SPONSORS - SPORTMOTORES.COM
Ao terminar a crónica de Janeiro último referi que iria seguidamente falar sobre Patrocinadores. Fi-lo porque pretendo dar aos textos por mim aqui apresentados alguma sequência lógica, sobretudo no que toca aos (no meu entender) maiores problemas do Automobilismo Português.
Se me permitem, vou contar-vos um pouco da minha história dentro da competição e a relação com os Sponsors ao longo de todos estes anos e com esse exemplo tentar mostrar algo nem sempre constatado à primeira vista por todos nós. A destruição dos já poucos apoiantes do desporto motorizado em Portugal.

O que é na verdade um Sponsor?

Quando em 1982 o meu Pai me ofereceu um Kart, tive a felicidade de ter tido o meu primeiro patrocinador, o chamado “Pai-trocínio”.
Se é verdade que quase todas as histórias no desporto motorizado começam desta forma, certo é também que cedo me apercebi que, ou começava trabalhar para encontrar quem me ajudasse financeiramente na minha carreira, ou não teria grande futuro. Se, como disse, tive a felicidade de ter um Pai que me deu o primeiro empurrão, sempre soube, também, que ele não teria os meios para me ajudar com muito mais do que isso. E mesmo que os tivesse, não era esse o meu propósito, pois se queria ser profissional teria de me habituar a viver pelos meus próprios meios.

Desde muito cedo, em parceria com o meu irmão Nuno, parti em busca de empresas, amigos, parceiros, enfim… todos quantos pudessem e quisessem dar uma “ajudinha” neste meu princípio de actividade.

Propostas para um lado, telefonemas para outro, mais as reuniões, apresentações e os balanços de final de temporada, fizeram com que desde muito tenra idade fosse confrontado com a difícil realidade de ter que prestar contas a quem em mim investia.
Julgo que este foi o primeiro grande ensinamento que tive das “Corridas”.

“Somos nós quem deverá estar ao serviço dos Sponsors e não os Sponsors ao nosso serviço”.

Porque continua um Sponsor a apostar num determinado projecto?

As minhas épocas, desde a Júnior ás categorias “maiores” do Karting Nacional, foram correndo relativamente bem e eis que chegou a altura de dar mais um salto no desconhecido…
“A Competição Automóvel”.
Sem nunca ter tido na família alguém ligado ao desporto motorizado, podem acreditar que não se afigurava nada fácil entrar num meio tão restrito e onde o factor financeiro, mas também os conhecimentos desportivos, tinham tamanha importância.
Estávamos em 1989 e uma vez mais o Nuno e eu decidimos arriscar.
Pedimos dinheiro emprestado a um amigo para comprar um Fórmula Ford e fomos ao encontro de “velhos” parceiros, mas também de novos investidores.
Com um carro muito bem dividido conseguimos encontrar a verba para disputar todo o campeonato e depois, em 1990, repetir a “dose” e sagrar-me Campeão Nacional. No “entretanto” muitos foram os contactos que desenvolvemos, tanto a nível técnico como financeiro. Esses contactos/conhecimentos viriam a ser muito importantes pois foram alguns deles que me encaminharam para a desejada carreira “fora de portas”.

Após esse título nacional, virei-me para o exterior a 100%, uma vez que já tinha começado a desbravar caminho com umas corridas em Inglaterra. Só fora de Portugal teria as garantias de me tornar profissional, continuando a subir pelos diversos degraus do desporto internacional e foi isso que fiz.
Cada vez mais os patrocinadores tinham de ser bem trabalhados e demonstrados os verdadeiros benefícios de estarem presentes em tal projecto.
Foi nessa altura que começamos a trabalhar com o apoio de uma empresa desconhecida no meio até então. A Memorandum.
Acredite-se ou não, somente passados quase 10 anos começou a ser rotineira a avaliação, por parte dos Pilotos, de dados tão importantes como aqueles que a empresa de Coimbra nos fornecia... e ainda hoje fornece.
A análise constante de dados, sua valorização e projectos de optimização do agora “vulgar” Retorno, fizeram com que a nossa abordagem ás empresas fosse cada vez mais profissional e proporcionássemos aos patrocinadores forma de calibrar os seus investimentos.

Subindo pelos diversos patamares, primeiro os Europeus de Fórmula Opel-Lotus e seguidamente os campeonatos de Fórmula 3, constatei, pela primeira vez, que nem sempre são os resultados, nem desportivos nem mediáticos, o mais importante no progresso desportivo de um piloto.

Porque continuam os Sponsors cada vez mais arredados da nossa modalidade?

Tinha terminado a temporada de 94 na Alemanha. A época desportiva tinha sido melhor do que as melhores previsões. 7 Podiuns no ano de estreia na competitiva Fórmula 3 Alemã, 5º lugar final no campeonato e somente suplantado por pilotos oficiais foi resultado suficiente para ser chamado pelo Dr. Helmut Marko (este mesmo que agora gere os destinos da RedBull competição e do nosso Filipe Albuquerque) para integrar o Team Oficial Fiat e guiar o carro campeão dessa temporada.
Mas algo estranho se começou então a passar! Eu, que tinha sido um dos pilotos internacionais com melhores resultados nessa época deparava-me agora com enormes dificuldades em encontrar, ou mesmo continuar, com os meus parceiros de até então.

Nunca, como naquela altura, tinha percebido tão bem como “as más-línguas” e uns tais de “opinadores” poderiam ter um papel tão destruidor.

Uma vez mais consegui “levar a água ao meu moinho” e em 1995 fui piloto oficial da Fiat, melhor representante da marca italiana no “Alemão de F.3” e, uma vez mais, um dos pilotos nacionais com maior “retorno” dos seus patrocinadores.
Com tudo isso consegui dar o salto e cheguei à F.3000 Internacional, patamar último antes da Fórmula 1.

Esta foi sem dúvida a fase mais difícil da minha carreira, mas, acreditem, também aquela que mais força me deu para continuar e demonstrar que sempre podemos avançar sem pisar ninguém. E não imaginam a vontade que ás vezes eu tive! :)

Em 1996 havia em Portugal dois pilotos na velocidade com destaque superior à média.
O Pedro (Lamy), com uma carreira brilhante e que havia regressado após o complicado acidente em Silverstone – 1994, e eu próprio, que assumia este posto também pelo simples facto de estar numa das mais importantes categorias do desporto motorizado internacional.

1996 e 1997 foram dois anos em que fui simplesmente “bombardeado” por alguns sectores do desporto motorizado nacional. Alguns “Pilotos” e “Jornalistas” tentaram, felizmente em vão para mim, menosprezar os meus feitos ao lançarem “lenha” para uma “fogueira” que acabou por mais “queimar” quem essas hostilidades iniciou.

Sou-vos o mais sincero possível se vos disser que ainda hoje não compreendo esse “ódio visceral” com o qual fui confrontado. Tudo pelos Sponsors que tinha, deixava de ter, que em mim investiam ou deixavam de investir. Seria para mim fácil dizer que era inveja, mas acredito que não era essa somente a razão de tantos e variados ataques.

Ainda hoje fico com um “sorriso” quando volto a rever algumas notícias da época.
Essencialmente houve dois pontos com o qual fui “atacado” na altura e que, passados estes quase 10 anos vos gostaria de resumidamente falar. Penso que esta minha curta descrição será um bom exemplo do porquê dos Investidores estarem cada vez mais longe da nossa modalidade.

Logo após as duas fortes épocas que realizei nos campeonatos de F.3 e quando entrei na F.3000 Internacional, alguns “pilotos” e “jornalistas” começaram a tentar passar a ideia de que eu era um piloto sem “curriculum” e apenas com forte “lobbie” politico.
“Mas porque razão”… perguntava-me várias vezes… “estes ataques tão desenquadrados da realidade?”

Ao nível de campeonatos de F.3 era o piloto que melhores resultados apresentava, após a passagem, “fantástica” diga-se, do Pedro (Lamy) por essa modalidade. Nos campeonatos de F.3000, e apesar de inúmeras desistências forçadas tinha pontuado na minha primeira prova na disciplina (facto que até hoje continuo a dividir exclusivamente com o Pedro) e tinha alcançado um segundo lugar em Silverstone (ainda hoje o segundo melhor resultado de sempre alcançado por um português nesse escalão, depois da vitória de Lamy no G.P. de Pau em 1993).

Depois, ao nível de apoios financeiros, diziam que estava apoiado num forte “lobbie” político, leia-se Partido Socialista, e que somente por isso conseguia granjear tantos e tão bons apoios.

Esqueciam-se os ditos, “Pilotos”, “Jornalistas” e outros “Opinadores” que todos os outros que como eu tinham atingido tão elevado patamar teriam já tido, tinham ou viriam a ter sponsors condizentes com o “grau” da carreira que então tinham atingido.
Mais… A contrastar com muitos que inclusivamente me criticaram na altura, tive na base dos meus apoios muitas empresas privadas nacionais e internacionais.

Expressões como:

“Pedro Couceiro – Uma história cor de rosa”, “O piloto do - Jobs for the boys…..”, ou declarações de alguns praticantes da época a tentar passar a imagem de que eu tinha patrocinadores por via politica e que eles nada conseguiam, foram prática corrente nessa altura.

Hoje, posso afirmar-vos com todo o rigor que são situações como as de então que fazem com que Sponsors vitais para todos nós venham a desaparecer do mundo desportivo automóvel. Estão cansados de se verem “manchados” por estas “guerras”, essencialmente lançadas por elementos “fracos”.
Alguns desses pilotos desapareceram do “mapa desportivo”, outros continuam num verdadeiro “chove mas não molha”, mas todos eles, acredito, aprenderam que para se conseguirem patrocinadores é necessário trabalho, resultados e… o tão difícil e invejável “Retorno de Imagem do Investimento”.

É fácil dizer mal…. Isso todos nós o sabemos. Difícil é fazer melhor que os nossos adversários. Para tal é necessário trabalho e, infelizmente, muita dessa gente que tanto critica, anda nos automóveis somente para se divertir.

Encontrei neste Desporto mais do que uma paixão. Encontrei uma profissão.
Também eu, como tantos outros, tirei um curso superior e bem podia estar de 2ª a 6ª feira a projectar qualquer coisa, para depois chegar ao fim de semana e me pôr atrás de um volante.

Ao invés, estou 24h por dia, 365 dias por ano com a cabeça nas “Pistas”, nos “Motores” e nos “Patrocinadores”.

Só assim podemos dar “retorno” a quem realmente investe nas nossas carreiras.

Gostava que fossem ao meu WebSite e lessem a crónica “Carta Aberta” publicada no semanário Autosport, e por mim escrita em 1997. Apreciem como está mais actual do que nunca! E em como o trabalho e a verdade são como o azeite…. “Vêm sempre ao de cima”!

http://pedro-couceiro.alto-debito.com/?lop=cronicas

Como já o fiz na anterior crónica, gostaria de vos dar o “mote” da minha próxima crónica aqui no Sportmotores.com. “Carreiras” será o tema e tentarei abordar tudo o que está relacionado com o evoluir da carreira de um piloto.

Um abraço a todos e até breve.
Quarta-Feira, 08 de Março de 2006