"...HAJA PRIMAVERA..."
Faz esta semana 30 anos que, quanto a mim, o desporto motorizado português teve um dos seus mais fantásticos momentos.
Pelas mãos do ACP e, muito especialmente, por um apaixonado e dedicado homem, nascia aquela que foi (e ainda é!) a responsável pelo enorme salto que Portugal conseguiu nos mais variados palcos internacionais.
Quando o Dr. Augusto Martins lançou e promoveu uma até então inexistente categoria júnior no karting português, estava também a lançar as bases para o êxito do automobilismo nacional e, especialmente, a criar uma escola de continuidade e formação para os muitos jovens, que até essa altura, só tinham podido começar a competir a partir dos 15 anos de idade.
Era o que acontecia quando me iniciei em 1980 e onde na minha primeira prova começava também um miúdo... de nome Pedro Chaves!... que tinha estado como que proibido de competir durante os anos anteriores.
Felizmente que esta abertura proporcionou a muitas crianças o começarem a competir directamente, como os benefícios daí inerentes e, literalmente, chegarem aos 15 anos com uma rodagem só possível pelos já craques e maduros pilotos da altura.
A mudança que isso trouxe foi notável e talvez por essa mesma razão lhe tenham dado inicialmente o nome de "Categoria Primavera".
Ao fim de muitos poucos anos de existência era já possível ver os primeiros "campeões", que esta categoria criou, começarem a "voar" bem alto em conjunto com os grandes nomes de então.
Foi o caso do Diogo Castro Santos, do Manuel Gião ou do meu irmão Pedro, que com somente 15, dezasseis anos, eram já como que "veteranos”: também uma constante para os muitos que os seguiram.
Como que por golpe de " Mágica", o regresso da F1 a Portugal aconteceu logo em 1984 e trouxe com ela também um grande campeonato de monolugares: a Fórmula Ford.
E se dúvidas houvesse quanto a esta importância "Primaveril" no desporto automóvel no nosso País foi fácil anulá-las olhando para as classificações dos nacionais de F.Ford a partir de 1988.
Primeiro o Diogo, depois o Lamy e o meu irmão. Seguiram-se o Gião, o Frederico Viegas, o Gonçalo Gomes, o João Barbosa e ... por aí em diante.
Estava em andamento uma verdadeira corrente de "Campeões" que se internacionalizava e catapultava a “Velocidade” nacional para níveis nunca antes atingidos.
Como que se de uma “pescadinha de rabo na boca” se tratasse, estes êxitos trouxeram ainda mais fôlego ao karting e novos valores foram surgindo… cada vez em maior número… cada vez a lutar por melhores posições a nível internacional.
Tenho a felicidade de ter acompanhado este processo muito por dentro, pois com a equipa que em 1997 criei em conjunto com o meu irmão Pedro (CJT – Couceiro Junior Team) acabei por levar alguns dos nossos actuais “porta-estandarte” a vencer no Karting internacional.
Foi o caso do Álvaro Parente, do Filipe Albuquerque ou do António Félix da Costa.
Hoje, tenho a certeza plena que sem uma boa formação no Karting, elevada a um grau superior de competitividade internacional, dificilmente um piloto consegue vingar nas “altas esferas” do desporto automóvel mundial.
E é talvez por isso que me preocupo bastante em ver que um “buraco negro” pode estar a aproximar-se no que respeita à criação de futuros grandes campeões.
Dificilmente, acredito, conseguiríamos manter a cadência anual, quase “relojoeira”, de lançar um ou dois valores por ano para o exterior.
Mas sem uma nova “Primavera” vejo as coisas muito complicadas para os próximos anos.
Como a velha máxima de Leonardo DaVinci: “Fraco é o discípulo que não supera o Mestre”, também aqui não deveremos adormecer na sombra do que foi - bem - feito.
Deveremos estar em constante mudança e melhoramento sob pena de uma total e final estagnação.
Quarta-Feira, 27 de Fevereiro de 2013