
Por agora… Não arrisco!

13 Março 2013

HAJA PRIMAVERA

Faz esta semana 30 anos que, quanto a mim, o desporto motorizado português teve um dos seus mais fantásticos momentos.
Pelas mãos do ACP e, muito especialmente, por um apaixonado e dedicado homem, nascia aquela que foi (e ainda é!) a responsável pelo enorme salto que Portugal conseguiu nos mais variados palcos internacionais.
Quando o Dr. Augusto Martins lançou e promoveu uma até então inexistente categoria júnior no karting português, estava também a lançar as bases para o êxito do automobilismo nacional e, especialmente, a criar uma escola de continuidade e formação para os muitos jovens, que até essa altura, só tinham podido começar a competir a partir dos 15 anos de idade.
Era o que acontecia quando me iniciei em 1980 e onde na minha primeira prova começava também um miúdo… de nome Pedro Chaves!… que tinha estado como que proibido de competir durante os anos anteriores.
Felizmente que esta abertura proporcionou a muitas crianças o começarem a competir directamente, como os benefícios daí inerentes e, literalmente, chegarem aos 15 anos com uma rodagem só possível pelos já craques e maduros pilotos da altura.
A mudança que isso trouxe foi notável e talvez por essa mesma razão lhe tenham dado inicialmente o nome de “Categoria Primavera”.
Ao fim de muitos poucos anos de existência era já possível ver os primeiros “campeões”, que esta categoria criou, começarem a “voar” bem alto em conjunto com os grandes nomes de então.
Foi o caso do Diogo Castro Santos, do Manuel Gião ou do meu irmão Pedro, que com somente 15, dezasseis anos, eram já como que “veteranos”: também uma constante para os muitos que os seguiram.
Como que por golpe de ” Mágica”, o regresso da F1 a Portugal aconteceu logo em 1984 e trouxe com ela também um grande campeonato de monolugares: a Fórmula Ford.
E se dúvidas houvesse quanto a esta importância “Primaveril” no desporto automóvel no nosso País foi fácil anulá-las olhando para as classificações dos nacionais de F.Ford a partir de 1988.
Primeiro o Diogo, depois o Lamy e o meu irmão. Seguiram-se o Gião, o Frederico Viegas, o Gonçalo Gomes, o João Barbosa e … por aí em diante.
Estava em andamento uma verdadeira corrente de “Campeões” que se internacionalizava e catapultava a “Velocidade” nacional para níveis nunca antes atingidos.
Como que se de uma “pescadinha de rabo na boca” se tratasse, estes êxitos trouxeram ainda mais fôlego ao karting e novos valores foram surgindo… cada vez em maior número… cada vez a lutar por melhores posições a nível internacional.
Tenho a felicidade de ter acompanhado este processo muito por dentro, pois com a equipa que em 1997 criei em conjunto com o meu irmão Pedro (CJT – Couceiro Junior Team) acabei por levar alguns dos nossos actuais “porta-estandarte” a vencer no Karting internacional.
Foi o caso do Álvaro Parente, do Filipe Albuquerque ou do António Félix da Costa.
Hoje, tenho a certeza plena que sem uma boa formação no Karting, elevada a um grau superior de competitividade internacional, dificilmente um piloto consegue vingar nas “altas esferas” do desporto automóvel mundial.
E é talvez por isso que me preocupo bastante em ver que um “buraco negro” pode estar a aproximar-se no que respeita à criação de futuros grandes campeões.
Dificilmente, acredito, conseguiríamos manter a cadência anual, quase “relojoeira”, de lançar um ou dois valores por ano para o exterior.
Mas sem uma nova “Primavera” vejo as coisas muito complicadas para os próximos anos.
Como a velha máxima de Leonardo DaVinci: “Fraco é o discípulo que não supera o Mestre”, também aqui não deveremos adormecer na sombra do que foi – bem – feito.
Deveremos estar em constante mudança e melhoramento sob pena de uma total e final estagnação.

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 27 de Fevereiro de 2013

DESPORTO REI

No Verão passado, aquando dos últimos Jogos Olímpicos, tive uma daquelas conversas de praia que me deixou a pensar durante algum tempo e cujo tema hoje deixo à vossa consideração.

Na altura, a simpática discussão e contra-argumentação com o meu irmão Pedro teve como base uma sua afirmação do tipo:
“Acho que, apesar de muitas vezes ignorado, o desporto motorizado português é, a par do futebol, o nosso melhor representante a nível internacional”

Devo dizer-vos que as suas palavras nos fizeram partir para uma bela e acesa discussão (entre nós esta tem sido uma forma construtiva de trabalhar ao longo de todos estes anos!) e que, no final, me fez repensar bastante sobre o assunto e ter de dar grande parte da razão ao “mais Novo”!

Comecei a tomar, desde esse dia, muito mais atenção a tudo quando desportivamente se produzia em Portugal e, devo dizer, que melhor “montra” dificilmente eu poderia ter tido do que começar com as prestações de toda a nossa representação nas Olimpíadas de Londres.
Tive, diante de mim, a “nata” do nosso desporto durante quase duas semanas.
15 Dias em que me pude inteirar do nossos “feitos” nas mais diversas modalidades, dos seus atletas e respectivos percursos.
Mas nem a “nossa” menos boa passagem pelos Jogos 2012 me fez alterar a minha posição…
Comecei a fazer uma análise mais detalhada e fui recuando por algumas das nossas mais emblemáticas disciplinas desportivas a longo de alguns anos.
Temos tido, é verdade, verdadeiros feitos internacionais e de que muito nos devemos orgulhar.
Têm, pontualmente, surgido ao longo das últimas décadas atletas de eleição que nas suas disciplinas se batem e mesmo levam de vencidos os melhores a nível mundial.
Mas hoje, arrisco-me dizer, que o Desporto Motorizado Português é o único que pode rivalizar em feitos desportivos com o tão comummente idolatrado Futebol.

Vejamos:
Nos últimos 25 anos não consegui encontrar nenhuma modalidade que tivesse levado tantas vezes a bandeira portuguesa aos mais variados “Podiuns” internacionais.
Façamos uma rápida viagem desde o Pedro M. Chaves ou Pedro Lamy, até ao Álvaro Parente, Filipe Albuquerque ou António Félix da Costa. Passemos pelo Carlos Sousa, Hélder Rodrigues, Ruben Faria… pelo Manuel Gião, André Couto, Tiago Monteiro ou César Campaniço … e o João Barbosa… o Rui Madeira ou o Armindo Araújo… e mais… muitos mais.
Quantas modalidades se podem gabar disto?
Temos uma “Mais-Valia” que muitas vezes, parece-me, nem nos apercebemos.
Somos dos melhores “Porta-Estandarte” do desporto português além fronteiras.

Acho que é chegado o tempo de pedirmos o “Mediatismo” e o “Interesse Nacional” que é devido para com o nosso Desporto.
Isso obrigará a uma ainda maior responsabilidade e profissionalismo dos seus intervenientes.
Mas acho que esse facto não nos impressiona nem nos deverá deixar com algum receio.
No fim de contas, como diz um meu amigo inglês e, passando algum menor cavalheirismo…
“Soccer needs one ball, Motorsport needs … !”

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 23 Janeiro 2013

“…PRENDA DE NATAL…”

Há uns dias atrás o Automobilismo conseguiu por algumas horas suplantar o tempo de antena do desporto que constantemente faz parar Portugal: O Futebol.
Mas quando tantos motivos temos tido, com os excelentes resultados alcançados pelos nossos “corredores” alem fronteiras, eis que a razão foi bem diferente e tão pouco abonatória para a promoção da modalidade.
A Capa do jornal Público do passado dia 10 de Dezembro e paralelamente as notícias, análises e “Revistas de Imprensa” que lhe sucederam vieram trazer para a ribalta um tema muito delicado, ao longo dos anos muito falado mas, que no meu entender, nunca foi completamente dissecado e que vem acabando por gerar tantos e tantos comentários, criticas e especialmente… “Tricas”.
Não querendo aqui opinar ou posicionar-me pessoalmente sobre o tema focado pela referida publicação, não posso deixar de constatar que mais uma vez temos um caso, aliás um mega-caso, de má aplicação de verbas publicas.
Nunca fui apologista de um estado “Paizinho” dos atletas ou das modalidades.
Sou, sim, defensor de um estado que cria bases sólidas para um desenvolvimento forte e sustentável.
É natural que todos nós queiramos ter Pilotos ou Equipas Portuguesas na F1, na GP2, no Mundial de Resistência, de Rallies ou qualquer outro de topo do automobilismo mundial.
Mas façamo-lo com “Pés e Cabeça”!
No meu entender um desenvolvimento sustentável só se atinge com um plano alicerçado em boas “fundações”… Ou seja… Não começar constantemente a construir a casa pelo telhado.
Quando no final de 1997 decidi criar um Team de Karting, em conjunto com o meu irmão Pedro e com o nosso amigo comum Danilo Rossi, tinha em mente proporcionar as bases para que alguns dos nossos jovens de então pudessem singrar na modalidade.
Fi-lo por paixão, mas também com a convicção de que somente dando a esses mesmos jovens a possibilidade de construírem desde tenra idade uma boa base e estrutura de trabalho conseguiriam alcançar sucesso pessoal, mas também para Portugal.
Hoje, passados mais de 15 anos, tenho a certeza que somente esse é o caminho para, de uma forma constante, termos representantes nacionais ao mais alto nível internacional.
A nossa estrutura, apesar de privada, tinha em mente encontrar forma de os atletas por nós identificados, puderem competir a um nível que pessoalmente não o conseguiriam. Não só pelo nível técnico que lhes proporcionámos, mas essencialmente por conseguirmos que o factor financeiro fosse facilitado, fosse por patrocinadores nossos parceiros, fosse pela ligação directa aos construtores.
Acreditem que me dá um orgulho enorme verificar que fomos cruciais nas carreiras de pilotos como o Álvaro Parente, o Filipe Albuquerque ou o António Félix da Costa. Mas acreditem também que me dá uma enorme mágoa ter tido talentos como o Armando Parente ou o José Cautela que, após a conquista de grandes títulos internacionais, tiveram de abdicar deste desporto onde tinham ainda tanto para dar e… Somente pela tão famosa falta de verbas.
É por isso que quando vejo ou ouço falar dos milhões que se despendem, e quase nada vejo aplicado á formação, fico a pensar se teremos grande futuro no que toca a quantidade de pilotos ao mais alto nível.
Como sou um optimista, acredito que sim….
Quando algumas atitudes mudarem!
Venha daí essa “Prenda de Natal”!

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 19 Dezembro 2012

“…VIVA O REI…”

Quando em 1977, tinha então 18 anos e alguns meses de “carta”, comprei o primeiro número do Autosport, jamais me passaria pela cabeça estar diante do título que mudaria a minha vida para sempre.
No pós 25 de Abril, todos os jovens como eu tinham muitos sonhos, mas eram ainda muito balizados pela fraca informação e abertura ao exterior.
O Autosport veio fazer com que ficasse mais perto dos meus ídolos, da minha paixão!
Rapidamente passei de um leitor assíduo para um verdadeiro fanático, que nas madrugadas de quinta para sexta-feira (ainda o Autosport saía às sextas!) esperava na tipografia, que ficava ali para os lados do Dafundo, e assim podia ler as “últimas” literalmente bem “quentinhas”… !
E se a vinda do mundial de karting em 1979 teve um papel crucial na iniciação de muitos jovens na modalidade, não menos importância o teve um jornal que nos foi mantendo (também eu comecei no karting em 1980) a par do que de melhor se ia fazendo na Europa.
Veio depois o regresso da F1 em 1984.
E se para que isso se tivesse tornado uma realidade, sofremos o duro golpe de ver anulado o Kartodromo do Estoril (berço até então de quase todos os Kartistas nacionais), também não é menos verdade que a F1 em Portugal trouxe como que a “poção mágica” para mudar o rumo do automobilismo em Portugal.

Acredito hoje, passados quase 30 anos, que sem este regresso e, muito especialmente sem a criação da Fórmula Ford em Portugal, que o nosso Automobilismo não teria tido a subida e o sucesso vertiginoso e crescente que hoje é de todos conhecido.
Subitamente víamos a “máquina” a rolar… Mais oleada de um lado, menos assertiva do outro, mas a verdade é que começámos a ver os nossos pilotos transformarem-se em campeões internacionais, com isso vimos também um “boom” de adesão ao karting e… tínhamos a “pescadinha de rabo na boca”!
Em todos estes momentos houve sempre um nome que ninguém ignorou, pois falava, fazia falar, motivava e, essencialmente projectava todos os feitos dos intervenientes. Aqui e lá fora.
O Autosport foi durante este primeiro período um verdadeiro álbum, portefólio ou mesmo proposta de patrocínio para muitos pilotos e que a par deles percorreu o “Caminho das Pedras” que era então a internacionalização do Desporto Automóvel Português.
Vi o Autosport passar por alguns momentos menos fáceis ou mesmo complicados.
Mas também vi muitos pilotos serem ajudados em alturas menos boas das suas carreiras por este “Título” que tanto significado tem para nós!
Entretanto o Automobilismo Português atingiu um patamar que nunca antes tinha sido alcançado e com os seus intervenientes a trazerem para Portugal um sucesso sem precedentes.

A recente notícia do “fecho” do Autosport não deixou ninguém indiferente.
Felizmente houve quem tivesse a coragem de não deixá-lo “morrer” e eis que por mais um golpe de mágica (tão pródigo dos portugueses) este jornal contínua nas bancas… e agora até no seu formato original e semanal.
E é nestas alturas que julgo ser crucial a “Família Motorizada” estar pronta para se apoiar mutuamente… e o Autosport vai necessitar de todo o nosso apoio e carinho nesta nova fase da sua vida.
Estou certo que assim acontecerá!
Há uns tempos ouvi uma expressão a propósito do fecho do Autosport, que agora me atrevo a alterar:
“O Rei continua vivo… Viva o Rei”

Nuno Couceiro – Crónica Autosport 28 Novembro 2012

JARDIM DA MINHA VIDA

Nunca fui muito (nem muito nem pouco!…direi mesmo nada) dado a plantas…, mas quando me convidaram para este artigo dei comigo a pensar que a minha vida está muito mais ligada a elas, ás flores ou aos jardins do que alguma vez teria pensado.
De facto foi em jardins, mais propriamente os de Lisboa, que passei alguns dos meus melhores momentos de infância, como no Jardim Botânico, no Príncipe Real, no Jardim da Estrela ou mesmo na Avenida da Liberdade onde à volta dos lagos aprendi a andar de bicicleta.
Depois de em criança ter plantado uma árvore aqui e ali (quem não o fez no dia mundial da árvore!) nunca mais tive contacto com as plantas… e digo-o hoje… infelizmente.
Na realidade começo gradualmente a perceber as palavras sábias da minha Mãe que em tempos me dizia que era um dos momentos mais felizes do dia quando tinha que tratar das suas flores… ou regar as suas plantas.
Talvez por isso dê hoje, ainda mais, um valor muito especial à Palmeira! que ela me deu no dia em fui sozinho viver para a minha primeira casa.
Aquilo que mais pareciam duas pequenas folhas verdes foi crescendo e acompanhando-me nesse meu novo percurso é hoje uma majestosa planta que parece dar outra vida à minha casa.
Nestes quase 15 anos que com ela partilho, sinto que é já parte da minha vida e, talvez por isso, quando há mais vento ou a chuva é mais forte, faço questão de verificar se tudo está bem….
Hoje, sou eu quem transporta essa energia á minha filha de 4 anos, como que passando testemunho de felicidade deixado pela sua Avó.

Fevereiro de 2011

PREFÁCIO

Talvez por desde criança sempre ter visto a vida como que se de um livro se tratasse, pretendi passar essa visão a todos aqueles que comigo têm partilhado tantas e tantas páginas inesquecíveis.
As minhas memórias mais remotas encontram-se nos pequenos-almoços de miúdo, onde devorava livros de banda desenhada, acompanhando-os com as delicias que a minha Mãe me preparava logo pela manhã.
Não sei se por essa razão, a BD sempre teve em mim um efeito mágico, como poção que nos deixa com energia sobre-humana para as adversidades que temos de enfrentar.
Foi nela que me refugiei vezes sem conta e onde encontrei soluções emocionais para resolver os problemas que, mesmo não nos apercebendo, moram já na cabeça de criança.

Sempre conduzi a minha vida como se de uma competição se tratasse.
Mas não a competição onde temos de ganhar a todo o custo ou onde a derrota se nos afigura como o maior mal ao cimo da terra.
Vejo a competição como forma de alcançarmos os nossos objectivos, nos superarmos e mesmo atingir o impossível.
Mas vejo também a competição como algo que nos ensina a não desistir, a ter de viver com a angústia ou com a derrota e, sobretudo, a acreditar que o amanhã será sempre passível de ser melhor que hoje.

Foi neste ambiente que fui crescendo, com uma família que me ensinou a respeitar o próximo, sem nunca deixar de acreditar no concretizar dos meus objectivos.
Sempre com alguém ao meu lado que me fez ver que não necessitamos de ter o nosso vizinho mal para que nós possamos estar bem.
Mas, acima de tudo, sabendo tirar partido do que de melhor a vida tem para nos dar, vivendo a par com diferentes formas de estar e pensar daquelas que sempre achámos ser as que tornam o mundo num lugar melhor.

Julgo que essa tem sido a chave do meu bem-estar.
Saber que a cada esquina tenho um amigo, um amigo verdadeiro, mas saber também que existe sempre alguém para quem, mesmo não conhecendo, quero a maior das felicidades.

Em 1995, quando me juntei à causa da UNICEF, jamais pensei que poderia com pequenos actos mudar para sempre a vida de tantas pessoas.
Perceber que eram realmente pequenas as mudanças necessárias para que fossem grandes os sonhos de alguém fez-me e continua a fazer-me acreditar que depende somente de cada um de nós viver num mundo melhor.
Não concebo a minha felicidade sem que a possa ver também à minha volta.

Por isso acredito que é o Sonho que nos faz ganhar essa competição…

Não deixar de sonhar é porventura a grande aventura da vida.
Tem sido a minha, por certo.

Novembro de 2009

CONDUZIR UM FERRARI

Depois de 25 anos de competição, desde o Karting aos GT’s passando pelos diversos escalões dos monolugares (F.Ford , F.Opel, F.3 ou F.3000, houve um momento que me voltou a colocar a adrenalina nos mais altos patamares e que dificilmente esquecerei.

Esse momento foi a última prova do Open Europeu de 2006, disputada em Barcelona, e onde pela primeira vez me sentei ao volante de um Ferrari de competição.

Após quase 9 temporadas “agarrado” a um volante Porsche, acreditem que é um momento emocionante quanto, já sozinhos a acelerar na pista, vemos o “Cavalino Rampate” bem ali á nossa frente estampado no volante de competição.

Como qualquer outro piloto com tantos anos de actividade, já guiei para variadíssimas marcas, com variadíssimos modelos á mistura, muitos deles inclusive com uma história na competição automóvel de causar respeito a qualquer membro da minha comunidade!

No entanto Ferrari é Ferrari….
Um mundo aparte e onde todo o misticismo da marca de Maranello se faz sentir carregar forte sobre os pilotos.

Quando me desloquei a Barcelona para experimentar em prova o Ferrari 360 Modena GT2, fi-lo com o intuito de preparar o meu ingresso numa equipa Ferrari para que em 2007 pudesse, em conjunto com o Manuel Gião, lutar pelo título GT Espanhol e Ibérico.

Na realidade o carro que viemos a conduzir foi o F430 GT2, bem mais evoluído e que tantas alegrias nos tem dado, não só nos resultados como no puro prazer de condução.

O F430 é um “Puro Sangue” nascido para competir, fiel ao seu dono e muito fidedigno nas suas reacções.

A equipa que este ano represento, a Playteam, é uma Scuderia Ferrari no seu todo e onde o amor à marca se faz sentir desde o nosso primeiro “briefing”.

É essa paixão, também, que faz com os resultados apareçam e que o maior dos obstáculos possa ser ultrapassado.

É fantástico descobrir essa paixão, e eu tive o privilégio de a descobrir durante a minha carreira desportiva, algo que marca qualquer piloto para toda a sua vida.

Blog Ferrari Portugal – 29 de Julho de 2008

KARTING & LAZER

Há já uns tempos que estava para aqui apresentar uma minha análise e opinião sobre aquela que julgo ser a modalidade Mãe de todo o desporto automóvel. Por uma ou outra razão essa intenção foi sendo ultrapassada por outros temas que se foram encadeando, mas aqui finalmente está um texto sobre o Karting, quanto a mim o verdadeiro B-a-Bá para um piloto de competição.
Em paralelo com o Karting, julgo ser também pertinente abordar uma outra vertente do início na competição e que tão fortemente se instalou no nosso País; As Corridas de Lazer.

E que melhor local para me inspirar do que o Kartodromo de Leiria em dia de taça de Portugal? A Taça de Portugal, verdadeira festa do Karting nacional, é nos dias de hoje um dos troféus mais cobiçados do ano. Esse facto deve-se não só por ser a prova que fecha a temporada, como também a possibilidade de conquistar tão valioso título numa prova única faz com que a presença de elevado número de participantes se faça sentir, o que contribui e em muito para um maior colorido de todo o evento.

Tendo começado a correr em 1983, venho acompanhando a modalidade muito de perto mesmo depois de ter passado para os automóveis em finais dos anos 80. Na realidade, o facto de desde 1998 possuir uma estrutura, leia-se equipa, que compete em Portugal e também internacionalmente, possibilita-me analisar este fenómeno de uma forma totalmente distinta da época em que somente competia.

Todos sabemos, ou pelo menos quase todos, como é vital o karting na formação de um piloto. Não irei alongar-me na importância que a modalidade tem tido, ao longo das últimas décadas, no lançamento de grande parte das estrelas mundiais do automobilismo. Esse é assunto por demais debatido e sobre o qual nada julgo vir acrescentar. Gostava, no entanto, de focalizar esse papel do karting e encaixá-lo à nossa realidade; A realidade lusa.

Nos últimos anos tenho travado conhecimento com muitos jovens, mais de duas dezenas já passaram pela minha equipa (CJT-Couceiro Junior Team), mas também por variadíssimos outros que chegam ao meu contacto, questionando-me sobre o que devem fazer para serem pilotos. Uma coisa é certa, é aqui (Karting) que tudo tem de começar para que os nossos pilotos possam olhar com outros olhos para uma carreira profissional no desporto automóvel.

Para vos dar um exemplo, tenho na minha estrutura miúdos desde os 9 aos 19 anos. Todos eles têm vindo a alcançar e a subir degraus na sua carreira desportiva, mas essencialmente todos aprendem desde muito cedo que para se ser piloto de competição, e especialmente para se ser campeão, não basta ser rápido, ou ser o melhor nisto ou naquilo. Para se ser campeão é necessário reunir uma série de atributos e nesse conjunto, sim, ser o melhor!

É por isso que tentamos que os nossos pilotos tenham bons conhecimentos técnicos, tenham uma boa conduta em pista ou uma boa preparação física. Saibam como falar com um jornalista e mesmo das suas obrigações com um sponsor. A rapidez, essa é a cereja do bolo que os irá catapultar para o sucesso.

Portugal vive, independentemente dos pontos mais ou menos positivos, um momento ímpar na sua história do desporto automóvel e o karting deverá estar a passar pela sua melhor fase de sempre. É certo que todos diremos que é ainda muito pouco, que muito está mal ou por fazer. Mas a verdade é simplesmente uma: O Karting é a modalidade do desporto motorizado praticado em Portugal mais evoluída e que mais próxima está das suas concorrentes internacionais. Basta visitar um Paddock de uma corrida nacional, presenciar uma prova ou analisar as prestações dos nossos pilotos, para facilmente nos apercebermos que é a mais pura das realidades.

Mas infelizmente não basta. Não nos chega ter estruturas altamente profissionalizadas, organizações de nível internacional ou pilotos de gabarito mundial para dizer que tudo está bem.

A nossa federação, no meu entender, tem vindo a ter um papel cuidado sobre este assunto e reunido consensos quanto ás necessidades primárias para uma crescente dinamização do Karting português. É bem verdade que sabe sempre a pouco, mas se as energias forem gastas somente a criticar o que está mal e não encaminhadas para a construção de uma modalidade mais forte, então aí nunca se atingirão os níveis que desejamos e que os nossos pilotos já mostraram ser merecedores.

Penso que deverão existir outros incentivos para os mais jovens e balizar os custos, principalmente nessas categorias. Não me assusta nada ter, nos escalões mais baixos (ex: dos 8 aos 12) categorias que nada tenham a ver com as suas parceiras internacionais e com homologações completamente distintas. Isto desde que haja, como é natural, um regulamento rígido e bem delineado.

Dir-me-ão alguns que desta forma os pilotos começam a perder desde cedo o contacto com a realidade internacional. É verdade. Mas acho que qualquer jovem que queira rumar para o Karting internacional está bem a tempo de o fazer a partir da categoria júnior (12 aos 15 anos).

Ponhamos as coisas desta forma:
Quantos ¿miúdos¿ não terminaram já as suas carreiras com 12 anos, porque os seus pais não têm forma de continuar a gastar budgets exorbitantes desde os seus 8 anos!?…
Pelo menos entre os 7 e os 12 acho que deveriam ser criadas duas categorias, como até agora (Cadete e Juvenil ou Sub-12), mas de cariz estritamente nacional.

Este será um passo, no meu entender, para mais crianças terem acesso á iniciação de competição no Karting.

E por falar em iniciação, uma palavra para as corridas de Lazer, que tanto furor têm feito em Portugal na última década.

Sem dúvida que o crescendo de corridas de lazer ou para empresas somente veio apresentar a um público muito mais vasto o nome ou a modalidade Karting. Esse factor foi muito importante pois, todos sabemos, que não é fácil promover uma disciplina com custos tão elevados e por isso com retornos do investimento sempre muito difíceis de atingir. Mas, à nossa boa maneira, conseguimos transformar aquele que seria um veículo promocional por excelência, num verdadeiro parasita do Karting como vertente competitiva.

Vejamos:
Todos sabemos que competição, no verdadeiro termo da palavra, requer o seguimento de parâmetros rígidos e por isso existem normas, categorias e pilotos a disputarem os campeonatos nacionais e mesmo internacionais.

Sempre fui um acérrimo defensor das provas de karting lazer como forma de melhor promover o desporto motorizado e em particular o karting profissional. Estranhei, por isso, quando essas referidas provas de lazer começaram a tomar proporções exageradas, não em termos promocionais, pois isso foi sempre o que se pretendeu, mas sim em termos competitivos.

Culpa de quem?
De todos nós, intervenientes no fenómeno desportivo motorizado; Em primeiro lugar, de alguns pilotos profissionais ou licenciados de há muito que começaram a encontrar neste tipo de provas forma de mostrarem os seus dotes… às vezes de forma um pouco exagerada! Qual a necessidade de um piloto X ou Y fazer um ultrapassagem histórica a uma apresentadora de televisão ou actor de cinema, por vezes até com alguma agressividade?! Será que é simplesmente para acalmar o seu ego?

Depois, por parte da própria federação que permitiu que esses mesmos pilotos começassem a competir regularmente nesse tipo de provas… quando o fundamento das mesmas era o de fazer uma festa e não uma competição.

Nos dias de hoje chegamos a presenciar equipas com massagistas, mecânicos, preparadores, pseudo-pilotos com atitudes de verdadeiras vedetas e, pior, o cariz inicial de tais competições quase se extinguiu.

Penso sinceramente que a atitude nacional de variadíssimas vezes começarmos a casa pelo telhado tem de ser mudada, sob pena de acabarmos com uma escola/linha de formação dos nossos pilotos. Refiro-me á forma como tem sido vista a formação de um piloto em Portugal e à resposta que tarda em não aparecer por parte de todos nós:

Queremos ter uma verdadeira formação de pilotos em Portugal? Às vezes parece-me que poucos querem responder positivamente a esta pergunta.

Já me alonguei um pouco, como é normal, por isso deixo para o meu próximo texto uma minha abordagem sobre os troféus e corridas de lazer nos automóveis. Que penso ser também um ponto importante das corridas em Portugal.

Até lá, um abraço,
Pedro Couceiro

21 de Novembro de 2006

RETORNO MEDIA

Na sequência de todos os textos que aqui tenho apresentado, julguei ser altura de vos falar um pouco sobre um tema que hoje anda nas bocas do mundo – O RETORNO.

Como disse ao terminar o meu último texto, julgo ser um tema “Muito interessante para todos, sobre o qual muito se fala nos últimos anos, mas que poucos têm uma noção real do assunto.”

Poderá parecer um pouco presunçoso da minha parte expressar-me desta forma mas, como verão se tiverem disposição para ler estas linhas até ao final, a minha postura é linearmente oposta!

A primeira vez que fui confrontado com a palavra Retorno foi em 1990, no final da temporada em que fui campeão de Fórmula Ford aqui em Portugal.

Chegou-me às mãos, então, um dossier com uma série de recortes sobre todas as notícias que a meu respeito tinham saído na imprensa nacional, bem como a valorização que essas mesmas notícias teriam tido.

Para mim foi algo fantástico, poder contabilizar e mostrar a quem em mim investia, que o Sponsor X tinha aparecido n vezes ou que o espaço ocupado pelo Sponsor Y teria tido uma valorização de tantos milhares de escudos! Começava ali uma verdadeira odisseia para todos quantos estavam neste meu projecto!

Nestes anos que passaram muito fui aprendendo em relação ao retorno/investimento, à forma como se pode melhorar a imagem, ou como cativar novos investidores. Muito fui também compreendendo como o mediatismo está directamente ligado ao retorno e como a componente relações públicas de um determinado projecto nem sempre é imediata nos retornos que muitos esperam.

Ao longo dos 15 anos em que tenho vindo a trabalhar com a Memorandum, que é a verdadeira catedral nacional das empresas que realizam análise dos meios de comunicação social, fui apurando os meus conhecimentos no entanto, ainda hoje tenho plena consciência que de retornos pouco ou nada sei. Pelo contrário, vejo muito boa gente que não sabe sequer como é contabilizada uma notícia, ou se se trata de um retorno noticioso (News) ou retorno patrocinador (Sponsor), tecer os mais sábios comentários sobre eventos, pilotos ou investimentos.

Trabalho diariamente, como vos disse, com estes dados sobre a minha mesa. Tenho todas as manhãs, detalhes minuciosos sobre as notícias de grande parte dos nossos melhores representantes (Velocidade, Ralis, TT ou Karting) a correr em Portugal e no Estrangeiro. Sei mensalmente onde estiveram, que meios melhor os divulgaram e em quanto foi avaliada a sua presença nesses referidos órgãos de informação.

Contudo, mesmo tendo acesso a tudo isto e trabalhando desta forma, que acredito poucos farão, posso dizer-vos que falar de Retornos é algo muito complexo e sobre o qual dificilmente podemos sobre ele afirmar ter um conhecimento absoluto.

Para os mais interessados nesta área gostava de vos deixar um pequeno exercício! O que acham ser melhor e ter mais valia em termos de investimento?

1 – Uma pequena foto de 5x5cm no jornal Record ou uma foto de capa no nosso Autosport?
2 – Uma reportagem de cinco páginas numa qualquer revista cor-de-rosa ou uma pequena notícia no Expresso?
3 – Um apontamento no Telejonal das 20 horas ou uma longa entrevista num qualquer programa da manhã?

Tenho a certeza que quase todos tiveram uma resposta imediata. Sabem a minha opinião? Se acham ter resposta pronta estão muito enganados…. É que o melhor retorno ou mais válido investimento depende de uma série de factores e não só saber quanto vale o espaço x ou se gostamos mais de ver o canal y ou jornal z… Os objectivos de um Sponsor passam não somente por avaliar a quantificação do espaço ocupado na comunicação social (valores que servem somente de referência), mas também pelo seu público alvo ou potenciais consumidores.

Ou seja, existe um sem número de variáveis que condiciona o Investimento/Retorno e não somente o acharmos que apareceu muito ou foi muito visto. É um tema muito delicado e com discussão para umas boas horas…

Para finalizar gostaria de vos transmitir a minha experiência pessoal ao longo dos últimos anos, como lidei com o desconhecido e como encarei novos desafios nesta área da comunicação.

Sempre tive a plena noção que, para projectar a minha carreira, teria de trabalhar a minha imagem e promover os meus projectos nos mais diversos órgãos de comunicação. Fui um dos pioneiros a trabalhar desta forma, em conjunto com os press-officer, com quem estive e tenho a certeza que ainda hoje tiro dividendos do investimento que nessa altura fiz.

Ainda me lembro da altura em que comecei a sair dos AutoSport ou Motor, ou Record e A Bola, para começar a entrar também pelos Público, Semanário ou Expresso. E da tão crítica fase em que comecei a aparecer nas chamadas revistas do social ou revistas cor-de-rosa. Hoje, alguns dos que mais me criticavam por aparecer, também, nesse tipo de órgãos de comunicação, são os que mais se desdobram para conseguir uma noticiazinha rosa!!!

O Retorno é algo muito mais complexo do que muitas vezes se comenta e não se consegue obter sem um trabalho árduo e planeado. Muito haveria a falar sobre este tema e, para quem tiver interesse, convido-vos um dia a visitar uma Memorandum. Certamente ficarão com a plena certeza que não é um assunto que se trate com ambiguidades.

Notal Final (um pouco alargada!!!!)

Dois pontos que gostaria de abordar e que têm directa ou indirectamente a haver com este tema, mas acima de tudo com a nossa postura tão portuguesa do bota abaixo!

1
Durante muitos anos existiu um programa chamado Rotações que muito projectou e divulgou o desporto motorizado. No que me diz respeito, largas foram as horas que tive de apoio na fase mais importante da minha carreira – o início da minha internacionalização.

José Pinto, verdadeiro remador contra uma maré televisiva já na altura pouco dada ao nosso desporto, fazia das tripas coração e conseguiu ter no ar um programa que, julgo, todos hoje têm saudade e gostariam de ver reeditado.

Um destes dias, ao ver a RTP-Memória, fiquei maravilhado com a abrangência dada a todas as modalidades e à forma como eram impulsionados os projectos nacionais e internacionais dos diversos pilotos portugueses.

Mas…. o que ouvíamos nós então?
Somente me recordo das inúmeras críticas que muitos faziam. Ou porque o Zé Pinto não sabia nada de carros, ou porque isto ou porque aquilo….

Sabem quem, mais do que ninguém, matou o Rotações?
Aqueles Opinadores de que vos falei no primeiro texto que aqui apresentei este ano. E por falar em Opinadores e sentir que é com o tempo que estes são desmascarados apresento-vos mais um outro ponto engraçado!

2
No final da temporada passada, e naturalmente mais atento ao que se comentava sobre o meu piloto Filipe Albuquerque, fui confrontado com algumas afirmações curiosas. Como sempre, e em apreciações tipo conversa de café que os Opinadores tanto gostam, comecei a presenciar comparações do campeonato A versus campeonato B ou do piloto 1 com o piloto 2.

Uma das mais caricatas comparações que vi na altura foi a do campeonato espanhol de Fórmula 3 com o seu homólogo inglês, que como é natural criou alguns pontos de clivagem extra uma vez terem estados presentes dois portugueses nestas competições. Neste caso, o Filipe (Albuquerque) no Espanhol e o Álvaro (Parente) no Inglês.

Acontece que os comentários menos favoráveis ao campeonato Espanhol em favor do Inglês, somente vieram e vêm denegrir a imagem do Álvaro (Parente), mesmo que momentaneamente possam tocar o piloto Filipe Albuquerque que corria no Espanhol…

Vejamos, todos sabem que o Campeonato Inglês de Fórmula 3 já não vive os anos dourados dos anos 80 ou 90. Também todos sabem que o Campeonato Espanhol é monomarca em termos de motor o que equilibra e muito as performances.

Mas, finalmente, todos podem constatar que os pilotos saídos deste campeonato são tão ou mais competitivos que os adversários saídos de campeonatos idênticos por esta Europa fora. Quem sai lesado de tudo isto…. o Álvarinho, que num ano de estreia é batido por dois ex-campeões da Fórmula 3 espanhola (Borja Garcia – 2004 e Andy Soucek – 2005) na World Series by Renault e que somente vê todos os comentários daqueles Opinadores de então servirem como um bota-abaixo das suas excelentes performances de 2005.

É tudo por hoje. Como sempre, deixo-vos o mote para o meu próximo texto. Irei abordar o tema Karting e as Corridas de Lazer para muitos o primeiro contacto com o desporto motorizado.

Abraço e até breve,
Pedro Couceiro

17 de Outubro de 2006

NÓS POR CÁ 2

Era minha intenção que o texto anterior (Nós por cá! – Parte 1) tivesse englobado os 3 grandes ramos do desporto automóvel em Portugal. Como não consegui fazê-lo por completo numa só abordagem, resumi-me simplesmente à “Velocidade”, e deixei para esta segunda parte os “Rallies” e o “Todo-Terreno”. Julgo que desta forma não serei tão “maçador” e ao mesmo tempo poderei melhor exprimir a minha opinião.

Gostava de referir a minha satisfação em ver a criação de um fórum específico para as crónicas aqui apresentadas. Penso que o debate de ideias que começo agora a ter com os leitores do Sportmotores.com vem ao encontro das minhas intenções quando aceitei este convite.

Os Rallies:
Desde que a memória me permite, recordo ser esta a grande modalidade nacional. Acredito que para isso muito contribuíram o Rally de Portugal e o Rally da Madeira, verdadeiras referências mundiais da especialidade e que, pela sua enorme projecção nacional e internacional, possibilitaram aos participantes portugueses uma visibilidade impar. Tive o privilégio de estar integrado no Rally da Madeira de 2003, como Carro “0”, e vi por dentro a qualidade e empenho dos organizadores nacionais nesta prova internacional.

Tais “empurrões”, no entanto, não foram suficientes para termos um nível competitivo que permitisse aos “nossos” pilotos evoluir para uma carreira internacional e, com isso, equiparar-se ao que a “Velocidade” nos deu. Uma “Legião Estrangeira” digna de registo.

As excepções de Coutinho, Madeira, Campos e pontualmente Adruzilo Lopes e Armindo Araújo confirmam a regra de:
Em Portugal os pilotos de Rallies estão voltados para “dentro” e raramente têm grandes objectivos de carreira.
Julgo que existem três motivos primários para que tal sempre tenha sucedido e, infelizmente, continue a suceder: 1- Competitividade, 2- Regulamentos e 3- Comodismo dos Pilotos.

1- Competitividade
Se bem analisarmos a lista de inscritos das provas de Rallies em Portugal, facilmente constatamos que o número de participantes é numeroso, mas não assim tão elevado que leve a comentários do tipo: “A velocidade anda ás moscas comparada com os rallies.”
Vejamos. Se juntarmos todos os inscritos de um fim-de-semana da “Velocidade” somos até capaz de reunir mais pilotos de que uma prova dos “Rallies”!
As coisas não são tão lineares como ás vezes se comentam.
Mais… a competitividade também não sai em nada “envergonhada”, na comparação das duas especialidades. A realidade é que a competição directa entre concorrentes trás sempre a possibilidade de analisarmos mais pormenorizadamente as diferenças de andamento e daí resultarem comentários soltos daqueles “opinadores” de que vos falava na minha primeira crónica deste ano. Dou-vos 1 exemplo tipo:

  • Qualquer trofeu na velocidade que tenha menos de 10 carros é tido como uma competição sem interesse e dita como “Sem competitividade”,
    O que diremos, então, quando presenciamos um Trofeu Renault ou uma Fórmula Ford em que temos os 10 primeiros tempos da grelha separados por menos de um segundo….. Nos Rallies vejo muitas vezes comentários de “Grande competitividade” relativamente a provas em que os pilotos ficam a mais de 1Seg./Km… e isto na mesma classe ou até no mesmo trofeu! Será que se assistíssemos a uma corrida no Autódromo do Estoril e no final das 15 voltas tivéssemos o primeiro e segundo classificado separados por meia volta, o terceiro a mais um pouco e o quarto e quinto a umas voltas mais, acharíamos algum interesse? Infelizmente é o que se passa na maioria dos casos!
  • E quantos pilotos temos a lutar pela vitória nas diversas provas dos nacionais de rallies?
    Muito poucos… menos que os dedos de uma mão! Há muitas classes… muitos trofeus…. mas poucos carros por cada disciplina, no meu entender… Isto leva a um outro ponto!

2- Regulamentos
Nunca compreendi como, num país com poucos recursos, nos permitimos ter campeonatos nacionais de rallies com WRC ou classes internacionais de valores tão elevados. Será como permitir um C.N.V com Fórmula 1’s ou GT’s! Acho que temos campeonatos fora do contexto e realidades nacionais….
É muito bonito termos as “bombas” que temos vistos nos últimos anos… mas para quê?
Para termos 2 ou 3 carros e depois os outros…

Faz-me lembrar um pouco campeonatos que existem para os lados das Arábias e Índias, onde correm Fórmula Renaults, Fórmula 3… mas também deixam correr Fórmula 1….
Temos demasiadas classes e trofeus que originam muitos campeões, mas pouca competitividade. Francamente gostava de ver pilotos com a qualidade de um Armindo, Magalhães, Fontes, Peres ou Campos e outros mais, todos a correr em carros de uma mesma classe e de características semelhantes. Pessoalmente não vejo interesse em termos tantas competições dentro da mesma competição, mas com tão poucos carros vitoriosos. Tal facto serve até para que o público menos entendido não compreenda porque motivo temos tantos campeões!

Não acho que se deva transformar o campeonato nacional de rallies num trofeu de carros de baixa cilindrada ou qualquer coisa do tipo, mas criar um maior nivelamento, mesmo se com recurso a uma clara redução de classes.

É natural que os pilotos gostem de guiar o que de melhor há a nível internacional, mas deveriam ser eles mesmo a querer regulamentos muito mais “balizados” em termos de “montadas”! Este facto leva-me ao último destes pontos dos Rallies….

3- Comodismo dos Pilotos
Se analisarmos com algum pormenor, chegamos à conclusão que em Portugal existe 1 ou 2 pilotos de rally que têm no desporto automóvel a sua profissão!… Esse ponto é natural uma vez quase nenhum ter querido seguir uma carreira internacional e quando o quer ver-se quase sempre limitado pelos “budgets” dos seus patrocinadores. Mas tem mais. Não tenho visto em Portugal pilotos que tenham querido subir pelos diversos degraus do automobilismo (Rallies) internacional. Ir para trofeus monomarca noutros Países e em função dos resultados tentar a sua sorte no Mundial. Todos sabemos que os “Loeb” ou os “Sordo” deste mundo não começaram as suas carreiras internacionais ao volante de WRC! O Pedro Lamy, quando foi campeão nacional de Fórmula Ford em 1989 não quis ir directamente para o Mundial de Fórmula 1 ou para o Campeonato Internacional de F3000! Poder-me-ão dizer que a realidade da velocidade e dos rallies é diferente, mas a estruturação de carreiras é igual em todo o lado. Julgo que aqui as equipas oficiais nacionais também têm tido um papel “menos positivo” nesse processo. Explico!

Todos os pilotos querem ser pilotos oficias de uma Peugeot, Mitsubishi, etc… Isso significa correr para ganhar, não ter de se preocupar com patrocinadores e ter um futuro a curto ou médio prazo garantido, mas… e depois?
Quando querem dar o salto… quem os pode apoiar se eles não fizeram a outra parte do trabalho? É uma situação muito mais complexa do que aqui vos descrevo, mas acreditem que este é um dos pontos principais.

O Todo-Terreno:
O Todo-o-Terreno nacional viveu na década de 90, como todos sabemos, um período dourado, período esse que nos deu um piloto de craveira internacional como é o Carlos Sousa. Muitos factores fizeram com que o nosso TT tivesse atingido patamares tão elevados, mas julgo que houve dois que foram o motor de tudo isso. O Imposto Automóvel e as Organizações do José Megre.

Por terem tido durante tanto tempo um IA tão abaixo dos outros veículos, os carros TT tornaram-se muito mais apetecíveis para pilotos e com as vendas em “alta” ou mesmo “muito alta”, as marcas envolveram-se de forma “impressionante”. Lembro-me da fuga de pilotos da velocidade e rallies que existiu nessa época, fruto da dificuldade em fazerem projectos nas suas modalidades preferidas. Bento Amaral, os irmãos Mello Breyner ou o Miguel Barbosa são um bom exemplo disso.

Se juntarmos a tudo isto as condições fantásticas para a prática da modalidade em Portugal, vemos porque o TT foi “Rei” do desporto motorizado no nosso país durante tanto tempo.

Penso que o TT irá sofrer como todas as outras modalidades sofreram, e talvez mesmo mais. Julgo que esta modalidade irá retornar à “estaca zero” onde os seus protagonistas eram essencialmente os amantes de “Raids” e “Gentleman Drivers”… O tempo dirá se tenho razão.

As excelentes organizações de provas internacionais que temos tido o prazer de acolher no nosso País, poderão, espero, ser o “balão de oxigénio” para que a modalidade não sofra esse revés. Mas como referi neste texto, isso só não basta.

Despeço-me até ao meu próximo texto, onde irei abordar outro tema que julgo muito interessante para todos, sobre o qual muito se fala nos últimos anos, mas que poucos têm uma noção real do assunto: O Retorno Mediático!

Abraço e até breve,
Pedro Couceiro

30 de Agosto de 2006

NÓS POR CÁ 1

Gostaria de começar por apresentar as minhas sinceras desculpas por ter falhado a data de apresentação do texto que agora vos apresento. Os últimos meses passaram, para mim, ainda mais a correr do que é normal: A minha época a começar, o acompanhar o Filipe Albuquerque, a equipa de Karts e… agora também a minha filha! que nasceu há 4 meses… Por estas razões estou certo que me irão perdoar!

Era minha intenção há já algum tempo escrever e dar uma opinião sobre o desporto automóvel nacional.

Apesar de ter emigrado há mais de 15 anos, esta é a minha décima sexta temporada “fora de casa”, continuei sempre muito ligado ao que por cá se fazia. É natural que a minha abordagem se centre hoje na velocidade, mas quero deixar o meu testemunho, proximamente, sobre as duas outras grandes modalidades que se praticam em Portugal: Os Rallies e o Todo-o-Terreno.

A Velocidade:
Esta é disciplina que mais pilotos internacionais tem dado ao nosso país. Nomes sonantes do automobilismo nacional que têm projectado além fronteiras a qualidade dos praticantes portugueses.

Pedro Matos Chaves, Pedro Lamy, Manuel Gião, Ni Amorim, João Barbosa ou Tiago Monteiro e mais recentemente Álvaro Parente, João Urbano ou Filipe Albuquerque são, por si, o espelho da qualidade de praticantes que temos “por cá”.

Mas¿ se a velocidade é aquela que mais pilotos de mérito internacional nos tem proporcionado, então porquê ser também aquela que das “três mais”, piores momentos atravessa nacionalmente?

Ao fim de todos estes anos, a apreciar todos os acontecimentos tanto no seu interior como do exterior, posso afirmar-vos com muita segurança que o problema essencial está mesmo em nós… Os Pilotos… Pelas melhores, mas também pelas piores razões… E porquê?

Ao fazermos uma rápida análise sobre os praticantes nacionais das três modalidades com mais destaque em Portugal, chegamos à conclusão que é na “velocidade” que a maior parte dos jovens tenta a sua sorte numa carreira profissional.

Ora, como sabemos, uma carreira profissional implica a internacionalização destes mesmos pilotos, pois por muito fortes que sejam os campeonatos em Portugal, somente “fora de casa” encontramos as melhores saídas para o futuro.

Ao deixarem o país, deixam também vazia a possibilidade de termos provas nacionais de velocidade com os seus melhores praticantes, ou pelo menos os mais conceituados, e por essa razão ficam as provas nacionais destinadas àqueles que, por uma ou outra razão, não pretendem emigrar.

Mas, pensamos e perguntamos todos nós:
Podendo os pilotos internacionais e nacionais coabitar em campeonatos realizados no nosso país, porque não o fazem?
Acho que a resposta está numa palavra: Atitude.

Atitude dos pilotos perante a realidade nacional, mas também de uma intervenção Federativa fraca no que respeita à condução de alguns dos mais importantes “pontos” do automobilismo português.

Sempre achei isso desde que comecei a correr de automóvel, após largar os Karts em 1988. Não vou aqui falar sobre a “Federação”, pois acho que isso é a forma mais fácil de “sacudir a água” de uma “gabardine” que nós pilotos vestimos… Sempre achei que antes de atacarmos ou criticarmos quem quer que seja, devemos olhar para dentro e ver onde estamos nós errados. Vejamos:

Quando comecei a correr nos automóveis, em 1989, existiam dois fortes campeonatos de velocidade. O Nacional de Fórmula Ford e o de Turismos. Podíamos ver, tanto num como noutro, pilotos de reconhecidos méritos e que, ou estavam a tentar alcançar resultados para “emigrar” e “levantar em voos mais altos”, ou simplesmente tinham decidido ficar “por cá” ou mesmo “retornar a casa” depois de uma carreira internacional.

Lembro-me da época em que corri em Portugal estarem na Fórmula Ford pilotos como o Pedro (Lamy), o Manel (Gião) ou o Diogo (Castro Santos) e competirmos com nomes sonantes como Paulo Longo, Luís Figueiredo e Silva, PêQuêPê ou o próprio Ni (Amorim) que dava um “saltinho” dos Turismos para correr nalgumas provas de Fórmulas. Por outro lado tínhamos o Nacional de Turismos – Ni Amorim em clara ascensão para uma carreira internacional, o Pêquêpê, o António Rodrigues, o Pedro Leite Faria (regressado da campanha internacional), Manuel Fernandes e tantos outros que elevavam bem alto “a fasquia” dos nacionais da época. Confronto de gerações e de ambições, mas um ponto comum: Atitude competitiva e profissional.

Quando saí de Portugal, em 1990, lembro-me de a Fórmula Ford ser responsável por lançar anualmente, pelo menos, 1 piloto para campeonatos internacionais: Castro Santos, Lamy, eu próprio, Gião, Viegas, Barbosa, Águas ou Gonçalo Gomes serão disso bom exemplo.

Era assim a situação no início dos anos 90 e a perspectiva seria de continuarmos a ter campeonatos, pelo menos esses dois, cada vez mais fortes e inclusive com a possibilidade de termos o Nacional de Turismos com cada vez mais “pilotos internacionais” que também quereriam dar uma “perninha” na sua terra!

Sem na época compreender como, comecei a ver a Fórmula Ford descer no número de participantes e o Nacional de Turismo ter como que “fim anunciado”.

Muito poderia hoje escrever sobre o que acho que levou a que isso acontecesse:
Patrocínios, elevado número de troféus monomarca, o crescendo das corridas para “vips” ou mesmo a falta de entendimento entre todas as partes envolvidas – pilotos/Organizadores/Federação. Deixo-vos, no entanto, três apontamentos, que me provam que é a atitude dos pilotos (nossa) que está, em primeira instância, errada!

O Nacional de Turismos de 1996
Estávamos no ano de 1996, corria na Fórmula 3000 Internacional e estava numa fase da minha vida profissional que, ou ascendia à Fórmula 1 em 2 anos ou seguiria para os GT Internacionais, como na realidade o fiz.

Na altura, falaram-me em ser um dos protagonistas de um renovado C.N.V com carros de Turismo e que existia grande vontade de todas as partes… especialmente dos pilotos… em relançar um projecto que nunca deveria ter terminado em Portugal.

Achei a ideia fantástica, principalmente porque conseguiria juntar, como muitas vezes dizemos, “O Útil ao Agradável”. Útil, porque estaria a competir no meu país, coisa que na altura já não fazia há 6 anos, útil também porque poderia continuar com uma ligação a um construtor (nessa época fui piloto oficial da FIAT e por conseguinte poderia manter uma ligação em Portugal através da Alfa-Romeo) e finalmente agradável, pois sentia que, com o meu contributo, poderia, mesmo que singelamente, ajudar a melhorar o automobilismo de velocidade em Portugal. (Como poderão facilmente depreender não era o C.N.V que me iria fazer viver, estando na altura num degrau tão importante como é a Fórmula 3000, mas nem por isso olhei para esse projecto como uma brincadeira!)

Pois bem… depois de reuniões e mais reuniões com pilotos chegou-se a uma decisão final. O campeonato 1996 iria para a frente com o “acordo de cavalheiros” realizado entre nós, pilotos, e somente haveria que comunicá-lo à Federação – ainda A.C.P. na altura.
Depois de inicialmente esta nos ter exigido um número mínimo de 15 participantes, e depois de realizarmos que dificilmente atingiríamos os 12/13… tive uma reunião com César Torres aqui em Lisboa e mostrei-lhe a nossa intenção em prosseguir com este projecto, mesmo que só com 10/12 carros… Sabem o que me respondeu?
Qualquer coisa deste tipo: “Pedro, se nos apresentarem 10 inscrições credíveis até à data “X” podem contar com o meu apoio, mesmo que o que desejasse fossem os 15 carros, mínimo, nas grelhas de partida!”

Depois desta “boa nova” parti para o Porto onde me reuni com vários pilotos nas instalações da “APPA”… O “Acordo de Cavalheiros” estava agora ainda mais simplificado pois bastavam aparecer 10 pilotos interessados.

Quando coloquei um ponto na mesa:
“Posso avançar em segurança com a compra do meu carro?”
Foi-me respondido que ali ninguém fugiria aos compromissos!
“Não devíamos todos os interessados deixar uma caução (1000 contos propus) para não haver quem fale por falar e depois diga que não avança..?”
Sabem o que me foi respondido? “Que ali ninguém falhava ou desonrava compromissos assumidos”
Pois foi precisamente o que se passou”

Acreditem que só chegaram 10 inscrições ao A.C.P. e… algumas delas até assinaturas falsas tinham… Mesmo do género: “assina aí por mim… que depois logo se vê…”

Como é natural César Torres não foi em brincadeiras e anulou-se um campeonato que tinha tudo para dar certo… Aliás… Desde então acho que nunca mais houve tantos pontos favoráveis… Mas…

A Fórmula Novis by Ford
Em finais 1998 a Ford Lusitana comunicava o final da Fórmula Ford em Portugal.

O Nuno (meu irmão) e eu tínhamos sido campeões nacionais com a nossa equipa, através do Ricardo Megre, e tínhamos começado a investir no desporto em Portugal, apesar de eu continuar a correr “lá por fora”.

Depois de muitos estudos em conjunto com os nossos parceiros de então, apresentámos uma proposta à Ford em Portugal, que visava continuar com o projecto de “Fórmulas” de até então, mas agora com um carro completamente novo (foi concebido exclusivamente para Portugal pela Mygale) e que deveria alcançar as performances de um F.Renault e muito perto dos F.3 de então. Isto com custos de troféu e perfeitamente acessíveis aos nossos praticantes.

A juntar a tudo isto, planeamos uma forte acção de Marketing para o projecto e “Prize Money” de competição como nunca tinha sido feito em Portugal e que em nada nos envergonhava por esta Europa fora. Tudo isso foi possível graças a um novo interveniente no desporto motorizado em Portugal: a NOVIS. Nascia assim a Fórmula NOVIS by Ford.

Enchemos por mais de uma vez as bancadas do Estoril, mais de 3500 contos de prémios distribuídos por fim-de-semana (perguntem a alguns pilotos como Gonçalo Gomes, Ricardo Teodósio ou Pedro Salvador!), pela primeira vez um Fórmula Bi-Lugar em Portugal que levou muita gente aos circuitos, inclusive o ex-Presidente Jorge Sampaio…

Para culminar, uma competição onde as máquinas eram, e julgo que serão por algum tempo, as mais rápidas do panorama nacional. (os 1.37.9 feitos pelo Gonçalo Gomes no Estoril acho que não deixam muita margem para críticas quanto à qualidade dos bólides!). Finalmente, custos por época que iam desde os 12.000 aos 18.000 contos (a avaliar pelas consultas que fizemos a alguns dos intervenientes), com um retorno bastante acima da média e com um grau de exigência e competitividade somente encontrados nos melhores campeonatos internacionais. (Não me esqueço que alguns pilotos internacionais quiseram dar os seus primeiros passos em fórmulas, precisamente neste projecto português… Andy Soucek foi um deles e veja-se onde está agora: piloto vitorioso na World Séries 3.5!!!)

A BOOST
Quando no ano 2000, e depois de uma reunião entre o Nuno (meu irmão) e Paulo Ferreira, se decidiu arrancar com um projecto para dinamizar a velocidade em Portugal, poucos acreditaram que se conseguiriam unir tantas entidades diferentes em prol de um objectivo comum.

O Artur Lemos, o Moisés Martins ou o Nuno Silveira formaram, com o Nuno o Paulo e eu próprio, o “TaskForce” que desde início deu força a uma nova empresa de promoção do desporto automóvel em Portugal: a BOOST!

Em conjunto a BOOST tinha a Fórmula BMW, a Fórmula Novis by Ford, o Troféu Renault Clio e criaria mesmo um novo troféu: a Mazda Cup.

O projecto pretendia a realização de eventos de elevada qualidade, próxima dos padrões internacionais, e para isso necessitaria de um forte união entre todos os intervenientes para que se conseguissem com custos semelhantes realizar eventos de maior qualidade.

Nunca como até então se viram provas nacionais com tanto Publico, Promoção ou Organização. Nunca como até então tinha existido tamanha disciplina num evento nacional… Parqueamento, Acessos, Bilhetes e Credenciações, Horários ou Disposição de Boxes e Planeamento de Paddocks.

E foi esse mesmo o princípio do fim da BOOST. Querer, como se diz em português comum, “Pôr ordem na casa”!!!…

Todos dizemos que em Portugal é tudo mau, que não surgem ideias inovadoras ou que ninguém faz nada pelo desporto motorizado. Quando alguém faz, e felizmente que ainda vão aparecendo alguns, surge sempre uma contra-força. Tudo serve para o famoso “Bota-a-Baixo” e… quando já não há mais argumentos, existe sempre aquele tão tipicamente “nosso”: estão a fazer isto para enriquecer!!!!…

A ideia que me dá é que, como dizia Eça de Queiroz, “Ninguém quer governar, mas ninguém quer ser governado”. Uma verdadeira Anarquia!!!!

Conclusões
Depois de tanta prosa, peço desculpa pela falta de poder de síntese, deixo-vos uma conclusão simples. Mais simplificada com uma metáfora!

Em Portugal, grande parte dos pilotos (e muitas vezes os mais críticos!!!), não gostam de ser confrontados com desafios ou propostas de risco! Poucos encaram as corridas no “presente” ou “futuro”… É mais um “pretérito imperfeito” do automobilismo português: “Se tivéssemos… Se houvesse… Se… Se…”

Poucos querem ter um “Ferrari” nas mãos. A maioria prefere um “Minardi”.
E sabem porquê?
Porque com o “Ferrari” só há um objectivo! Ganhar…
Com o “Minardi” é mais fácil fazer brilharetes…

Cá estarei em breve para a “Parte 2”.
Um abraço,
Pedro

12 de Julho de 2006

CARREIRAS

Depois do texto que aqui escrevi em Março, onde dei a minha opinião sobre o que corre mal na angariação e gestão de patrocínios, gostava de agora falar-vos de algo também ligado ao que abordei anteriormente e que tanta influencia tem na imagem do desporto automóvel nacional em geral. A construção e gestão das carreiras dos nossos pilotos.

Raros serão os jovens amantes deste desporto que quando confrontados com a pergunta:
“ O que queres ser quando fores grande?” – não nos respondam:
“Quero ser piloto de Fórmula 1.”

Temos assistido nos últimos anos a um crescente número de pilotos que tentam a “sua sorte” e atrás destes alguns “managers” ou “gestores de carreiras” que de um dia para o outro têm os automóveis no “sangue” desde pequeninos e tudo desta modalidade parece rapidamente terem captado. Qualquer coisa do tipo: “Curso rápido de iniciação à gestão internacional de pilotos de automóveis”.

A gestão de carreira de um piloto no difícil e competitivo panorama internacional não deve ser gerida com amadorismos disfarçados ou camuflados por um “show off” que o poder financeiro ou o marketing têm vindo a conseguir.

Criam-se ilusões nos pilotos, nos patrocinadores e nos próprios adeptos em geral, ilusões estas que, ao “caírem por terra”, destroem por vezes carreiras muito promissoras, mas também a já diminuta credibilidade do automobilismo em Portugal. Aquilo que se promete e anuncia projectar para um futuro a médio prazo, cai como que “castelo de cartas” às mãos de uma criança num espaço de tempo inacreditável.

Tenho uma empresa ligada às promoções desportivas e de eventos, gestão de equipas de competição e “management” de pilotos (Atletas!)… Digo-vos com toda a sinceridade que não me via, apesar do sucesso que temos alcançado na nossa área, a enveredar por outras áreas sem que fosse muito bem assessorado e mesmo assim…

Não tenho dúvidas que alguns “tiros” sairiam certos… Mas grande parte!… Francamente não vejo um músico a gerir um tenista, um piloto a agenciar um actor ou um futebolista a dirigir uma orquestra…. Pelo menos sem um largo passado ligado à área que decidir abordar.

No meu entender, uma questão à partida constitui grande diferença, podendo alterar o rumo da vida destes jovens praticantes com as inerentes consequências futuras….

“Queres ser piloto de F1 ou queres ser piloto profissional e viver deste desporto?”
Esta é uma das perguntas que várias vezes coloco aos jovens pilotos que comigo se têm cruzado e em especial àqueles que têm corrido sob o olhar atento da nossa estrutura de competição e formação – Couceiro Júnior Team.

E é mesmo aqui que normalmente começam os problemas!

Nas últimas duas décadas, especialmente desde que me internacionalizei, tento perceber qual a melhor maneira de gerir uma carreira na velocidade … Qual o verdadeiro “caminho das pedras” para se ser profissional e viver dos “automóveis”.

Sabendo todos nós que existe quase sempre mais do que uma via para atingirmos os nossos fins, cedo me apercebi e apoio hoje ainda mais essa teoria, que no desporto motorizado internacional essas tais “vias” são bastante reduzidas e quase sempre se resumem a um percurso similar.

Por mais que tentemos inventar, fugir desse “caminho” já traçado por tantos outros, somente nos vai prejudicar ou irremediavelmente separar de uma carreira de sucesso. O caminho até ao topo (estou como é lógico a referir-me não só à F1, mas também á profissionalização internacional) não tem, como ás vezes parece, sido assim tão alterado nas últimas décadas. E para tal vejamos. Desde que me lembro que esse percurso, quase sempre, se pôde resumir a uma escalada tipo:

Anos 80
Fórmula Ford – Fórmula 3 (Inglesa) – Fórmula 2 – Fórmula 1

Anos 90
F.Ford ou F.BMW/F.Opel ou F.Renault – Fórmula 3 (Alemã ou Inglesa) – Fórmula 3000 – Fórmula 1

É agora, neste princípio de século que tudo se parece baralhar… Porquê? Porque, nunca como agora existiram tantas fórmulas de promoção, tantos campeonatos internacionais, tanto dinheiro envolvido… E, no entanto, se analisarmos bem, tudo vai acabar na mesma….

Salvo muito raras excepções, diga-se quase sempre suportadas pelos $$$$ dos organizadores de alguns campeonatos, continuamos a ter como base das carreiras dos melhores pilotos internacionais, qualquer coisa como (aos dias de hoje!):

Fórmula Renault – Formula 3 (Europeia) – GP2 – Fórmula 1

Vejam-se os exemplos mais recentes, mas também de um passado não tão longínquo e cedo chegamos à conclusão que o que atrás afirmei é uma realidade.

Não quero com isto dizer que todos os outros campeonatos nas fórmulas de promoção não sejam competitivos ou bem organizados. Quero simplesmente dizer que para se chegar ao topo tem de se seguir os caminhos onde estão os “melhores”…. Somente competindo onde estão as referências de cada uma das disciplinas, das diversas gerações, pode ambicionar-se ser um dos melhores e, como os melhores vão para os mais fortes campeonatos, também estes mesmos campeonatos se reforçam recebendo os melhores pilotos.

Uma autentica “pescadinha de rabo na boca”… Uma só observação: Não vale a pena inventar!

Depois, se conseguirem chegar “lá a cima”, melhor, mas caso isso não acontecer, ficará por certo aumentada a probabilidade de poderem ingressar noutros campeonatos (normalmente GT’s ou Turismos) e aí prosseguirem as suas carreiras de uma forma profissionalizada.

Este tem sido um dos meus “cavalos de batalha” e algo que tenho tentado transmitir ao meus pilotos desde que formei o CJT-Couceiro Júnior Team com o meu irmão Nuno. Tenho tido o privilégio de trabalhar com alguns dos melhores pilotos nacionais da nova geração. Álvaro Parente, Filipe Albuquerque, Duarte Félix da Costa ou Armando Parente são disso um bom exemplo.

Irei falar-vos um pouco do Filipe, por ser aquele que ainda hoje continua ligado à nossa estrutura e para o qual temos feito uma gestão de carreira, consoante os nossos ideais. Desde que o conseguimos colocar como piloto oficial da CRG, uma das mais importantes marcas do karting mundial, vínhamos a tentar ver como dar o salto para os automóveis.

Quando o concretizámos, com a parceria fantástica da Red Bull, somente os mais competitivos campeonatos nos interessaram…. A formação de um piloto faz-se entre os melhores e aprendendo a sair derrotado dos grandes embates…. Não se faz com vitórias de ocasião e que pouco ou nada de relevante poderão ter no panorama internacional.

Uma das coisas que tenho notado em Portugal é que se atribui um valor enorme às vitórias, normal como é lógico, mas depois analisam-se muito mal, no meu entender, resultados que valem mais do algumas dessas vitórias….

Esquece-se, quem isto não consegue atingir por pouca informação ou preparação, que esses mesmos resultados são ou poderão ser mais fortemente responsáveis na ascensão de um piloto do que aqueles primeiros lugares que, para além de nós, poucos lhe reconhecerão mérito idêntico!

Isso já se passava na altura em que ascendi pelos diversos degraus do automobilismo internacional e vejo que continua também agora a passar-se!

Por isso mesmo a minha conduta com os pilotos que tenho podido ajudar. Subir… Mas sempre pelo caminho mais difícil…. Lutar com os melhores é a mais forte das vitórias e serão compensados aqueles que esse “trilho” escolherem.

O tema que aqui hoje abordei, ainda que um pouco superficialmente, vira-se simplesmente, como compreenderão, para os pilotos de velocidade e, dentro desde grupo, para aqueles que pretendem criar uma carreira internacional profissionalizada. Talvez por essa razão, gostaria de abordar e alargar este tema no meu futuro texto, mas agora virando-me para “dentro de casa” e fazendo um paralelismo entre as três grandes modalidades presentes no nosso país – Rallies, Velocidade e Todo o Terreno.

19 de Abril de 2006

SPONSORS

Ao terminar a crónica de Janeiro último referi que iria seguidamente falar sobre Patrocinadores. Fi-lo porque pretendo dar aos textos por mim aqui apresentados alguma sequência lógica, sobretudo no que toca aos (no meu entender) maiores problemas do Automobilismo Português.
Se me permitem, vou contar-vos um pouco da minha história dentro da competição e a relação com os Sponsors ao longo de todos estes anos e com esse exemplo tentar mostrar algo nem sempre constatado à primeira vista por todos nós. A destruição dos já poucos apoiantes do desporto motorizado em Portugal.

O que é na verdade um Sponsor?

Quando em 1982 o meu Pai me ofereceu um Kart, tive a felicidade de ter tido o meu primeiro patrocinador, o chamado “Pai-trocínio”.
Se é verdade que quase todas as histórias no desporto motorizado começam desta forma, certo é também que cedo me apercebi que, ou começava trabalhar para encontrar quem me ajudasse financeiramente na minha carreira, ou não teria grande futuro. Se, como disse, tive a felicidade de ter um Pai que me deu o primeiro empurrão, sempre soube, também, que ele não teria os meios para me ajudar com muito mais do que isso. E mesmo que os tivesse, não era esse o meu propósito, pois se queria ser profissional teria de me habituar a viver pelos meus próprios meios.

Desde muito cedo, em parceria com o meu irmão Nuno, parti em busca de empresas, amigos, parceiros, enfim… todos quantos pudessem e quisessem dar uma “ajudinha” neste meu princípio de actividade.

Propostas para um lado, telefonemas para outro, mais as reuniões, apresentações e os balanços de final de temporada, fizeram com que desde muito tenra idade fosse confrontado com a difícil realidade de ter que prestar contas a quem em mim investia.
Julgo que este foi o primeiro grande ensinamento que tive das “Corridas”.

“Somos nós quem deverá estar ao serviço dos Sponsors e não os Sponsors ao nosso serviço”.

Porque continua um Sponsor a apostar num determinado projecto?

As minhas épocas, desde a Júnior ás categorias “maiores” do Karting Nacional, foram correndo relativamente bem e eis que chegou a altura de dar mais um salto no desconhecido…
“A Competição Automóvel”.
Sem nunca ter tido na família alguém ligado ao desporto motorizado, podem acreditar que não se afigurava nada fácil entrar num meio tão restrito e onde o factor financeiro, mas também os conhecimentos desportivos, tinham tamanha importância.
Estávamos em 1989 e uma vez mais o Nuno e eu decidimos arriscar.
Pedimos dinheiro emprestado a um amigo para comprar um Fórmula Ford e fomos ao encontro de “velhos” parceiros, mas também de novos investidores.
Com um carro muito bem dividido conseguimos encontrar a verba para disputar todo o campeonato e depois, em 1990, repetir a “dose” e sagrar-me Campeão Nacional. No “entretanto” muitos foram os contactos que desenvolvemos, tanto a nível técnico como financeiro. Esses contactos/conhecimentos viriam a ser muito importantes pois foram alguns deles que me encaminharam para a desejada carreira “fora de portas”.

Após esse título nacional, virei-me para o exterior a 100%, uma vez que já tinha começado a desbravar caminho com umas corridas em Inglaterra. Só fora de Portugal teria as garantias de me tornar profissional, continuando a subir pelos diversos degraus do desporto internacional e foi isso que fiz.
Cada vez mais os patrocinadores tinham de ser bem trabalhados e demonstrados os verdadeiros benefícios de estarem presentes em tal projecto.
Foi nessa altura que começamos a trabalhar com o apoio de uma empresa desconhecida no meio até então. A Memorandum.
Acredite-se ou não, somente passados quase 10 anos começou a ser rotineira a avaliação, por parte dos Pilotos, de dados tão importantes como aqueles que a empresa de Coimbra nos fornecia… e ainda hoje fornece.
A análise constante de dados, sua valorização e projectos de optimização do agora “vulgar” Retorno, fizeram com que a nossa abordagem ás empresas fosse cada vez mais profissional e proporcionássemos aos patrocinadores forma de calibrar os seus investimentos.

Subindo pelos diversos patamares, primeiro os Europeus de Fórmula Opel-Lotus e seguidamente os campeonatos de Fórmula 3, constatei, pela primeira vez, que nem sempre são os resultados, nem desportivos nem mediáticos, o mais importante no progresso desportivo de um piloto.

Porque continuam os Sponsors cada vez mais arredados da nossa modalidade?

Tinha terminado a temporada de 94 na Alemanha. A época desportiva tinha sido melhor do que as melhores previsões. 7 Podiuns no ano de estreia na competitiva Fórmula 3 Alemã, 5º lugar final no campeonato e somente suplantado por pilotos oficiais foi resultado suficiente para ser chamado pelo Dr. Helmut Marko (este mesmo que agora gere os destinos da RedBull competição e do nosso Filipe Albuquerque) para integrar o Team Oficial Fiat e guiar o carro campeão dessa temporada.
Mas algo estranho se começou então a passar! Eu, que tinha sido um dos pilotos internacionais com melhores resultados nessa época deparava-me agora com enormes dificuldades em encontrar, ou mesmo continuar, com os meus parceiros de até então.

Nunca, como naquela altura, tinha percebido tão bem como “as más-línguas” e uns tais de “opinadores” poderiam ter um papel tão destruidor.

Uma vez mais consegui “levar a água ao meu moinho” e em 1995 fui piloto oficial da Fiat, melhor representante da marca italiana no “Alemão de F.3” e, uma vez mais, um dos pilotos nacionais com maior “retorno” dos seus patrocinadores.
Com tudo isso consegui dar o salto e cheguei à F.3000 Internacional, patamar último antes da Fórmula 1.

Esta foi sem dúvida a fase mais difícil da minha carreira, mas, acreditem, também aquela que mais força me deu para continuar e demonstrar que sempre podemos avançar sem pisar ninguém. E não imaginam a vontade que ás vezes eu tive! 🙂

Em 1996 havia em Portugal dois pilotos na velocidade com destaque superior à média.
O Pedro (Lamy), com uma carreira brilhante e que havia regressado após o complicado acidente em Silverstone – 1994, e eu próprio, que assumia este posto também pelo simples facto de estar numa das mais importantes categorias do desporto motorizado internacional.

1996 e 1997 foram dois anos em que fui simplesmente “bombardeado” por alguns sectores do desporto motorizado nacional. Alguns “Pilotos” e “Jornalistas” tentaram, felizmente em vão para mim, menosprezar os meus feitos ao lançarem “lenha” para uma “fogueira” que acabou por mais “queimar” quem essas hostilidades iniciou.

Sou-vos o mais sincero possível se vos disser que ainda hoje não compreendo esse “ódio visceral” com o qual fui confrontado. Tudo pelos Sponsors que tinha, deixava de ter, que em mim investiam ou deixavam de investir. Seria para mim fácil dizer que era inveja, mas acredito que não era essa somente a razão de tantos e variados ataques.

Ainda hoje fico com um “sorriso” quando volto a rever algumas notícias da época.
Essencialmente houve dois pontos com o qual fui “atacado” na altura e que, passados estes quase 10 anos vos gostaria de resumidamente falar. Penso que esta minha curta descrição será um bom exemplo do porquê dos Investidores estarem cada vez mais longe da nossa modalidade.

Logo após as duas fortes épocas que realizei nos campeonatos de F.3 e quando entrei na F.3000 Internacional, alguns “pilotos” e “jornalistas” começaram a tentar passar a ideia de que eu era um piloto sem “curriculum” e apenas com forte “lobbie” politico.
“Mas porque razão”… perguntava-me várias vezes… “estes ataques tão desenquadrados da realidade?”

Ao nível de campeonatos de F.3 era o piloto que melhores resultados apresentava, após a passagem, “fantástica” diga-se, do Pedro (Lamy) por essa modalidade. Nos campeonatos de F.3000, e apesar de inúmeras desistências forçadas tinha pontuado na minha primeira prova na disciplina (facto que até hoje continuo a dividir exclusivamente com o Pedro) e tinha alcançado um segundo lugar em Silverstone (ainda hoje o segundo melhor resultado de sempre alcançado por um português nesse escalão, depois da vitória de Lamy no G.P. de Pau em 1993).

Depois, ao nível de apoios financeiros, diziam que estava apoiado num forte “lobbie” político, leia-se Partido Socialista, e que somente por isso conseguia granjear tantos e tão bons apoios.

Esqueciam-se os ditos, “Pilotos”, “Jornalistas” e outros “Opinadores” que todos os outros que como eu tinham atingido tão elevado patamar teriam já tido, tinham ou viriam a ter sponsors condizentes com o “grau” da carreira que então tinham atingido.
Mais… A contrastar com muitos que inclusivamente me criticaram na altura, tive na base dos meus apoios muitas empresas privadas nacionais e internacionais.

Expressões como:

“Pedro Couceiro – Uma história cor de rosa”, “O piloto do – Jobs for the boys…..”, ou declarações de alguns praticantes da época a tentar passar a imagem de que eu tinha patrocinadores por via politica e que eles nada conseguiam, foram prática corrente nessa altura.

Hoje, posso afirmar-vos com todo o rigor que são situações como as de então que fazem com que Sponsors vitais para todos nós venham a desaparecer do mundo desportivo automóvel. Estão cansados de se verem “manchados” por estas “guerras”, essencialmente lançadas por elementos “fracos”.
Alguns desses pilotos desapareceram do “mapa desportivo”, outros continuam num verdadeiro “chove mas não molha”, mas todos eles, acredito, aprenderam que para se conseguirem patrocinadores é necessário trabalho, resultados e… o tão difícil e invejável “Retorno de Imagem do Investimento”.

É fácil dizer mal…. Isso todos nós o sabemos. Difícil é fazer melhor que os nossos adversários. Para tal é necessário trabalho e, infelizmente, muita dessa gente que tanto critica, anda nos automóveis somente para se divertir.

Encontrei neste Desporto mais do que uma paixão. Encontrei uma profissão.
Também eu, como tantos outros, tirei um curso superior e bem podia estar de 2ª a 6ª feira a projectar qualquer coisa, para depois chegar ao fim de semana e me pôr atrás de um volante.

Ao invés, estou 24h por dia, 365 dias por ano com a cabeça nas “Pistas”, nos “Motores” e nos “Patrocinadores”.

Só assim podemos dar “retorno” a quem realmente investe nas nossas carreiras.

Gostava que fossem ao meu WebSite e lessem a crónica “Carta Aberta” publicada no semanário Autosport, e por mim escrita em 1997. Apreciem como está mais actual do que nunca! E em como o trabalho e a verdade são como o azeite…. “Vêm sempre ao de cima”!

Como já o fiz na anterior crónica, gostaria de vos dar o “mote” da minha próxima crónica aqui no Sportmotores.com. “Carreiras” será o tema e tentarei abordar tudo o que está relacionado com o evoluir da carreira de um piloto.

Um abraço a todos e até breve.

8 de Março de 2006

OPINIÕES

Gostaria de começar esta minha primeira crónica agradecendo o convite endereçado pelo SportMotores.com. Aceitei-o com muito gosto, não só pelo respeito que este “Site” me merece, mas essencialmente por sentir que existe uma enorme “Acção em Campo” por todos os seus intervenientes em prol da informação, correcta e isenta.

Julgo que a minha contribuição poderá ser interessante para trazer novos temas a debate e espero dinamizar novas discussões, no “Bom Sentido” da palavra!

Sigo com muita atenção o SportMotores.com quase desde a sua criação. O facto de não se tratar de um órgão de comunicação tradicional – Jornal, Rádio ou mesmo Televisão – fez com que receasse e mesmo, devo confidenciar-vos, não acreditasse na sua longevidade ou rigor informativo.

Todos sabemos que para existir um acompanhamento cuidado do desporto motorizado, nacional e internacional, são necessários meios somente ao alcance de alguns “Sectores”, facto que sempre pensei vir a condicionar a vida de “Sítios” como este. Enganei-me redondamente e somente vim a convencer-me, uma vez mais, que, como em tudo na vida, não bastam os “meios”, as “verbas” ou as “influências”…. É necessário acima de tudo – “PAIXÃO”. É isso que encontro na equipa do SportMotores. Uma grande paixão por informar, correcta e detalhadamente, quem mais gosta de “Motores”.

Finalmente e mesmo antes de iniciar o tema que escolhi hoje abordar, gostaria de ir sentindo o vosso “Feedback” ao que aqui for escrevendo. Estou certo que sairão mais ricas as minhas futuras crónicas e que ficarão mais fortes as nossas futuras “Discussões”.

Opiniões. Porquê começar por aqui?

Tenho 35 anos e há já 23 que ando nestas andanças das “Corridas”. Em toda esta caminhada, onde tenho passado pelas mais diversas e complicadas “Batalhas”, fui-me apercebendo que mais do que factos concretos são as “Opiniões” que realmente se fazem sentir. Opiniões dos Patrocinadores, dos Técnicos e dos Pilotos, dos Gestores ou Chefes de Equipa, dos Jornalistas, enfim, de uma série de pessoas envolvidas neste mundo e que são verdadeiramente quem faz a “Roda Rolar”.

Há, depois e ainda, a opinião dos Fãs e Admiradores ou do Público em geral. Finalmente existe a daqueles a quem eu chamo “Opinadores”. São aqueles que de tudo e de todos falam, que a nada assistem, que nada vêem, nada sabem, mas sobre tudo e todos “Opinam”. É essencialmente sobre esta última classe que me gostaria de debruçar. Não porque lhes devamos dar muita atenção, mas pelo contrário porque são estes que verdadeiramente vão “matando” aquilo que nos é mais querido.

Tive a felicidade de emigrar, depois de ter sido campeão de Fórmula Ford, e há já 16 anos que corro fora do nosso País. Não se pense, no entanto, que não tenho continuado a acompanhar e mesmo a intervir no panorama nacional. Mas sobre isso mais tarde falarei.

Muitas vezes temos falado do que nos separa dos nossos parceiros internacionais, o porquê de dum panorama cada vez mais cinzento para o desporto automóvel português. Tendo integrado nestes últimos 15 anos campeonatos tão distintos como a Porsche Supercup, os Europeus de Fórmula Opel, a Fórmula 3 Alemã ou a Fórmula 3000 Internacional, tive a possibilidade de presenciar realidades muito diferentes. Um ponto comum, no entanto, verifiquei sempre existir. A competição, a rapidez e qualidade dos Pilotos, Técnicos e Equipas fala sempre mais alto do que os problemas exteriores que possam surgir.

Cá em Portugal tenho assistido a situações verdadeiramente contraditórias. Poderia alongar-me por linhas e linhas de “prosa”, mas vou deixar-vos dois ou 3 exemplos típicos de como a situação se tornou insustentável e como não prevejo evolução enquanto este problema não for contornado.

Regulamentos:
De cada vez que surge “novo sangue” para a realização de um campeonato nacional de velocidade digno deste nome vejam quantas cabeças “opinam” sobre como deveria ser, o que deveria fazer-se, o que está bem ou o que está mal.

Ouço opiniões técnicas, logísticas, promocionais e outras que tais… Enfim… Todos têm uma opinião, mas muito poucos sabem do que falam. Faz-me lembrar um pouco o que se passa com os chamados “treinadores de bancada” do futebol português… Nunca nada está bem… A não ser que a equipa vença por “15 a zero”…. Como dizem os “Gato Fedorento”! Isto somente faz com que exista um crescente descrédito da classe e do nosso desporto.

Informação:
Quantas vezes não viram já crónicas ou simples notícias sobre a qualidade do Piloto A ou do Piloto B. Sobre os investimentos nos Projectos X ou Y ou sobre a má aplicação dos dinheiros de alguns patrocinadores, que na opinião desses “Opinadores” deveria ser canalizada desta ou daquela forma.

Muitos destes tais “Opinadores” não fazem a mínima noção do que é o automobilismo de hoje. Alguns, mesmo, não sabem o que é ver uma corrida ao vivo há muito tempo, quanto mais acompanhar os Pilotos A ou B!

Temos visto carreiras de alguns dos nossos melhores representantes serem perfeitamente “trucidadas”. Sei que nós, Portugueses, temos por hábito apoiar e enaltecer aqueles que estão em situações mais difíceis, mas… por favor… não façamos eternos romances de causas perdidas…

Esta tem sido, quanto a mim, a verdadeira “Bomba Relógio” do desporto motorizado nacional. E se falámos em exemplos, histórias reais não faltarão para melhor identificar estes problemas. Mas quanto a essas cada um terá uma em mente e esta minha crónica mais não gostaria que fosse um alerta, um chamar de atenção para o que vivemos actualmente.

Sempre ouvi, desde criança, uma expressão que aqui se aplica na perfeição: “Cada Macaco a seu Galho”! E é talvez isto que não se passa no nosso desporto nacional e em particular no que mais nos toca directamente – Automobilismo.

Na minha próxima crónica falarei sobre “Sponsors”, algo que tanto afecta o normal desenrolar dos acontecimentos e que, nesta época do ano, anda tão nas bocas do “Mundo das Corridas”.

Um abraço a todos e até breve.

24 de Janeiro de 2006

ESTADO DA NAÇÃO

Nos últimos tempos muito se tem falado e ouvido sobre a situação, complicada, em que o Automobilismo Português se encontra.
No entanto muito se fala, muito se ouve, mas nada se faz…
Deixamo-nos arrastar para o abismo que nos espera, sem que um mínimo de resistência façamos.

É tempo de nos organizarmos e debatermos a situação.
Em vez da análise fácil e crítica feita no exterior, devemos agir activamente… dar a nossa opinião… contribuir directamente para a mudança de rumo.
O balanço até ao momento é negativo. A “Nação Automobilística” está fraca. Parece não existir interesse em mudar o que está errado. A culpa, essa, é de todos nós que nos acomodamos à simples evolução dos acontecimentos.

A mais importante viragem do Desporto Automóvel em Portugal dar-se-á somente quando todos os intervenientes se sentarem a uma mesma mesa e discutirem “In Loco” as dificuldades que a todos atingem.
A nossa federação poderá e deverá ter um papel muito importante neste campo, dando atenção às opiniões vindas das diversas áreas. Reunir consensos, atenuar e resolver divergências poderá ser o primeiro passo para a mudança de rumo que se pretende há muito.

Este exemplo de abertura somente irá causar o “ânimo” de uma comunidade sequiosa em intervir.
Mas enganem-se aqueles que acham que intervir é somente pôr as suas ideias a concurso. Intervir é também estar preparado para ouvir e trabalhar num mesmo sentido.

Chega da já cansativa “Conversa de Café”!

Não tenho a mínima dúvida que este semanário, verdadeira referência na nossa “comunidade”, pode também ter um papel crucial.
Acima de tudo necessitamos de alguém que organize as inúmeras ideias espalhadas pela nossa “Nação Automobilística”. Alguém que dê estrutura as essas ideias, que crie um verdadeiro “Manual de Mudança” com “Cabeça. Tronco e Membros”.

A nossa comunidade necessita, há muito, de um “Forum” de discussão. Haja ideias… Por muitas que sejam, nunca serão demais e somente contribuirão para se averiguar do verdadeiro “Estado da Nação”.
A participação activa de pilotos, marcas, comissários, promotores e organizadores no futuro do automobilismo é vital para a construção de uma estrutura sólida.

Acho que há um lugar para todos, mas cada um deve saber os seus limites e as suas competências.
A celebre e nacional expressão do “Bota Abaixo” é-nos comum nos dias de hoje e somente faz com que o nosso Desporto continue numa constante “descredibilização”.

Falar sobre o Karting, a Velocidade, os Rallyes ou o Todo-Terreno, mas também sobre a promoção e divulgação, as regulamentações ou organização de eventos.
Existirão, por certo, dezenas de pontos a abordar e em que cada um deles terá importância fundamental no desenrolar de todo o processo.
Planificação deverá ser a nossa palavra de ordem.

NOTA – 1
Na última crónica fiz referência a um ponto que me preocupa bastante e, talvez devido a isso mesmo, acrescentaria mais umas linhas sobre o assunto.
A forma como nos dias de hoje se enviam grande parte dos comunicados de imprensa fará com que todo o sistema entre em colapso e por consequência ninguém (Media) queira sequer ouvi falar de “Desporto Automóvel”.
O recurso ao “Press Email” é hoje uma ferramenta comum e, felizmente, com potencialidades muito grandes.
No entanto, se mal utilizadas, terão resultados desastrosos…..
Veja-se:
A notícia (Email) tem por norma associada o envio de uma foto com qualidade para publicação.
Existirão 2 formas distintas de fazer tal envio. Ou fazer um simples “Attach” do ficheiro-foto ou, na própria notícia ter um “Link” onde poderá descarregar-se a pretendida foto.
A diferença será, por parte do destinatário, receber um Email com “5 Kb” ou com “500 Kb” !!!
Agora imaginemos um jornalista ao Domindo à tarde….
Quantos “Pilotos”? Quantos “Press’s”?
Bem… sem cuidado pela parte de quem envia, a diferença é receber (façamos 60 Emails!!!!) entre 300Kb ou 30 MegaBytes….!!!
Eu, pela minha parte, deixaria de prestar atenção… pois nem sequer tinha paciência para os descarregar!
Sem dúvida um assunto a pensar…..

23 de Junho de 2003

PROMOÇÃO

Nos últimos anos muito se tem falado da promoção ou divulgação do Desporto Automóvel em Portugal.
É visível um cada vez maior número de inserções nos “Media”, suportados por um grande empenho dos seus protagonistas em mostrar “ao mundo” como apostar no Desporto Automóvel … “Vale realmente a pena”.
Todos nós sabemos desta importância e todos nós, também, pretendemos que tal aconteça.
Devemos, apesar de tudo, estar conscientes que a quantidade é inimiga da qualidade.
Poderá parecer um pouco antagónico, mas é precisamente no momento em que todos queremos falar mais e divulgar mais o “nosso” desporto, que devermos reflectir sobre quando e como o fazer.

“OS COMUNICADOS”
Hoje, e graças às novas tecnologias, é fácil chegar a “quase” todos os lugares, é mais fácil informarmos quem queremos informar, mas é também mais fácil que a mensagem passe errada ou seja mal interpretada.
Nos últimos anos houve uma grande corrida ao apoio da Comunicação Social, pois todos sabemos que sem ela não poderíamos passar a nossa “mensagem”. Se é certo (também eu acredito) que esse é o passo mais correcto, certo é também que basta começar a existir a ideia que algumas, poucas, dessas “mensagens” são parcas em conteúdo, para que todo o processo sofra um revés.
Promover uma acção não passa simplesmente pelo envio da notícia. Há que dar conteúdo a essa acção para que ela possa realmente transformar-se em notícia.

“OS RETORNOS”
Quando há cerca de doze anos comecei a trabalhar com a “MEMORANDUM”, empresa de controlo e análise de informação, sabia a importância de uma quantificação rigorosa dos projectos em que estava envolvido.
Afinal, todos os intervenientes no mundo do desporto motorizado acabam, à sua maneira, por ser verdadeiros “agentes publicitários”.
Lembro-me, com alguma graça, que no início da minha carreira profissional era colectado fiscalmente como:
Angariador de Publicidade!!!

E se formos ver bem, é algo que é uma realidade.

Todos nós, enquanto pilotos ou promotores de eventos, vivemos das ligações comerciais e da divulgação de um referido “produto”.
E é precisamente aqui, quando todos estes factores começam a estar em jogo (Promoção / Acção) que os problemas podem começar a surgir.

Cada vez mais, a gestão do desporto automóvel em Portugal deve ser encarada como se de uma empresa se tratasse.
E como num projecto para se atingir o sucesso não podemos dar lugar simplesmente ao “Part Time”, temos de uma vez por todas fechar o circuito e profissionalizar áreas chave da nossa modalidade.
Somente assim atingiremos os nossos propósitos, os de termos um Desporto Autómovel forte e seguro.
E digo isto, porque, somente profissionalizando se podem incutir as responsabilidades. Somente profissionalizando podemos fazer com que quem está na acção saiba o que realmente está a fazer.

O patrocinador que investe quer estar associado a profissionais e se não se sentir contente tem por certo uma “panóplia” enorme de novas áreas para canalizar os seu investimentos.
É por essa razão que devemos saber muito bem aquilo que estamos a fazer, sob pena de atingirmos o “PONTO ZERO”, que é o de simplesmente não existir quem queira apoiar o desporto automóvel.

“A CONCORRÊNCIA”
Talvez por esse mesmo facto, o de existir uma cada vez maior corrida aos “sponsors”, esses mesmo fogem da nossas actividades…..
“Como é que é ?”
A concorrência deveria ser salutar entre os vários envolvidos no automobilismo português.
Ao invés, e em vez de nos concentrarmos positivamente nos nossos projectos, acabamos por quase somente estarmos no meio para nos preocuparmos com o que a “concorrência” faz… e quase sempre nós achamos que os outros fazem mal…. É tipicamente nosso!
Podemos acreditar que não, mas o sponsor/investidor, mesmo que não envolvido a fundo nas nossas actividades, percebe muito bem todos estes pontos.
Temos uma cultura que urge alterar radicalmente:
“Não nos preocupamos em fazer melhor que o nosso concorrente, simplesmente tentamos anular as suas qualidades”

E enquanto a nossa filosofia for esta, dificilmente sairemos da “medianisse” em que nos encontramos.

Nunca aquela expressão:
“Deixai bem fortes os meus adversários para que possam assistir às minhas vitórias”

esteve tão bem aplicada ao que de momento se passa no desporto motorizado em Portugal.

Temos, de uma vez por todas, virar as costas a este problema acreditar que só assim poderemos seguir em frente.

28 de Abril de 2003

SINISTRALIDADE

Quando em Maio de 1988 passei no exame de condução e me deram para as mãos a tão esperada “carta”, estava longe de pensar que a partir daquele preciso momento a minha vida ia mudar radicalmente. Não me refiro a mudar, no sentido de passar a considerar-me um indivíduo “Auto-Mobilizado”, mas no sentido de ser atirado “literalmente” para um mundo selvagem e onde o respeito não impera.

Estava, então, bastante habituado ao mundo da competição automóvel, pois tinha já 7 épocas de Karting, modalidade onde desde muito jovem se aprende a lidar com a alta competição e as inerentes adversidades em pista que daí resultam. Em alta competição acabamos por conhecer os nossos adversários e, apesar das inúmeras adversidades, acabamos, de uma forma ou de outra, por respeitar quem connosco divide as pistas.
Foi precisamente esse o grande choque quando pela primeira vez me sentei ao volante e, sozinho, me aventurei pelas nossas estradas fora. A total falta de respeito pelo condutor que partilha as nossas estradas.

Desde a minha internacionalização, faz já 13 anos, que ando por este mundo fora e muito especialmente pela Europa, onde tenho percorrido dezenas de milhar de quilómetros.

Há uma conclusão evidente:
O condutor Português em nada fica a dever aos seus parceiros, exceptuado precisamente no comportamento e respeito em estrada. Somos de uma total falta de respeito pelas regras básicas de segurança e não existe a noção dos verdadeiros perigos que o seu não cumprimento pode originar na segurança pública… enfim…. falta-nos civismo.
Várias vezes me pergunto o que será necessário para mudar essa atitude, esse estado de plena inconsciência que atinge uma parte significativa dos nossos condutores.

Penso que a primeira grande solução reside na base da pirâmide da nossa sociedade. A escola primária deverá ser o embrião dos futuros condutores, não numa questão técnica, mas precisamente na questão do civismo e noção do verdadeiro flagelo que hoje em dia se vive nas estradas Portuguesas.
Mais acima nessa pirâmide, temos as escolas de condução. Também aqui, quanto a mim, urge implementar novos métodos de ensino. Sinto que cada vez mais o aluno não sai preparado para enfrentar o tal mundo real, mas sim para passar no exame e pouco mais.
Tenho a perfeita noção da necessidade de sabermos o código de trás para a frente e de o respeitarmos escrupulosamente. Mas para quê esse conhecimentos se o futuro condutor poderá não ficar com a mínima ideia do que é guiar com piso molhado?
Do mesmo modo tenho a sensibilidade que não podemos somente levar os futuros condutores para estradas ou pistas de testes e deixa-los sem consciência do que é parar num “Stop”.

Enfim, acho que tudo isso passa por uma questão de “Conta, Peso e Medida” e que tal não está a ser implementado neste momento.
Infelizmente todas estas situações parecem fáceis de mudar, mas certos devemos estar das dificuldades que imperam num sistema que já está em rodagem.
E é precisamente nesse sistema já em rodagem que julgo que se encontrarão as maiores dificuldades.

O condutor actual não teve uma formação que o leve a assumir os verdadeiros riscos que é estar por detrás de um “Volante”.
Julgo que todos nós automobilistas já alguma vez nos propusemos a “mentalmente” resolver este problema….
“Se eu fosse Governante…”
“Se eu fosse Autoridade …” enfim … “ Se eu pudesse mudar …”
Nesse meu exercício, acredito que somente uma solução radical poderá ter consequências positivas. Infelizmente não acredito em grandes melhorias no sistema enquanto não existirem medidas drásticas, porventura, anti-populares, mas que serão para o bem de toda a comunidade.

Julgo que o famoso tema do “excesso de velocidade” é simplesmente uma pequena “franja” do verdadeiro problema em si… e não me parece que a sinistralidade possa ter um “travão” enquanto andarmos, somente, à volta deste problema.
Sensibilizar os condutores que nos dias de hoje, lidar com um automóvel poderá ser tão perigoso como lidar com uma arma de fogo e que para tal ele necessita de uma cuidada formação… ou….. as coisas podem correr mal!
Apesar de toda esta minha visão negativista da actual situação rodoviária em Portugal, penso que temos de ser positivos em relação ao futuro.

Como numa competição teremos muito trabalho pela frente se quisemos bem terminar esta corrida.
Mas o saber que existe uma “bandeira de xadrez” à nossa espera dever-nos-à deixar determinados nesta batalha….

Fevereiro de 2003

PARA ONDE VAMOS?

Há uns dias atrás dei uma olhadela a um destes “Track Days” que o Autódromo do Estoril tem vindo a promover.
Se sempre achei que Portugal era e é um País de entusiastas do desporto motorizado, mais fiquei convicto quando vi a quantidade de interessados em dar umas voltas num circuito de competição, mesmo que com o seu carro do dia à dia.
É bom voltar a ver o abrir de portas de um dos mais belos circuitos internacionais, a este público tão específico.
Estes “Pilotos de Fim de Semana”, note-se que não o digo num sentido depreciativo (longe disso mesmo), têm por certo muito para dar e o seu contributo para com o Automobilismo Nacional é decididamente importante.
Não é que tenhamos novos pilotos amanhã, mas acima de tudo continuamos a cultivar o gosto pela “Velocidade” e o interesse, único, pelo que um circuito pode oferecer….

Como aparte, gostava de alertar para o facto de também neste tipo de acções o factor “Risco” estar presente por conseguinte achar muito, mas muito importante, uma análise sobre todas as questões de segurança para quem está presente: Activo ou Passivo….. As Boxes e PitLane são sem dúvida o maior problema!
Voltando ao tema inicial acredito plenamente no futuro do Desporto Motorizado em Portugal:
Temos, sem dúvida, o que de mais importante se exige para o sucesso de uma modalidade: Paixão…
Julgo, no entanto, que o grande problema com que nos debatemos poderá ser precisamente esse. A dita Paixão está, aos poucos, a matar o nosso desporto. Ponto antagónico, parece, mas não!
Penso que com tanto “Coração” que pomos neste nosso desporto nos esquecemos da outra metade fundamental: A Razão!

É um pouco como no final de um jogo de futebol: Quando uma equipa necessita de ganhar e a 5 minutos do fim perde por 1-0, joga normalmente com o coração e não com a cabeça… o resultado é, quase sempre, devastador!!!!
Bem, mas voltemos aos Automóveis pois de Futebol já se fala o suficiente.
Como referia, acredito que o nosso principal problema é o de não termos, ainda, uma estratégia futura para o Automobilismo Nacional.
Neste tipo de questões é sempre fácil apontar o dedo ao vizinho e tirar o “Mea Culpa” que possa existir. Mas a verdade é que todos nós somos responsáveis pela situação que o nosso desporto vive actualmente. E quando digo todos nós, refiro-me à pirâmide que começa no Pilotos e termina na Federação.
Urge, quanto a mim, mudar a mentalidade com que o automobilismo está neste momento a ser tratado.

Os Pilotos

Profissionalismo. Sem dúvida uma das palavras mais usadas no vocabulário de quem anda nestas aventuras, em Portugal.
Mas o que é Profissionalismo? É viver de, ou é ter uma atitude profissional?
Acho que esta confusão deverá ser rapidamente anulada.
Já o afirmei várias vezes, mas nunca é demais, que existe muito profissional sem a atitude que o próprio nome deveria exigir. Atitude… Atitude….. Atitude….. A forma como se encaram os problemas fará com que possa dizer-se que existe profissionalismo nas “Corridas” em Portugal.
Só depois disso poderemos ser verdadeiros “Profissionais”!

A Federação

Tal como os pilotos, também a federação deverá mostrar o caminho que quer seguir.
Uma Federação “pesada”, mas com um Automobilismo “leve” ou, por outro lado, uma Federação “leve”, mas com um Automobilismo de “peso”…. Eu, por mim escolho a segunda.
Não quero com esta frase feita, deixar de expressar o que penso sobre a atitude da nossa Federação.
A FPAK deverá ser para todos os praticantes como que uma “Mãe”…. um chefe de família que nos aconselha ou mesmo repreende, mas também que nos ouve….
Penso que, também aqui, terá que existir uma evolução na conduta da nossa Federação.
Maior profissionalismo ou maior rigor, não significa estar fechada sobre si mesma.
Uma maior abertura à comunidade automobilística: Pilotos, Equipas, Organizadores ou Promotores, em nada desprestigiaria a nossa entidade máxima.

O Futuro

Quando todos estes pontos “tocarem” em consonância, então teremos a “Razão” ao nível da “Paixão”…
Teremos garantidamente um Desporto Motorizado que faça frente às grandes potências Europeias.
A ver vamos…..

13 de Março de 2003

A PRÉ TEMPORADA

É com bastante prazer que aceito o convite para mensalmente aqui estar com os leitores do “Autosport” e deixar algumas das minhas opiniões sobre factos que poderão ser do interesse de todos nós, entusiastas do desporto motorizado.
Peço antecipadamente desculpa se os textos não forem num Português da melhor qualidade, mas ficarei plenamente realizado se a mensagem neles contida atingir os seus objectivos:

Um olhar atento e cuidado sobre o Desporto Automóvel em Portugal…

Os meses que antecedem o inicio das épocas desportivas, mais conhecidos por pré-temporada, são por norma os mais importantes da vida de um projecto.
As propostas de patrocínio, os novos projectos de competição, os comunicados de imprensa ou os retornos publicitários são pontos em que quase todos os competidores se debruçam nesta fase do ano. No fundo é com este trabalho que a época se poderá traduzir num sucesso ou num fracasso.
Felizmente tenho notado uma cada vez maior preocupação, por parte dos pilotos e equipas, em realizar uma boa preparação das suas temporadas.
Longe vão os tempos em que grande parte dos praticantes se limitava a tentar descobrir um “Sponsor” em Janeiro e em Dezembro enviar um cartão de “Boas Festas” a agradecer o apoio e a solita-lo uma vez mais para o ano seguinte!

Existe, cada vez mais, uma preocupação em criar projectos com “Cabeça, Tronco e Membros”…

Mas se tudo isto tem vindo a ser melhorado, se existe uma cada vez maior empenho no trabalho realizado nas pré-épocas… então o que é que se passa na realidade para termos cada vez menos pilotos a seguirem uma carreira profissional?
Poderá haver uma resposta simples, “é a crise”, mas que mais não é do que um voltar as costas à realidade.
No meu entender a resposta a tudo isto está na formação dos jovens pilotos, no “Karting”.

Quando comecei a minha carreira desportiva, faz este mês precisamente 20 anos, existiam em Portugal somente 2 Kartódromos: Estoril e Cabo do Mundo.
Desses, somente o circuito a norte sobreviveu, pois o então regresso da Fórmula 1 a Portugal matou por completo o complexo “kartista” do Estoril, matando também aí uma das melhores escolas de formação dos jovens pilotos de então.
Não obstante todos estes problemas, lembro-me que a postura firme dos pilotos da época resultou sempre numa atitude muito profissional, resultando daí projectos que proporcionaram alguns dos melhores anos do Desporto Automóvel em Portugal. Estou a lembrar-me do Diogo Castro Santos, do Pedro Lamy, do Matos Chaves, do Fernado Peres, do Ni Amorim, do Gião e de tantos outros que desde então tanto sucesso obtiveram para o desporto Português.

A minha pergunta de há pouco, poder-se-ia repostar com outra.
Mas se hoje em dia temos mais de uma dezena de Kartódromos, então o que é que se passa?

Acredito que existem, de entre alguns mais, dois problemas que serão o cerne de todo este problema.

Em primeiro será a atitude, logo desde o Karting, que vise a obtenção de patrocínios.
Em segundo, e quanto a mim o mais delicado, a mistura cada vez mais acentuada de desporto profissional e desporto amador.

Começando pelo (na minha opinião) mais simples, devo dizer que vejo, felizmente, o voltar de uma crescente apetência dos pilotos de Karting para começarem a procurar apoios desde muito cedo.
Sem dúvida que um dos problemas pelo qual o desporto motorizado Português passou nos últimos anos foi a de um “Self Investiment” nas carreiras dos jovens pilotos, investimento este muitas vezes sem travão na altura certa, o que levou a que alguns praticantes tivessem de abandonar ou alterar radicalmente o rumo das suas promissoras carreiras.
A profissionalização de um piloto deverá começar o mais cedo possível, caso contrário poderá ser tarde quando a estrutura deste quiser fazer o “Click”, deixar de investir o “próprio capital” e procurar parceiros, leia-se sponsors, que se associem aos seus projectos.

Mas existirá um segundo problema, o grande responsável pela actual situação do desporto automóvel em Portugal. “Desporto Profissional” versus “Desporto Amador”…
Sempre o disse, e continuará a ser minha a opinião que existe um espaço para todos, mas não deveremos confundir os propósitos de cada uma dessas vertentes.
Sempre achei, também, que existem muitos desportistas amadores com uma atitude mais profissional do que aqueles que esse nome detêm, mas isso será outra história….
Temos muito bons “miúdos” do Karting Português, com qualidade ao nível dos melhores da Europa e que se deparam constantemente com uma concorrência a nível de apoios, concorrência essa que não compreendo como pode existir.
Porque razão os potenciais patrocinadores comparam e confundem dois tipos de actividades tão díspares?
Sinto que todos temos cota parte de culpa nesse processo.
Mas sem dúvida que a resolução deste problema está em grande parte nas mãos dos Pilotos e da Federação.
Na Federação, porque urge implementar regras para distinguir, e bem, as provas profissionais das provas de lazer. Será essa distinção que fará com que comecem a ser vistos com outros olhos os Campeonatos Profissionais do nosso país.
Nos Pilotos, porque são eles próprios que ao não saberem onde correr levam a que haja uma mistura de opiniões em relação ás verdadeiras características das provas….
Parece-se um pouco com a história do “Ovo e da Galinha”!

Penso que no dia em que este problema for resolvido teremos um Desporto Motorizado melhor e, sobretudo, teremos mais pilotos a seguirem uma carreira profissional.
Continuaremos a ter, e ainda bem, muitos praticantes “Amadores”, mas num conceito de perfeita conciliação entre estas duas vertentes de estar no desporto.
Façamos com que esse dia chegue depressa para bem de todos nós.

29 de Janeiro de 2003

MÓNACO

Mónaco.
Este nome não passa despercebido a nenhum amante do desporto automóvel. Os circuitos citadinos têm, em geral, características muitos especiais o que os torna em verdadeiras catedrais das pistas de competição. De todos eles existem porventura três que são expoentes máximos do automobilismo mundial sendo, por isso mesmo, ponto obrigatório de passagem das grandes competições internacionais.

Pau, Macau e Mónaco. Destes, sem dúvida que é o circuito monegasco aquele que mais emoções atrai. Para isto, muito contribui o verdadeiro clima de festa que durante aqueles quatro dias do ano envolvem o principado. Mas é principalmente a imagem de toda aquela beleza que mais salta á vista de alguém que por lá passa. Construções maravilhosas que entram pelo mar dentro, embarcações de sonho, automóveis luxuosos, muita e muita gente e sobretudo aquelas ruelas transformadas em pista de competição.

Talvez por assistir a tudo isto, pela televisão, desde que a memória me permite, fiquei sempre como que com água na boca para visitar tão afamado local. E foi assim que no primeiro Inter-Rail que fiz, lá passei por Monte-Carlo. Lembro-me das inúmeras voltas que dei nas ruas que delineiam o traçado do Grande Prémio. Mas é da segunda visita que melhores recordações guardo. Estávamos em 1987 e conjuntamente com amigos que praticavam Karting como eu, decidi avançar para uma verdadeira aventura europeia.
Pelo meio ficaram uma visita à terra da Ferrari – Fiorano, ou a uma exposição em Paris sobre a casa Italiana. Mas foi no Mónaco a paragem mais importante. Naquela altura nem eu nem o Pedro (Lamy) pensaríamos vir ali a correr um dia. E como tudo mudou …

Passados todos estes anos, Mónaco é já um ponto habitual de passagem nas nossas corridas anuais, mas ficará para sempre gravado nas nossas memórias aqueles “Banana Split” que íamos comer para um local que hoje nos recebe como “Box”.

16 de Maio de 2000

CARTA ABERTA

Sopram novos ventos no Automobilismo nacional. Mudar nunca foi fácil e como sempre, primeiro é preciso acabar com os “Velhos do Restelo”. Há quem os procure na anterior entidade federativa. Um erro. O maior perigo está escondido atrás das barreiras do bairrismo e da pequenez de quem as desfralda, muitas vezes por simples incompetência.
É mais fácil dizer mal do que lutar pelo bem comum. E aqui não falo apenas de dirigentes. Também nos pilotos, que no fundo devem ser o motor de tudo isto, existem exemplos dessa e de outra forma de estar, bem mais destrutivas. Basta ver os casos de quem vem a público defender fórmulas e métodos por simples interesse pessoal e (bastas vezes) circunstancial.

Vou aproveitar esta coluna para debruçar-me sobre os pilotos que fazem carreira além-fronteiras. É o meu “mundo” e também porque somos nós a mola para o desenvolvimento da modalidade. Quantos atletas nasceram dos sucessos de Carlos Lopes e Rosa Mota? E quantos futebolistas não pretendem ser um espelho de Eusébio ou Figo? Será essa a responsabilidade que recai sobre nós, os “chamados” pilotos internacionais. Somos o exemplo e devemos preticá-lo no dia-a-dia.

Têm-se visto carreiras internacionais feitas das mais diversas formas:

Na minha opinião, sustentada por 14 anos de presença no Desporto motorizado, sete dos quais além-fronteiras, competindo nos mais difíceis campeonatos, só a última das três permite atingir o topo e o sucesso. Uma carreira não se constrói de fogachos, mas sim com muito empenho, muito trabalho e, claro, alguma felicidade.

Não nasci num berço de ouro e jamais corri com dinheiro próprio… nem quero fazê-lo. Isso é a antítese do profissionalismo. Tive de encontrar patrocinadores. Comecei com pequenas e médias empresas, ainda no tempo do Karting, mas logo aí com grande respeito por quem passa o cheque e quer ser recompensado. Um patrocinio não é uma prenda, antes um negócio. As empresas ou os patrocinadores integram as acções de Sponsorship na estratégia de Marketing e Comunicação, querendo tirar dividendos positivos para a sua imagem.

Nos últimos tempos, há quem tente por-me nas bocas do mundo, ainda que ninguém tenha a coragem de referir directamente o meu nome, por ter alguns patrocínios de empresas de capitais públicos no meu projecto.
Mas quem não os teve ou não os tem, pergunto?

Será que a Galp, Portugal Telecom, TMN, TAP, Gás de Portugal, Transgás, Portgás, etc., pintados nos carros de Rui Madeira no passado ou no presente, são nomes de empresas privadas?
Será que o Turismo do Algarve e Terra de Loulé que marcam presença no F3000 de Rui Águas, estão lá por simples amizade?

Falo desdes dois pilotos por serem aqueles que recentemente se mostraram chocados com a minha, opinião deles,”situação de favor”. Se há alguem que quase só corre com verbas estatais, são curiosamente Rui Madeira e Rui Águas….

Mas há muitos mais exemplos. A grande maioria dos pilotos que competem (ou competiu) internacionalmente faz ou fez projectos apoiando-se em empresas estatais. Estas participações são bem vindas, mas não as tomem como uma obrigação. Os patrocinadores estatais não são um dever, antes um negócio. Como tal, aposta-se em quem dá mais retorno e em quem tem melhor imagem junto da opinião pública, resultado de uma atitude profissional e correcta dentro e fora das pistas.

Nesse aspecto, os números falam a meu favor por várias razões. Sou o único piloto em Portugal que dispõe de profissionais a trabalhar a 100% no meu projecto. Ao contrário de outros não me divido por outras actividades. Abdiquei do meu “canudo” de engenharia civil para ser piloto a tempo inteiro. O meu tempo é ocupado em corridas, contactos e trabalhos para os meus patrocinadores, bem como a cuidar das relações públicas e imagem.
Não sou piloto ao fim-de-semana e Doutor, Arquitecto ou simples banhista nos outros dias. Estou sempre disponível para tudo e para todos.

A equipa de profissionais que comigo trabalha descobriu muitos novos patrocinadores, a maior parte privados, entre os quais algumas multinacionais. Fomos e somos criativos.
Muitos limitam-se a enviar propostas tentando aliciar patrocinadores por nós trazidos para o mundo automóvel. Procurem, cativem novas empresas.

Nunca como até aqui, um patrocínio criou tanta celeuma, como o da EDP.
Será que alguém, no passado, apresentou uma proposta a esta empresa? Lembraram-se que a empresa ia ser privatizada com um consequente investimento na imagem?

A minha carreira tem sido pautada por projectos com pernas para andar. Nunca, ao contrário de outros, entrei em aventuras sem ter as bases necessárias para as levar avante. Nunca caí no ridículo de a meio da época ter de clamar por mais verbas ao Estado. Nunca vim para a Comunicação Social afirmar só ter “X” de verba depois de me ter proposto a realizar um projecto com custos de “X+Y”, ou pior ainda, antes mesmo de ter o projecto, utilizar os “Media” para fazer pressão sobre quem decide, clamando que caso não haja dinheiro será a maior das injustiças…

Meus senhores, apesar dos meus 27 anos, dou-vos um conselho: Trabalhem!

Sei que é mais fácil criticar; é o passatempo preferido de alguns – quem tem sucesso é o alvo a abater.

E quando tentam desacreditar o trabalho por mim desenvolvido, vem por vezes à baila a falta de resultados.
É verdade que não ganho uma prova desde 1992, mas tirando o caso Pedro Lamy, é difícil e muito subjectivo dizer qual o piloto português com melhor palmarés na velocidade internacional.

Por isso não faço comparações, mas fico chocado e espantado quando Rui Águas afirma ser, a seguir a Lamy, o melhor piloto nacional. Como pode afirmá-lo quando em anos recentes jamais foi o nosso melhor representante. Em 1995, perdeu largamente no confronto comigo na F3 alemã. Em 1996 foi novamente batido em confronto com Manuel Gião, ainda no mesmo campeonato.

Convém lembrar que na era pós-Lamy passaram 6 pilotos nacionais neste campeonato de projecção mundial, levando Eu sozinho mais vezes a bandeira nacional ao Pódium que os restantes cinco pilotos em conjunto. Também nesta temporada e até ao dia em que vos escrevo estas linhas sou o melhor representante nacional no Campeonato F3000, á frente de Águas.

Uma coisa é certa. Nunca senti necessiade de mentir em relação ao meu palmarés, nem nunca o farei. Mas eu e todos os que estavam pregados ao televisor, já viram Águas optar por essa via, na SIC, mentindo descaradamente, ao afirmar ter sido segundo na F3 Alemã em 1996 e campeão nacioanl de karting. Onde e quando? Convém lembrar que o piloto em causa jamais foi campeão de coisa alguma.

Também nunca prometi mundos e fundos, títulos e mais títulos. O meu lema sempre foi fazer o melhor possível, pois sei que no Desporto Automóvel o piloto é apenas uma peça da engrenagem. Quando se trabalha com seriedade, com profissionalismo e não apenas com maledicência, consegue levar-se a água ao moinho. A melhor prova disso são os meus patrocinadores que desde sempre têm apoiado a minha carreira.

A maior motivação para continuar.

18 de Agosto de 1997

O MEU QUARTO

O facto de ter de ausentar-me constantemente do país e fazer dos hotéis a minha morada durante grande parte do ano, faz com que a Casa tome um valor diferente pois é o local onde posso abstrair-me do stress das corridas e por alguns dias levar a vida a uma velocidade normal.

Na minha casa há espaço e mais espaço, mas mesmo assim é numa pequena porção dela que passo grande parte do meu tempo: o meu quarto.

O meu quarto é como que outra casa dentro da verdadeira casa, aquele espaço onde desde sempre me senti independente do mundo exterior e, ao mesmo tempo, o local onde cada fase da minha vida foi ficando marcada, passo após passo. Mesmo que numa desarrumação organizada, nele eu tenho tudo sempre à mão: os livros, os discos, o computador, o piano, a televisão, e … a cama. A cama é para mim o móvel mais precioso da minha casa.

Outra parte que gosto na casa é a sala de visitas. Recordo-me, desde sempre, das reuniões com amigos que nela os meus pais tinham e onde eu ficava, quando pequeno, assistindo quieto num dos recantos, vários, que nela existem. Sempre foi como que a porta da nossa casa para o mundo.

Um dia, quando tiver que largar o “ninho” dos meus pais, há três coisas que levarei na minha memória, como que os condimentos ideais para a casa perfeita: O Espaço, a Luz e … a minha Cama !!!

Julho de 1996

ÉPOCA 1995

Parece ter sido ontem, quando escrevi para todos os leitores da revista Slick a crónica do meu ano de 1994. O tempo passa depressa. Tão depressa que quando o Marco Barbosa me telefonou a semana passada para em algumas linhas fazer um balanço de 1995, eu nem queria acreditar que mais uma época tinha passado e que 1996 era já o ano em que pensar.
Se bem que na competição automóvel estamos habituados a andar sempre a grandes velocidades e a tornear grandes problemas, o Tempo é mesmo aquele que mais dificuldades nos causa. Quer seja por o tentarmos bater, quando lutamos por uma posição melhor, quer seja por querermos decidir algo importante, em que o Tempo é sem dúvida a grande barreira. Este ponto tem sido fundamental no que se relaciona com a minha época que se avizinha.

Como podem imaginar, a Fórmula 3000 é um passo muito delicado na carreira de um piloto, devendo-se ponderar muito bem todas as fases associadas a um projecto desta dimensão bem como utilizar o tal Tempo de uma forma correcta. Esse factor poderá ser determinante na época ou mesmo na carreira do piloto. Tudo tem estado a correr sobre rodas faltando-me somente decidir a equipa com que realizarei o campeonato deste ano. Até aqui o Tempo terá de me ajudar para fazer a melhor escolha possível !

Mas regressemos a 1995.
Quando no início do ano ingressei na equipa oficial Fiat, era sem sombra de dúvidas a equipa a abater, pelo que julguei puder lutar pelo título. Isso viria a confirmar-se errado, pois o motor Fiat ao contrário de 1994 estava ultrapassado pelos desenvolvidos Opel, que durante todo o Inverno tinha feito um trabalho notável. Houve sempre uma esperança que o motor Alfa-Romeo pudesse equipar os nossos carros, mas devido a políticas internas tal nunca viria a suceder e tivemos que realizar toda a época de 1995 com um motor abaixo das performances esperadas. Não foi por isso que a equipa se mostrou menos interessada em lutar pelas melhores posições, mas ser o melhor representante dentro dos carros equipados com propulsores Italianos era agora o grande objectivo para nós. Tal veio a suceder em quase todas as provas, tendo sido o melhor representante da marca no final do Campeonato com o 5º lugar alcançado.

No início do ano fizemos vários milhares de quilómetros, não a treinar mas sim para puder treinar, uma vez tanto na Alemanha, na Áustria, na Bélgica ou mesmo na ex-Yuguslávia as condições climatéricas não eram favoráveis.
Acabámos por iniciar o campeonato com cerca de metade dos treinos previstos, pelo a primeira corrida era tida por nós como um embate muito difícil.
Estávamos redondamente enganados, pois em Hockenheim efectuamos das melhores provas do ano, obtendo um terceiro e um quarto lugar respectivamente.
Daí para a frente seria um combater constantemente com as baixas prestações do motor Fiat e tentar minimizar todos os pontos negativos inerentes a este facto.
Conseguimos durante o ano algumas boas prestações como em Avus-Berlin, no Mónaco ou em Singen onde por duas vezes acompanhei o Fontana e o Schumacher no segundo lugar do pódio. Este terá sido o ultimo resultado digno de registo da nossa equipa, pois nas ultimas duas provas de 95 raramente conseguimos passar do 5º lugar.

A ultima prova do ano, em Macau, foi apesar de tudo, uma boa prova para mim e para o Team RSM-SICAL, uma vez que depois de vários problemas nos treinos viria a efectuar uma boa 1ªManga, com tempos por volta muito satisfatórios. Infelizmente na partida para a 2ªManga vi-me envolvido num dos maiores acidentes de sempre da Fórmula 3, pelo que a minha deslocação ao Oriente terminaria por aí.
Não poderia terminar este balanço de 1995, sem fazer referência à minha participação na corrida Portuguesa do DTM/ITC. Correr sob as cores da Alfa-Romeo foi para mim uma grande honra, somente possível graças ao empenho da SGA-Alfa-Romeo, Sical, Galp, Marlboro e BCP-Nova Rede. Os meus objectivos para esta prova foram em grande parte alcançados, uma vez que consegui uma boa adaptação ao carro e à equipa. O ter andado sempre muito perto de dois companheiros de equipa como o eram o C.Danner e o M.Alboreto foi muito importante para mim, pois para além de ter aprendido muito, mostrei sempre o meu bom andamento.

Será sem dúvida um campeonato em que gostaria de correr num futuro próximo.
Quero finalmente enviar um abraço muito especial aos membros desta revista bem como para todos os leitores e amantes do desporto motorizado.
Até para o ano.

Novembro de 1995

ÉPOCA 1994

Quando em Janeiro me desloquei pela primeira vez a Hagen, base do Team Sical em 1994, uma das primeiras preocupações que tive foi a de arranjar uma casa onde pudesse passar confortavelmente todo o tempo fora das competições. A tarefa foi bem mais difícil do que de início pensava e, tanto eu como o Manuel, tivemos imensos problemas em arranjar uma apartamento bom e barato !
Com o tempo tudo se arranja e a preciosa mão do Mark Piedade foi decisiva para que tal se comprovasse.

Uma vez bem acomodado, tudo estava realmente preparado para dar início ao intenso programa de testes que desde Fevereiro se realizariam pela Europa. No entanto nem sempre as situações sucedem como se espera e quando estaria previsto chegarmos à primeira prova com um total de cerca de 4000 Km de experiência num Fórmula 3 a verdade é que eles eram apenas 1500 Km, o que como podem imaginar não me dava aquela confiança que pretendia.
Culpada de tudo isto … a Neve !!!
Pois é: e ela esteve mesmo presente na primeira prova em Zolder, que aliás viria a ser anulada pois mais parecia que estávamos numa estância de Ski do que propriamente num Autódromo. Apesar de todas estas peripécias esta foi a fase do ano que melhores recordações me deixa.

Desde início do Campeonato que me fiz rodar entre o pelotão da frente e logo na segunda prova em Hockenheim tive o primeiro pódio, que como é de esperar foi uma alegria muito grande. Esta situação repetir-se-ia na 3ª, 4ª,5ª e 7ª provas e com mais uns resultados entre o “top 5” eis-me chegado a meio do Campeonato Alemão na segunda posição. Era o primeiro Rookie no Campeonato e secundava aquele que para mim era o melhor piloto da Fórmula 3 – o Alemão Jörg Müller.
Sensivelmente nesta altura comecei a ser contactado por algumas equipas com especial destaque para aquela que liderava o Campeonato, onde mostraram interesse que com eles disputasse a época de 1995. Esta situação era para mim muito gratificante pois, de praticamente desconhecido no seio dos team de Fórmula 3, era agora tido em consideração pelos chefes das melhores equipas deste campeonato.

O patrão da RSM-FIAT e antigo piloto da Fórmula 1, Dr. Helmut Marko, fez uma abordagem ao meu irmão Nuno, no sentido de se desenvolverem contactos para a próxima época, situação esta que viria a repetir-se nas provas seguintes. No entanto, como será de imaginar, era díficil para o elemento de uma equipa adversária entrar em contacto com o Nuno sem que isso desse aso a enormes comentários no paddock, o que decididamente não seria nada abonatório para mim.
Dois factores tiveram aqui um papel preponderante para que tudo corresse na maior das normalidades. Primeiro o excelente ambiente que se faz sentir no paddock das provas alemãs e segundo, o pretexto de vir ao nosso motor-home beber um café Sical, sem dúvida o melhor que por aquelas bandas poderia encontrar-se!

A segunda metade do Campeonato foi marcada por uma série de problemas que em muito dificultaram o alcançar de boas posições. Fui vítima de problemas mecânicos, da agressividade de alguns pilotos e também de um ou dois erros que possa ter cometido, o que fez que viesse a descer gradualmente desde a segunda posição na tabela até à quinta. Para se ter uma melhor noção bastar-me-á dizer que nas primeiras 10 provas tinha feito 111 pontos, para com 18 provas cumpridas e com duas por realizar ter somado aos 111 somente mais 20.

Eis chegado o último fim-de-semana, com 2 provas por realizar e onde a disputa para o quinto lugar estava ainda aberta entre mim e o Norberto Fontana .
Foram sem dúvida as provas mais renhidas do ano com a luta pelo primeiro lugar a passar pelas mãos de 5 pilotos. Müller, Fontana, Schumacher, Würz e eu próprio.
Da batalha entre mim e o piloto argentino para a posição final eu viria a sair vencedor, em muito graças aos dois pódiums que aí consegui, mas também ao excelente trabalho que tinha realizado em conjunto com o Team Sical durante toda a época de 94.
Em Outubro assinei contrato com a RSM, equipa vencedora do campeonato, e realizei mesmo o G.P. de Macau já nela integrado.

O campeonato acabou e eu fiquei bastante satisfeito com o 5º lugar alcançado pois apesar de não ter ganho a luta para 1º Rookie fui o 1º dos pilotos sem apoio oficial, o que por si só significa muito para mim.
Para 1995 estou integrado na equipa que este ano venceu e espero vir a corresponder ao que de mim é esperado.

Despeço-me e espero que em 95 a história seja ainda melhor, pois terei o maior prazer em repartir com todos vós as minhas alegrias.

Dezembro de 1994