KARTING & LAZER - SPORTMOTORES.COM
Há já uns tempos que estava para aqui apresentar uma minha análise e opinião sobre aquela que julgo ser a modalidade Mãe de todo o desporto automóvel. Por uma ou outra razão essa intenção foi sendo ultrapassada por outros temas que se foram encadeando, mas aqui finalmente está um texto sobre o Karting, quanto a mim o verdadeiro B-a-Bá para um piloto de competição.
Em paralelo com o Karting, julgo ser também pertinente abordar uma outra vertente do início na competição e que tão fortemente se instalou no nosso País; As Corridas de Lazer.

E que melhor local para me inspirar do que o Kartodromo de Leiria em dia de taça de Portugal? A Taça de Portugal, verdadeira festa do Karting nacional, é nos dias de hoje um dos troféus mais cobiçados do ano. Esse facto deve-se não só por ser a prova que fecha a temporada, como também a possibilidade de conquistar tão valioso título numa prova única faz com que a presença de elevado número de participantes se faça sentir, o que contribui e em muito para um maior colorido de todo o evento.

Tendo começado a correr em 1983, venho acompanhando a modalidade muito de perto mesmo depois de ter passado para os automóveis em finais dos anos 80. Na realidade, o facto de desde 1998 possuir uma estrutura, leia-se equipa, que compete em Portugal e também internacionalmente, possibilita-me analisar este fenómeno de uma forma totalmente distinta da época em que somente competia.

Todos sabemos, ou pelo menos quase todos, como é vital o karting na formação de um piloto. Não irei alongar-me na importância que a modalidade tem tido, ao longo das últimas décadas, no lançamento de grande parte das estrelas mundiais do automobilismo. Esse é assunto por demais debatido e sobre o qual nada julgo vir acrescentar. Gostava, no entanto, de focalizar esse papel do karting e encaixá-lo à nossa realidade; A realidade lusa.

Nos últimos anos tenho travado conhecimento com muitos jovens, mais de duas dezenas já passaram pela minha equipa (CJT-Couceiro Junior Team), mas também por variadíssimos outros que chegam ao meu contacto, questionando-me sobre o que devem fazer para serem pilotos. Uma coisa é certa, é aqui (Karting) que tudo tem de começar para que os nossos pilotos possam olhar com outros olhos para uma carreira profissional no desporto automóvel.

Para vos dar um exemplo, tenho na minha estrutura miúdos desde os 9 aos 19 anos. Todos eles têm vindo a alcançar e a subir degraus na sua carreira desportiva, mas essencialmente todos aprendem desde muito cedo que para se ser piloto de competição, e especialmente para se ser campeão, não basta ser rápido, ou ser o melhor nisto ou naquilo. Para se ser campeão é necessário reunir uma série de atributos e nesse conjunto, sim, ser o melhor!

É por isso que tentamos que os nossos pilotos tenham bons conhecimentos técnicos, tenham uma boa conduta em pista ou uma boa preparação física. Saibam como falar com um jornalista e mesmo das suas obrigações com um sponsor. A rapidez, essa é a cereja do bolo que os irá catapultar para o sucesso.

Portugal vive, independentemente dos pontos mais ou menos positivos, um momento ímpar na sua história do desporto automóvel e o karting deverá estar a passar pela sua melhor fase de sempre. É certo que todos diremos que é ainda muito pouco, que muito está mal ou por fazer. Mas a verdade é simplesmente uma: O Karting é a modalidade do desporto motorizado praticado em Portugal mais evoluída e que mais próxima está das suas concorrentes internacionais. Basta visitar um Paddock de uma corrida nacional, presenciar uma prova ou analisar as prestações dos nossos pilotos, para facilmente nos apercebermos que é a mais pura das realidades.

Mas infelizmente não basta. Não nos chega ter estruturas altamente profissionalizadas, organizações de nível internacional ou pilotos de gabarito mundial para dizer que tudo está bem.

A nossa federação, no meu entender, tem vindo a ter um papel cuidado sobre este assunto e reunido consensos quanto ás necessidades primárias para uma crescente dinamização do Karting português. É bem verdade que sabe sempre a pouco, mas se as energias forem gastas somente a criticar o que está mal e não encaminhadas para a construção de uma modalidade mais forte, então aí nunca se atingirão os níveis que desejamos e que os nossos pilotos já mostraram ser merecedores.

Penso que deverão existir outros incentivos para os mais jovens e balizar os custos, principalmente nessas categorias. Não me assusta nada ter, nos escalões mais baixos (ex: dos 8 aos 12) categorias que nada tenham a ver com as suas parceiras internacionais e com homologações completamente distintas. Isto desde que haja, como é natural, um regulamento rígido e bem delineado.

Dir-me-ão alguns que desta forma os pilotos começam a perder desde cedo o contacto com a realidade internacional. É verdade. Mas acho que qualquer jovem que queira rumar para o Karting internacional está bem a tempo de o fazer a partir da categoria júnior (12 aos 15 anos).

Ponhamos as coisas desta forma:
Quantos ¿miúdos¿ não terminaram já as suas carreiras com 12 anos, porque os seus pais não têm forma de continuar a gastar budgets exorbitantes desde os seus 8 anos!?...
Pelo menos entre os 7 e os 12 acho que deveriam ser criadas duas categorias, como até agora (Cadete e Juvenil ou Sub-12), mas de cariz estritamente nacional.

Este será um passo, no meu entender, para mais crianças terem acesso á iniciação de competição no Karting.

E por falar em iniciação, uma palavra para as corridas de Lazer, que tanto furor têm feito em Portugal na última década.

Sem dúvida que o crescendo de corridas de lazer ou para empresas somente veio apresentar a um público muito mais vasto o nome ou a modalidade Karting. Esse factor foi muito importante pois, todos sabemos, que não é fácil promover uma disciplina com custos tão elevados e por isso com retornos do investimento sempre muito difíceis de atingir. Mas, à nossa boa maneira, conseguimos transformar aquele que seria um veículo promocional por excelência, num verdadeiro parasita do Karting como vertente competitiva.

Vejamos:
Todos sabemos que competição, no verdadeiro termo da palavra, requer o seguimento de parâmetros rígidos e por isso existem normas, categorias e pilotos a disputarem os campeonatos nacionais e mesmo internacionais.

Sempre fui um acérrimo defensor das provas de karting lazer como forma de melhor promover o desporto motorizado e em particular o karting profissional. Estranhei, por isso, quando essas referidas provas de lazer começaram a tomar proporções exageradas, não em termos promocionais, pois isso foi sempre o que se pretendeu, mas sim em termos competitivos.

Culpa de quem?
De todos nós, intervenientes no fenómeno desportivo motorizado; Em primeiro lugar, de alguns pilotos profissionais ou licenciados de há muito que começaram a encontrar neste tipo de provas forma de mostrarem os seus dotes... às vezes de forma um pouco exagerada! Qual a necessidade de um piloto X ou Y fazer um ultrapassagem histórica a uma apresentadora de televisão ou actor de cinema, por vezes até com alguma agressividade?! Será que é simplesmente para acalmar o seu ego?

Depois, por parte da própria federação que permitiu que esses mesmos pilotos começassem a competir regularmente nesse tipo de provas... quando o fundamento das mesmas era o de fazer uma festa e não uma competição.

Nos dias de hoje chegamos a presenciar equipas com massagistas, mecânicos, preparadores, pseudo-pilotos com atitudes de verdadeiras vedetas e, pior, o cariz inicial de tais competições quase se extinguiu.

Penso sinceramente que a atitude nacional de variadíssimas vezes começarmos a casa pelo telhado tem de ser mudada, sob pena de acabarmos com uma escola/linha de formação dos nossos pilotos. Refiro-me á forma como tem sido vista a formação de um piloto em Portugal e à resposta que tarda em não aparecer por parte de todos nós:

Queremos ter uma verdadeira formação de pilotos em Portugal? Às vezes parece-me que poucos querem responder positivamente a esta pergunta.

Já me alonguei um pouco, como é normal, por isso deixo para o meu próximo texto uma minha abordagem sobre os troféus e corridas de lazer nos automóveis. Que penso ser também um ponto importante das corridas em Portugal.

Até lá, um abraço,
Pedro Couceiro
Terça-Feira, 21 de Novembro de 2006