CARREIRAS - SPORTMOTORES.COM
Depois do texto que aqui escrevi em Março, onde dei a minha opinião sobre o que corre mal na angariação e gestão de patrocínios, gostava de agora falar-vos de algo também ligado ao que abordei anteriormente e que tanta influencia tem na imagem do desporto automóvel nacional em geral. A construção e gestão das carreiras dos nossos pilotos.

Raros serão os jovens amantes deste desporto que quando confrontados com a pergunta:
“ O que queres ser quando fores grande?” – não nos respondam:
“Quero ser piloto de Fórmula 1.”

Temos assistido nos últimos anos a um crescente número de pilotos que tentam a “sua sorte” e atrás destes alguns “managers” ou “gestores de carreiras” que de um dia para o outro têm os automóveis no “sangue” desde pequeninos e tudo desta modalidade parece rapidamente terem captado. Qualquer coisa do tipo: “Curso rápido de iniciação à gestão internacional de pilotos de automóveis”.

A gestão de carreira de um piloto no difícil e competitivo panorama internacional não deve ser gerida com amadorismos disfarçados ou camuflados por um “show off” que o poder financeiro ou o marketing têm vindo a conseguir.

Criam-se ilusões nos pilotos, nos patrocinadores e nos próprios adeptos em geral, ilusões estas que, ao “caírem por terra”, destroem por vezes carreiras muito promissoras, mas também a já diminuta credibilidade do automobilismo em Portugal. Aquilo que se promete e anuncia projectar para um futuro a médio prazo, cai como que “castelo de cartas” às mãos de uma criança num espaço de tempo inacreditável.

Tenho uma empresa ligada às promoções desportivas e de eventos, gestão de equipas de competição e “management” de pilotos (Atletas!)… Digo-vos com toda a sinceridade que não me via, apesar do sucesso que temos alcançado na nossa área, a enveredar por outras áreas sem que fosse muito bem assessorado e mesmo assim…

Não tenho dúvidas que alguns “tiros” sairiam certos… Mas grande parte!... Francamente não vejo um músico a gerir um tenista, um piloto a agenciar um actor ou um futebolista a dirigir uma orquestra…. Pelo menos sem um largo passado ligado à área que decidir abordar.

No meu entender, uma questão à partida constitui grande diferença, podendo alterar o rumo da vida destes jovens praticantes com as inerentes consequências futuras….

“Queres ser piloto de F1 ou queres ser piloto profissional e viver deste desporto?”
Esta é uma das perguntas que várias vezes coloco aos jovens pilotos que comigo se têm cruzado e em especial àqueles que têm corrido sob o olhar atento da nossa estrutura de competição e formação – Couceiro Júnior Team.

E é mesmo aqui que normalmente começam os problemas!

Nas últimas duas décadas, especialmente desde que me internacionalizei, tento perceber qual a melhor maneira de gerir uma carreira na velocidade ... Qual o verdadeiro “caminho das pedras” para se ser profissional e viver dos “automóveis”.

Sabendo todos nós que existe quase sempre mais do que uma via para atingirmos os nossos fins, cedo me apercebi e apoio hoje ainda mais essa teoria, que no desporto motorizado internacional essas tais “vias” são bastante reduzidas e quase sempre se resumem a um percurso similar.

Por mais que tentemos inventar, fugir desse “caminho” já traçado por tantos outros, somente nos vai prejudicar ou irremediavelmente separar de uma carreira de sucesso. O caminho até ao topo (estou como é lógico a referir-me não só à F1, mas também á profissionalização internacional) não tem, como ás vezes parece, sido assim tão alterado nas últimas décadas. E para tal vejamos. Desde que me lembro que esse percurso, quase sempre, se pôde resumir a uma escalada tipo:

Anos 80
Fórmula Ford – Fórmula 3 (Inglesa) – Fórmula 2 – Fórmula 1

Anos 90
F.Ford ou F.BMW/F.Opel ou F.Renault – Fórmula 3 (Alemã ou Inglesa) – Fórmula 3000 – Fórmula 1

É agora, neste princípio de século que tudo se parece baralhar… Porquê? Porque, nunca como agora existiram tantas fórmulas de promoção, tantos campeonatos internacionais, tanto dinheiro envolvido… E, no entanto, se analisarmos bem, tudo vai acabar na mesma….

Salvo muito raras excepções, diga-se quase sempre suportadas pelos $$$$ dos organizadores de alguns campeonatos, continuamos a ter como base das carreiras dos melhores pilotos internacionais, qualquer coisa como (aos dias de hoje!):

Fórmula Renault - Formula 3 (Europeia) - GP2 - Fórmula 1

Vejam-se os exemplos mais recentes, mas também de um passado não tão longínquo e cedo chegamos à conclusão que o que atrás afirmei é uma realidade.

Não quero com isto dizer que todos os outros campeonatos nas fórmulas de promoção não sejam competitivos ou bem organizados. Quero simplesmente dizer que para se chegar ao topo tem de se seguir os caminhos onde estão os “melhores”…. Somente competindo onde estão as referências de cada uma das disciplinas, das diversas gerações, pode ambicionar-se ser um dos melhores e, como os melhores vão para os mais fortes campeonatos, também estes mesmos campeonatos se reforçam recebendo os melhores pilotos.

Uma autentica “pescadinha de rabo na boca”… Uma só observação: Não vale a pena inventar!

Depois, se conseguirem chegar “lá a cima”, melhor, mas caso isso não acontecer, ficará por certo aumentada a probabilidade de poderem ingressar noutros campeonatos (normalmente GT’s ou Turismos) e aí prosseguirem as suas carreiras de uma forma profissionalizada.

Este tem sido um dos meus “cavalos de batalha” e algo que tenho tentado transmitir ao meus pilotos desde que formei o CJT-Couceiro Júnior Team com o meu irmão Nuno. Tenho tido o privilégio de trabalhar com alguns dos melhores pilotos nacionais da nova geração. Álvaro Parente, Filipe Albuquerque, Duarte Félix da Costa ou Armando Parente são disso um bom exemplo.

Irei falar-vos um pouco do Filipe, por ser aquele que ainda hoje continua ligado à nossa estrutura e para o qual temos feito uma gestão de carreira, consoante os nossos ideais. Desde que o conseguimos colocar como piloto oficial da CRG, uma das mais importantes marcas do karting mundial, vínhamos a tentar ver como dar o salto para os automóveis.

Quando o concretizámos, com a parceria fantástica da Red Bull, somente os mais competitivos campeonatos nos interessaram…. A formação de um piloto faz-se entre os melhores e aprendendo a sair derrotado dos grandes embates…. Não se faz com vitórias de ocasião e que pouco ou nada de relevante poderão ter no panorama internacional.

Uma das coisas que tenho notado em Portugal é que se atribui um valor enorme às vitórias, normal como é lógico, mas depois analisam-se muito mal, no meu entender, resultados que valem mais do algumas dessas vitórias….

Esquece-se, quem isto não consegue atingir por pouca informação ou preparação, que esses mesmos resultados são ou poderão ser mais fortemente responsáveis na ascensão de um piloto do que aqueles primeiros lugares que, para além de nós, poucos lhe reconhecerão mérito idêntico!

Isso já se passava na altura em que ascendi pelos diversos degraus do automobilismo internacional e vejo que continua também agora a passar-se!

Por isso mesmo a minha conduta com os pilotos que tenho podido ajudar. Subir… Mas sempre pelo caminho mais difícil…. Lutar com os melhores é a mais forte das vitórias e serão compensados aqueles que esse “trilho” escolherem.

O tema que aqui hoje abordei, ainda que um pouco superficialmente, vira-se simplesmente, como compreenderão, para os pilotos de velocidade e, dentro desde grupo, para aqueles que pretendem criar uma carreira internacional profissionalizada. Talvez por essa razão, gostaria de abordar e alargar este tema no meu futuro texto, mas agora virando-me para “dentro de casa” e fazendo um paralelismo entre as três grandes modalidades presentes no nosso país – Rallies, Velocidade e Todo o Terreno.
Quarta-Feira, 19 de Abril de 2006