A PRÉ TEMPORADA - AUTOSPORT
É com bastante prazer que aceito o convite para mensalmente aqui estar com os leitores do “Autosport” e deixar algumas das minhas opiniões sobre factos que poderão ser do interesse de todos nós, entusiastas do desporto motorizado.
Peço antecipadamente desculpa se os textos não forem num Português da melhor qualidade, mas ficarei plenamente realizado se a mensagem neles contida atingir os seus objectivos:

Um olhar atento e cuidado sobre o Desporto Automóvel em Portugal...

Os meses que antecedem o inicio das épocas desportivas, mais conhecidos por pré-temporada, são por norma os mais importantes da vida de um projecto.
As propostas de patrocínio, os novos projectos de competição, os comunicados de imprensa ou os retornos publicitários são pontos em que quase todos os competidores se debruçam nesta fase do ano. No fundo é com este trabalho que a época se poderá traduzir num sucesso ou num fracasso.
Felizmente tenho notado uma cada vez maior preocupação, por parte dos pilotos e equipas, em realizar uma boa preparação das suas temporadas.
Longe vão os tempos em que grande parte dos praticantes se limitava a tentar descobrir um “Sponsor” em Janeiro e em Dezembro enviar um cartão de “Boas Festas” a agradecer o apoio e a solita-lo uma vez mais para o ano seguinte!

Existe, cada vez mais, uma preocupação em criar projectos com “Cabeça, Tronco e Membros”...

Mas se tudo isto tem vindo a ser melhorado, se existe uma cada vez maior empenho no trabalho realizado nas pré-épocas... então o que é que se passa na realidade para termos cada vez menos pilotos a seguirem uma carreira profissional?
Poderá haver uma resposta simples, “é a crise”, mas que mais não é do que um voltar as costas à realidade.
No meu entender a resposta a tudo isto está na formação dos jovens pilotos, no “Karting”.

Quando comecei a minha carreira desportiva, faz este mês precisamente 20 anos, existiam em Portugal somente 2 Kartódromos: Estoril e Cabo do Mundo.
Desses, somente o circuito a norte sobreviveu, pois o então regresso da Fórmula 1 a Portugal matou por completo o complexo “kartista” do Estoril, matando também aí uma das melhores escolas de formação dos jovens pilotos de então.
Não obstante todos estes problemas, lembro-me que a postura firme dos pilotos da época resultou sempre numa atitude muito profissional, resultando daí projectos que proporcionaram alguns dos melhores anos do Desporto Automóvel em Portugal. Estou a lembrar-me do Diogo Castro Santos, do Pedro Lamy, do Matos Chaves, do Fernado Peres, do Ni Amorim, do Gião e de tantos outros que desde então tanto sucesso obtiveram para o desporto Português.

A minha pergunta de há pouco, poder-se-ia repostar com outra.
Mas se hoje em dia temos mais de uma dezena de Kartódromos, então o que é que se passa?

Acredito que existem, de entre alguns mais, dois problemas que serão o cerne de todo este problema.

Em primeiro será a atitude, logo desde o Karting, que vise a obtenção de patrocínios.
Em segundo, e quanto a mim o mais delicado, a mistura cada vez mais acentuada de desporto profissional e desporto amador.

Começando pelo (na minha opinião) mais simples, devo dizer que vejo, felizmente, o voltar de uma crescente apetência dos pilotos de Karting para começarem a procurar apoios desde muito cedo.
Sem dúvida que um dos problemas pelo qual o desporto motorizado Português passou nos últimos anos foi a de um “Self Investiment” nas carreiras dos jovens pilotos, investimento este muitas vezes sem travão na altura certa, o que levou a que alguns praticantes tivessem de abandonar ou alterar radicalmente o rumo das suas promissoras carreiras.
A profissionalização de um piloto deverá começar o mais cedo possível, caso contrário poderá ser tarde quando a estrutura deste quiser fazer o “Click”, deixar de investir o “próprio capital” e procurar parceiros, leia-se sponsors, que se associem aos seus projectos.

Mas existirá um segundo problema, o grande responsável pela actual situação do desporto automóvel em Portugal. “Desporto Profissional” versus “Desporto Amador”...
Sempre o disse, e continuará a ser minha a opinião que existe um espaço para todos, mas não deveremos confundir os propósitos de cada uma dessas vertentes.
Sempre achei, também, que existem muitos desportistas amadores com uma atitude mais profissional do que aqueles que esse nome detêm, mas isso será outra história....
Temos muito bons “miúdos” do Karting Português, com qualidade ao nível dos melhores da Europa e que se deparam constantemente com uma concorrência a nível de apoios, concorrência essa que não compreendo como pode existir.
Porque razão os potenciais patrocinadores comparam e confundem dois tipos de actividades tão díspares?
Sinto que todos temos cota parte de culpa nesse processo.
Mas sem dúvida que a resolução deste problema está em grande parte nas mãos dos Pilotos e da Federação.
Na Federação, porque urge implementar regras para distinguir, e bem, as provas profissionais das provas de lazer. Será essa distinção que fará com que comecem a ser vistos com outros olhos os Campeonatos Profissionais do nosso país.
Nos Pilotos, porque são eles próprios que ao não saberem onde correr levam a que haja uma mistura de opiniões em relação ás verdadeiras características das provas....
Parece-se um pouco com a história do “Ovo e da Galinha”!

Penso que no dia em que este problema for resolvido teremos um Desporto Motorizado melhor e, sobretudo, teremos mais pilotos a seguirem uma carreira profissional.
Continuaremos a ter, e ainda bem, muitos praticantes “Amadores”, mas num conceito de perfeita conciliação entre estas duas vertentes de estar no desporto.
Façamos com que esse dia chegue depressa para bem de todos nós.

Quarta-Feira, 29 de Janeiro de 2003