ÉPOCA 1995 – REVISTA SLICK
Parece ter sido ontem, quando escrevi para todos os leitores da revista Slick a crónica do meu ano de 1994. O tempo passa depressa. Tão depressa que quando o Marco Barbosa me telefonou a semana passada para em algumas linhas fazer um balanço de 1995, eu nem queria acreditar que mais uma época tinha passado e que 1996 era já o ano em que pensar.
Se bem que na competição automóvel estamos habituados a andar sempre a grandes velocidades e a tornear grandes problemas, o Tempo é mesmo aquele que mais dificuldades nos causa. Quer seja por o tentarmos bater, quando lutamos por uma posição melhor, quer seja por querermos decidir algo importante, em que o Tempo é sem dúvida a grande barreira. Este ponto tem sido fundamental no que se relaciona com a minha época que se avizinha.

Como podem imaginar, a Fórmula 3000 é um passo muito delicado na carreira de um piloto, devendo-se ponderar muito bem todas as fases associadas a um projecto desta dimensão bem como utilizar o tal Tempo de uma forma correcta. Esse factor poderá ser determinante na época ou mesmo na carreira do piloto. Tudo tem estado a correr sobre rodas faltando-me somente decidir a equipa com que realizarei o campeonato deste ano. Até aqui o Tempo terá de me ajudar para fazer a melhor escolha possível !

Mas regressemos a 1995.
Quando no início do ano ingressei na equipa oficial Fiat, era sem sombra de dúvidas a equipa a abater, pelo que julguei puder lutar pelo título. Isso viria a confirmar-se errado, pois o motor Fiat ao contrário de 1994 estava ultrapassado pelos desenvolvidos Opel, que durante todo o Inverno tinha feito um trabalho notável. Houve sempre uma esperança que o motor Alfa-Romeo pudesse equipar os nossos carros, mas devido a políticas internas tal nunca viria a suceder e tivemos que realizar toda a época de 1995 com um motor abaixo das performances esperadas. Não foi por isso que a equipa se mostrou menos interessada em lutar pelas melhores posições, mas ser o melhor representante dentro dos carros equipados com propulsores Italianos era agora o grande objectivo para nós. Tal veio a suceder em quase todas as provas, tendo sido o melhor representante da marca no final do Campeonato com o 5º lugar alcançado.


No início do ano fizemos vários milhares de quilómetros, não a treinar mas sim para puder treinar, uma vez tanto na Alemanha, na Áustria, na Bélgica ou mesmo na ex-Yuguslávia as condições climatéricas não eram favoráveis.
Acabámos por iniciar o campeonato com cerca de metade dos treinos previstos, pelo a primeira corrida era tida por nós como um embate muito difícil.
Estávamos redondamente enganados, pois em Hockenheim efectuamos das melhores provas do ano, obtendo um terceiro e um quarto lugar respectivamente.
Daí para a frente seria um combater constantemente com as baixas prestações do motor Fiat e tentar minimizar todos os pontos negativos inerentes a este facto.
Conseguimos durante o ano algumas boas prestações como em Avus-Berlin, no Mónaco ou em Singen onde por duas vezes acompanhei o Fontana e o Schumacher no segundo lugar do pódio. Este terá sido o ultimo resultado digno de registo da nossa equipa, pois nas ultimas duas provas de 95 raramente conseguimos passar do 5º lugar.

A ultima prova do ano, em Macau, foi apesar de tudo, uma boa prova para mim e para o Team RSM-SICAL, uma vez que depois de vários problemas nos treinos viria a efectuar uma boa 1ªManga, com tempos por volta muito satisfatórios. Infelizmente na partida para a 2ªManga vi-me envolvido num dos maiores acidentes de sempre da Fórmula 3, pelo que a minha deslocação ao Oriente terminaria por aí.
Não poderia terminar este balanço de 1995, sem fazer referência à minha participação na corrida Portuguesa do DTM/ITC. Correr sob as cores da Alfa-Romeo foi para mim uma grande honra, somente possível graças ao empenho da SGA-Alfa-Romeo, Sical, Galp, Marlboro e BCP-Nova Rede. Os meus objectivos para esta prova foram em grande parte alcançados, uma vez que consegui uma boa adaptação ao carro e à equipa. O ter andado sempre muito perto de dois companheiros de equipa como o eram o C.Danner e o M.Alboreto foi muito importante para mim, pois para além de ter aprendido muito, mostrei sempre o meu bom andamento.

Será sem dúvida um campeonato em que gostaria de correr num futuro próximo.
Quero finalmente enviar um abraço muito especial aos membros desta revista bem como para todos os leitores e amantes do desporto motorizado.
Até para o ano.

Quarta-Feira, 29 de Novembro de 1995