CARTA ABERTA - AUTOSPORT
Sopram novos ventos no Automobilismo nacional. Mudar nunca foi fácil e como sempre, primeiro é preciso acabar com os “Velhos do Restelo”. Há quem os procure na anterior entidade federativa. Um erro. O maior perigo está escondido atrás das barreiras do bairrismo e da pequenez de quem as desfralda, muitas vezes por simples incompetência.
É mais fácil dizer mal do que lutar pelo bem comum. E aqui não falo apenas de dirigentes. Também nos pilotos, que no fundo devem ser o motor de tudo isto, existem exemplos dessa e de outra forma de estar, bem mais destrutivas. Basta ver os casos de quem vem a público defender fórmulas e métodos por simples interesse pessoal e (bastas vezes) circunstancial.

Vou aproveitar esta coluna para debruçar-me sobre os pilotos que fazem carreira além-fronteiras. É o meu “mundo” e também porque somos nós a mola para o desenvolvimento da modalidade. Quantos atletas nasceram dos sucessos de Carlos Lopes e Rosa Mota? E quantos futebolistas não pretendem ser um espelho de Eusébio ou Figo? Será essa a responsabilidade que recai sobre nós, os “chamados” pilotos internacionais. Somos o exemplo e devemos preticá-lo no dia-a-dia.

Têm-se visto carreiras internacionais feitas das mais diversas formas:
- Amadora Com perfeita consciência disso.
- Amadora, mas Sem consciência disso.
- Profissional, com a consciência correcta do que tal acarreta.

Na minha opinião, sustentada por 14 anos de presença no Desporto motorizado, sete dos quais além-fronteiras, competindo nos mais difíceis campeonatos, só a última das três permite atingir o topo e o sucesso. Uma carreira não se constrói de fogachos, mas sim com muito empenho, muito trabalho e, claro, alguma felicidade.

Não nasci num berço de ouro e jamais corri com dinheiro próprio... nem quero fazê-lo. Isso é a antítese do profissionalismo. Tive de encontrar patrocinadores. Comecei com pequenas e médias empresas, ainda no tempo do Karting, mas logo aí com grande respeito por quem passa o cheque e quer ser recompensado. Um patrocinio não é uma prenda, antes um negócio. As empresas ou os patrocinadores integram as acções de Sponsorship na estratégia de Marketing e Comunicação, querendo tirar dividendos positivos para a sua imagem.

Nos últimos tempos, há quem tente por-me nas bocas do mundo, ainda que ninguém tenha a coragem de referir directamente o meu nome, por ter alguns patrocínios de empresas de capitais públicos no meu projecto.
Mas quem não os teve ou não os tem, pergunto?

Será que a Galp, Portugal Telecom, TMN, TAP, Gás de Portugal, Transgás, Portgás, etc., pintados nos carros de Rui Madeira no passado ou no presente, são nomes de empresas privadas?
Será que o Turismo do Algarve e Terra de Loulé que marcam presença no F3000 de Rui Águas, estão lá por simples amizade?

Falo desdes dois pilotos por serem aqueles que recentemente se mostraram chocados com a minha, opinião deles,”situação de favor”. Se há alguem que quase só corre com verbas estatais, são curiosamente Rui Madeira e Rui Águas....

Mas há muitos mais exemplos. A grande maioria dos pilotos que competem (ou competiu) internacionalmente faz ou fez projectos apoiando-se em empresas estatais. Estas participações são bem vindas, mas não as tomem como uma obrigação. Os patrocinadores estatais não são um dever, antes um negócio. Como tal, aposta-se em quem dá mais retorno e em quem tem melhor imagem junto da opinião pública, resultado de uma atitude profissional e correcta dentro e fora das pistas.

Nesse aspecto, os números falam a meu favor por várias razões. Sou o único piloto em Portugal que dispõe de profissionais a trabalhar a 100% no meu projecto. Ao contrário de outros não me divido por outras actividades. Abdiquei do meu “canudo” de engenharia civil para ser piloto a tempo inteiro. O meu tempo é ocupado em corridas, contactos e trabalhos para os meus patrocinadores, bem como a cuidar das relações públicas e imagem.
Não sou piloto ao fim-de-semana e Doutor, Arquitecto ou simples banhista nos outros dias. Estou sempre disponível para tudo e para todos.

A equipa de profissionais que comigo trabalha descobriu muitos novos patrocinadores, a maior parte privados, entre os quais algumas multinacionais. Fomos e somos criativos.
Muitos limitam-se a enviar propostas tentando aliciar patrocinadores por nós trazidos para o mundo automóvel. Procurem, cativem novas empresas.

Nunca como até aqui, um patrocínio criou tanta celeuma, como o da EDP.
Será que alguém, no passado, apresentou uma proposta a esta empresa? Lembraram-se que a empresa ia ser privatizada com um consequente investimento na imagem?

A minha carreira tem sido pautada por projectos com pernas para andar. Nunca, ao contrário de outros, entrei em aventuras sem ter as bases necessárias para as levar avante. Nunca caí no ridículo de a meio da época ter de clamar por mais verbas ao Estado. Nunca vim para a Comunicação Social afirmar só ter “X” de verba depois de me ter proposto a realizar um projecto com custos de “X+Y”, ou pior ainda, antes mesmo de ter o projecto, utilizar os “Media” para fazer pressão sobre quem decide, clamando que caso não haja dinheiro será a maior das injustiças...

Meus senhores, apesar dos meus 27 anos, dou-vos um conselho: Trabalhem!

Sei que é mais fácil criticar; é o passatempo preferido de alguns – quem tem sucesso é o alvo a abater.

E quando tentam desacreditar o trabalho por mim desenvolvido, vem por vezes à baila a falta de resultados.
É verdade que não ganho uma prova desde 1992, mas tirando o caso Pedro Lamy, é difícil e muito subjectivo dizer qual o piloto português com melhor palmarés na velocidade internacional.

Por isso não faço comparações, mas fico chocado e espantado quando Rui Águas afirma ser, a seguir a Lamy, o melhor piloto nacional. Como pode afirmá-lo quando em anos recentes jamais foi o nosso melhor representante. Em 1995, perdeu largamente no confronto comigo na F3 alemã. Em 1996 foi novamente batido em confronto com Manuel Gião, ainda no mesmo campeonato.

Convém lembrar que na era pós-Lamy passaram 6 pilotos nacionais neste campeonato de projecção mundial, levando Eu sozinho mais vezes a bandeira nacional ao Pódium que os restantes cinco pilotos em conjunto. Também nesta temporada e até ao dia em que vos escrevo estas linhas sou o melhor representante nacional no Campeonato F3000, á frente de Águas.

Uma coisa é certa. Nunca senti necessiade de mentir em relação ao meu palmarés, nem nunca o farei. Mas eu e todos os que estavam pregados ao televisor, já viram Águas optar por essa via, na SIC, mentindo descaradamente, ao afirmar ter sido segundo na F3 Alemã em 1996 e campeão nacioanl de karting. Onde e quando? Convém lembrar que o piloto em causa jamais foi campeão de coisa alguma.

Também nunca prometi mundos e fundos, títulos e mais títulos. O meu lema sempre foi fazer o melhor possível, pois sei que no Desporto Automóvel o piloto é apenas uma peça da engrenagem. Quando se trabalha com seriedade, com profissionalismo e não apenas com maledicência, consegue levar-se a água ao moinho. A melhor prova disso são os meus patrocinadores que desde sempre têm apoiado a minha carreira.

A maior motivação para continuar.

Segunda-Feira, 18 de Agosto de 1997